Palestinos se mobilizam após Trump reconhecer Jerusalém como capital de Israel

Palestinos se mobilizam após Trump reconhecer Jerusalém como capital de Israel

Durante protesto, soldados israelenses queimaram retrato do presidente americano

AFP

Durante protesto, soldados israelenses queimaram retrato do presidente americano

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Palestinos enfurecidos entraram em confronto com soldados israelenses e queimaram o retrato de Donald Trump nesta quinta-feira para protestar contra a decisão unilateral e potencialmente explosiva do presidente americano de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.

Mais de 20 palestinos ficaram feridos por balas de borracha ou balas verdadeiras em distúrbios registrados em toda a Cisjordânia e na Faixa de Gaza, territórios separados que deveriam foram um dia um Estado independente, segundo os serviços de emergência palestinos.

Neste contexto de tensão, o movimento islamita Hamas convocou uma nova sublevação palestina, conhecida como "intifada", enquanto vários grupos palestino convocaram uma greve geral. "Não se pode enfrentar a política sionista dos Estados Unidos mais do que lançando uma nova intifada", disse o chefe de Hamas, Ismail Haniyeh, em um discurso
feito em Gaza.

Os dirigentes palestinos reivindicam Jerusalém Oriental, ocupado e anexado por Israel em 1967, como a capital do Estado que aspiram. Entretanto, Israel considera que toda Jerusalém, tanto o leste como o oeste, é sua capital "eterna e indivisível".

Até agora a comunidade internacional não quis reconhecer Jerusalém como capital, uma questão muito delicada e considerada chave no processo de paz. Em Jerusalém Oriental, a parte palestina da cidade, considerada como ocupada pela comunidade internacional, as lojas e as escolas foram fechadas nesta quinta-feira por uma greve convocada por grupos palestinos.

Jovens palestinos e soldados israelenses entraram em confronto em Hebron, no Sul da Cisjordânica, e em Ramallah, a capital política palestina. Belém, Qalqilya e os arredores de Ramallah também foram palco de distúrbios. "Estamos aqui para rejeitar a decisão de Trump", exclamou Abdallah al-Khalil, 17 anos, durante um protesto de centenas de pessoas em Ramallah. "Jerusalém é uma capital árabe e palestina, não a capital do ocupante", ela é cara aos palestinos "por causa da mesquita de Al-Aqsa e do Santo Sepulcro, toda a nossa história está ali", ressaltou.

Apesar do alerta de muitos de seus sócios, o presidente americano Donald Trump rompeu na quarta-feira com a política de seus antecessores e anunciou o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, ordenando o futuro traslado a essa cidade da embaixada americana, que agora está em Tel Aviv, uma decisão que poderia ter consequências imprevisíveis.

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, expressou temores de um retorno "aos tempos sombrios", enquanto a Rússia disse estar "muito preocupada".

"Círculo de fogo"

Analistas e observadores temem que a decisão de Trump abra um novo conflito pelo status dessa cidade, onde há lugares santos judeus, cristãos e muçulmanos. A decisão colocará a região "em um círculo de fogo", advertiu o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que quer mobilizar o mundo muçulmano. Até a Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos, criticou o ato, qualificando-o de "irresponsável".

O reconhecimento de Jerusalém enfureceu os líderes da Autoridade Palestina, a entidade reconhecida internacionalmente como prefiguração de um futuro Estado palestino independente. Já o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu saudou o "dia histórico". "O presidente Trump entrou para sempre na história de nossa capital", disse na quinta-feira.

A decisão coloca em xeque o papel histórico de mediador dos Estados Unidos como mediador de paz, lamentou o presidente palestino Mahmud Abbas. Em sua chegada à Casa Branca, Trump prometeu buscar um acordo diplomático, mas os esforços de sua administração não tiveram resultado até agora. "Os Estados Unidos continuam determinados a ajudar a facilitar um acordo de paz aceitável para as duas partes", assegurou Trump. "Como eu poderia me sentar à mesa com aqueles que me impõem o futuro de Jerusalém como capital de Israel?", disse o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erakat.

Trump garantiu que reconhecer Jerusalém como capital não significa pronunciar-se sobre o "status final" da cidade em negociações com os palestinos. Os palestinos convocaram "três dias de fúria" a partir de quarta-feira, quando milhares de pessoas foram às ruas na Faixa de Gaza gritando "Morra América!" e "Morra Israel!" Para sexta-feira, dia da tradicional oração semanal dos muçulmanos, são esperadas novas manifestações em massa.

Também na sexta o Conselho de Segurança da ONU, a pedido de oito países - entre eles Egito, França e Reino Unido - se reunirá em caráter de urgência para tratar a questão.


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