Pinochet encobriu caso de jovens queimados por militares
Jovens mortos participavam de protestos contra governo de ex-ditador
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Rojas morreu quatro dias depois, enquanto Quintana sobreviveu ao ataque com queimaduras em mais de 60% de seu corpo. Mas o ditador "disse ao general Stange que não acreditava no relatório e recusou-se a recebê-lo", segundo um informe do Departamento de Estado americano publicado quase três décadas depois pelos Arquivos de Segurança Nacional americanos.
Os jovens, que participavam de protestos contra a ditadura de Pinochet (1973-1990), foram espancados, presos, encharcados com gasolina e queimados vivos em um dos crimes mais hediondos da ditadura. De acordo com estas novas informações, após a rejeição de Pinochet, o exército aceitou o relatório da polícia e prometeu que o caso seria resolvido no prazo de 48 horas. Mas o que se seguiu foram trinta anos de impunidade por um suposto "pacto de silêncio" entre os militares, a intimidação de testemunhas e pressão sobre juízes e procuradores chilenos.
Na semana passada, um juiz chileno ordenou a detenção de 12 ex-militares envolvidos, graças ao testemunho de um ex-militar que colaborou com a justiça. O caso recebeu atenção especial nos Estados Unidos, uma vez que Rojas residia em Washington com sua mãe Veronica de Negri, uma exilada da ditadura, e chegou aos olhos do presidente Ronald Reagan.
Um relatório secreto da Casa Branca ao presidente, e também desclassificado, já apontava que a inteligência chilena "acusava militares de estar claramente envolvidos" no crime. De acordo com Peter Kornbluh, analista dos Arquivos de Segurança Nacional, o assassinato de Rojas atingiu as relações entre Washington e Santiago e contribuiu para a decisão posterior de Reagan de pressionar por um retorno à democracia em 1989.
O chanceler chileno, Haroldo Muñoz, declarou que esse caso era conhecido. "Não me surpreende porque conhecemos o chamado Caso Queimados e sabemos que houve um acobertamento por parte da Procuradoria Militar da época, basta ler os jornais e publicações daquele tempo", comentou à rádio local ADN.
"Houve testemunhas, vizinhos que viram tudo, que contaram a verdade e, no entanto, o juiz encarregado do caso não investigou e acolheu 100% a versão acobertada que entregou a ele na ocasião a Procuradoria Militar", concluiu. A ditadura de Pinochet fez mais de 3,2 mil vítimas, entre mortos e desaparecidos.