Paraguai vota em eleições presidenciais apertadas, em meio a denúncias de corrupção

Paraguai vota em eleições presidenciais apertadas, em meio a denúncias de corrupção

Cerca 4,8 milhões de eleitores paraguaios escolhem neste domingo novo presidente e formação do Congresso

AFP

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Os paraguaios elegem neste domingo, 30, um novo presidente e Congresso em eleições com resultados incertos, marcadas por denúncias de corrupção contra altas figuras do partido governista, e nas quais gravitam importantes decisões de política externa, como a relação com Taiwan e a China. Santiago Peña, um economista de 44 anos, tenta manter o poder nas mãos do Partido Colorado (conservador) contra Efraín Alegre, um advogado de 60 anos que lidera a coalizão de centro-esquerda Concertación Nacional (Acordo Nacional).

"Esperamos que o menos pior vença. Todos têm seus defeitos", disse à AFP Marta Fernández, 29 anos, com um toque de ceticismo, depois de votar no Colégio Nacional de Assunção, em um bairro de classe média da capital paraguaia.

No mesmo centro, Ana Barros, de 60 anos, declarou que espera uma mudança. "Tem que ter pelo menos esperança, que haja menos criminalidade. É o que eu espero como mãe, que os filhos estudem e tenham emprego."

Na zona de Bañado Sur, onde se erguem os bairros mais pobres que alagam a cada cheia do rio Paraguai, o ir e vir de pessoas, a pé ou de moto, não para. Muitos fazem fila em frente a uma sede política, em silêncio e com a carteira de identidade na mão. "Neste bairro há cerca de 12 mil eleitores. Aqui temos computadores e mostramos às pessoas como votar" com as máquinas eletrônicas, disse Víctor Hugo Fernández, um dos líderes locais. "Eu acredito que o candidato colorado vai ganhar. Vamos de casa em casa e percebemos que Peña tem muito mais aceitação", afirmou à AFP.

O Partido Colorado governou o Paraguai durante a maior parte das últimas sete décadas, sob a ditadura e sob a democracia, com uma breve interrupção durante o governo do esquerdista Fernando Lugo (2008-2012), que sofreu um impeachment um ano antes do fim de seu mandato. As últimas pesquisas mostram um empate técnico entre Peña e Alegre.

"Temos os atributos e as condições para que todos os paraguaios fiquem em melhor situação. Vamos votar com tranquilidade e alegria, para que as urnas sejam um lugar de harmonia", disse Peña minutos antes da abertura dos centros de votação.

Por sua vez, Alegre pediu aos paraguaios que votem "com calma". "Não desanimem. Todos nós temos que ir às urnas, quanto maior a participação, maior a legitimidade da democracia", disse. O candidato afirmou que pessoas armadas invadiram um centro de votação em Ybipitá, pequena cidade próxima à fronteira com o Brasil, denúncia indeferida pela polícia. Outra ocorrência ocorreu em Sapucai (sudeste), onde um delegado eleitoral foi ferido em uma briga.

O Paraguai possuiu 4,8 milhões de eleitores, em uma população de 7,5 milhões de pessoas. As urnas serão fechadas às 16h00 do horário local (17h00 de Brasília) e os resultados podem sair três horas depois, segundo funcionários da Justiça Eleitoral paraguaia.

 

"Significativamente corruptos"

A campanha eleitoral ocorreu simultaneamente com as sanções dos Estados Unidos contra alguns dos mais importantes líderes colorados, como o ex-presidente Horacio Cartes (2013-18), um rico empresário do setor do tabaco, presidente do partido e padrinho político de Peña. Designado em 2022 como "significativamente corrupto" pelo Departamento de Estado, que o proibiu de entrar nos Estados Unidos, ele foi sancionado em março pelo Tesouro.

"Essas acusações, de alguma forma, transformam as eleições em um plebiscito contra ou a favor da corrupção", opinou o analista político Sebastián Acha.

O Paraguai, no centro da América do Sul, é considerado um ponto de trânsito de drogas para Brasil e Argentina antes de sua saída para Europa e Ásia. Em 2022, o promotor Marcelo Pecci e o prefeito José Carlos Acevedo foram assassinados, em crimes atribuídos ao narcotráfico.

Embora o Paraguai tenha uma das economias que mais crescem na América Latina - com previsão de +4,5% para o PIB em 2023, segundo o Fundo Monetário Internacional - a pobreza atinge 24,7% da população, que sofre com enormes desigualdades. Peña propôs a criação de 500 mil empregos. Alegre defende a incorporação do setor informal, que abrange 40% dos trabalhadores.

Entre Taiwan e Jerusalém

Questões controversas de política externa também foram abordadas na campanha. Alegre disse que, se vencer, vai analisar a continuidade das relações diplomáticas do Paraguai com Taiwan, já que "significam a perda de um dos maiores mercados, a China".

Entretanto, Peña voltou a levantar a questão do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, anunciando a sua vontade de mudar novamente a sede da embaixada paraguaia para aquela cidade, uma medida que, em sintonia com Donald Trump, Cartes tinha tomado no final de seu governo e que Abdo reverteu. "O Estado de Israel reconhece Jerusalém como sua capital. A sede do Congresso está em Jerusalém, o presidente está em Jerusalém. Então, quem somos nós para questionar onde eles estabelecem sua própria capital?", disse Peña à AFP.


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