Para acalmar os mercados, Londres suspende medidas fiscais enquanto Truss luta para sobreviver

Para acalmar os mercados, Londres suspende medidas fiscais enquanto Truss luta para sobreviver

Ministro das Finanças afirmou que decisões servirão para dar confiança e estabilidade ao Reino Unido

AFP

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Buscando urgentemente acalmar os mercados financeiros em meio ao caos, o novo ministro das Finanças do Reino Unido anunciou nesta segunda-feira (17) a remoção de "quase todas as medidas fiscais" introduzidas três semanas antes pelo governo de Liz Truss, cuja sobrevivência política está ameaçada. Jeremy Hunt, nomeado na sexta-feira imediatamente após a demissão do ultraliberal Kwasi Kwarteng - que permaneceu no cargo por pouco mais de um mês - fez o anúncio em um discurso transmitido na televisão, antes de dar explicações à tarde na Câmara dos Comuns em Londres.

Embora isso vá contra as regras parlamentares, ele explicou que obteve autorização da Câmara "para reduzir as especulações contraproducentes" sobre "decisões sensíveis para o mercado", ao qual é necessário "dar confiança e estabilidade". Os mercados financeiros britânicos foram abalados por um grande nervosismo e volatilidade desde que Truss e Kwarteng apresentaram seu controverso pacote econômico em 23 de setembro.

O pacote combinava ajuda pública significativa às contas de energia e fortes cortes de impostos, mas não incluía nada para financiá-lo além de aumentar a já elevada dívida pública britânica. Dando uma dramática guinada de 180 graus e enfraquecendo ainda mais Truss, que permanece como primeira-ministra, mas não tem mais nenhum poder real, Hunt anunciou: "reverteremos quase todas as medidas fiscais anunciadas (...) três semanas atrás".

Entre suas principais decisões, a ajuda às famílias para pagar as contas de energia caras será limitada a seis meses, até abril, em vez dos dois anos prometidos por Truss e Kwarteng. Depois de adiantar essas mudanças, Hunt apresentará, conforme planejado inicialmente, seu plano orçamentário completo no dia 31 de outubro, juntamente com as previsões para a economia britânica feitas pelo órgão público OBR.

Truss, na corda bamba

Truss, cada vez mais questionada por todos, deu uma coletiva de imprensa desastrosa na sexta-feira para anunciar sua decisão de mudar seu ministro das Finanças e modificar suas controversas medidas fiscais. Parecendo tensa para a imprensa, ela se esquivou de perguntas sobre sua própria renúncia e se retirou depois de 8 minutos. Após esse novo golpe a sua credibilidade, a chefe de Governo deve se reunir na tarde desta segunda-feira com os deputados de seu Partido Conservador para tentar convencê-los a mantê-la no cargo.

Segundo a imprensa britânica, vários deputados conservadores vêm cogitando nomes para substituí-la há dias. O jornal Times listou nesta segunda quem poderia substituí-la em Downing Street. Truss é a quarta primeira-ministra conservadora do Reino Unido desde o referendo do Brexit em 2016, mas várias figuras da direita britânica opinaram publicamente que ela deveria renunciar, após apenas 40 dias no cargo.

Mercados tranquilizados?

Apresentado em 23 de setembro, o plano econômico de Truss e Kwarteng semeou o caos nos mercados financeiros, temendo que as finanças públicas britânicas descarrilassem. A libra caiu e o custo da dívida pública disparou, tornando mais caros os juros de empréstimos a famílias e empresas. O Banco da Inglaterra precisou intervir para evitar que a situação se transformasse em uma crise financeira, com um programa maciço de compra de dívida de longo prazo que terminou na sexta-feira.

Em um sinal de que os anúncios de Hunt para garantir a estabilidade das finanças públicas do Reino Unido podem tranquilizar os mercados, mesmo antes de seu discurso na televisão, a libra subiu 1,08% em relação ao dólar nesta segunda-feira, sendo negociada a US$ 1,1293 às 06h20 (horário de Brasília).

As taxas de juro da dívida pública a 30 anos caíram para 4,48%, refletindo também uma resposta favorável dos investidores. Essa reação "sugere que a remoção de Kwasi Kwarteng e a nomeação de Jeremy Hunt ajudaram a estabilizar o mercado e restaurar a confiança no mercado da dívida pública do Reino Unido", disse Victoria Scholar, analista da Interactive Investors.

Hunt adiantou no fim de semana que teria que tomar medidas "duras", com aumentos de impostos e cortes de gastos em todos os ministérios, uma mudança radical do programa de Truss, defensora de uma política ultraliberal de baixa tributação para estimular o "crescimento econômico".


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