Palestinos deslocados no sul de Gaza querem trégua para voltar para casa

Palestinos deslocados no sul de Gaza querem trégua para voltar para casa

Israel e Hamas anunciaram a conclusão de um acordo para a libertação de reféns em troca de prisioneiros

AFP

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O acordo para trocar reféns israelenses por prisioneiros não convenceu os deslocados em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza. Exaustos pela guerra, eles não podem voltar para suas casas.

Maysara Assabagh teve de fugir de sua casa no norte da Faixa de Gaza, devastada por bombardeios e palco de uma grave crise humanitária. Assim como ele, mais de 1,7 milhão de pessoas ficaram deslocadas na Faixa de Gaza, que tem uma população de 2,4 milhões de habitantes.

"De que trégua estão falando?", diz ele, exigindo o retorno dos deslocadas para o norte.

Exausto, encontrou refúgio no hospital Nasser, em Khan Yunis, que abriga cerca de 35 mil deslocados.

"Não queremos uma trégua para a entrada de ajuda. Queremos voltar para casa", insiste.

"Toda esta guerra é uma injustiça", acrescenta.

Israel e o movimento islamista palestino Hamas anunciaram na quarta-feira a conclusão de um acordo para a libertação de 50 reféns detidos na Faixa de Gaza em troca de 150 prisioneiros palestinos e de uma trégua de quatro dias.

Foi o primeiro sinal de trégua desde o início da guerra, em 7 de outubro.

Yasser Al Houwaiti, de 55 anos, considera a trégua uma simples "cortina de fumaça, atrás da qual a guerra será retomada".

Deslocados da Cidade de Gaza vivem em um barracão no hospital Nasser: "Hoje suportamos o sofrimento da guerra e amanhã o das nossas casas destruídas. Onde vamos viver e como vamos nos reconstruir?", pergunta.

Perto do hospital Nasser, vários deslocados procuram algo para comer nas bancas de um mercado popular, em meio a uma séria escassez de alimentos e água.

A trégua é suficiente apenas "para retirar os nossos mártires das ruas e dos escombros. Não queremos uma trégua para trazer ajuda. Queremos um cessar-fogo completo e o nosso retorno às nossas casas", afirma Houwaiti.

"Vitória"

A guerra foi iniciada pelo ataque sem precedentes do Hamas em solo israelense a partir de Gaza, que o movimento palestino governa desde 2007.

Segundo as autoridades israelenses, pelo menos 1.200 pessoas foram mortas, a maioria civis, e cerca de 240 foram levadas para Gaza.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou bombardeios incessantes da Faixa de Gaza. O Exército israelense também avança com uma ofensiva terrestre desde o final de outubro.

Segundo o governo do Hamas, mais de 14 mil pessoas foram mortas em bombardeios de Israel na Faixa de Gaza desde o início da guerra, incluindo mais de 5.800 menores.

Salma Qassem, de 55 anos e deslocada de Bait Hanun, também quer voltar para sua casa, no norte do pequeno território.

"O que importa para mim é quando poderemos voltar para casa", afirma. "Mesmo que voltemos, para onde iremos e onde viveremos? Destruíram as nossas casas", acrescenta.

"Nossos filhos estão doentes devido ao frio, falta de comida e água, sem remédios. As doenças se propagam com o lixo acumulado e falta de água potável", lamenta.

O Catar, um dos mediadores do acordo, indicou que a pausa humanitária duraria "quatro dias, com possibilidade de prorrogação", e deverá permitir a entrada de "um maior número de comboios humanitários e de ajuda de emergência, incluindo combustível".

Israel anunciou que após a trégua retomará os combates.


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