População chinesa cai pela primeira vez em 70 anos

População chinesa cai pela primeira vez em 70 anos

Número de nascimentos declinou em 2,5 milhões no ano passado

AFP

População chinesa em idade ativa (de 16 a 59 anos) reduziu em quase 5,5 milhões em 2017

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A China, o país mais populoso do mundo, sofreu em 2018 o primeiro declínio demográfico em pelo menos 70 anos, apesar do abandono da política do filho único, segundo especialistas. Os dados oficiais serão divulgados neste mês mas, sem esperá-los, o especialista Yi Fuxian, um pesquisador estabelecido nos Estados Unidos na Universidade de Wisconsin-Madison, estima que a população da China diminuiu no ano passado em 1,27 milhão de pessoas. Uma quantidade pequena se comparada com seus 1,39 bilhão de habitantes, mais de 6,5 vezes a população do Brasil, mas algo inédito na história da República Popular da China, fundada em 1949.

Depois de que o fundador do regime comunista, Mao Zedong, fomentou a natalidade, a China instaurou em 1979 a política do filho único, com frequência criticada por sua brutalidade. Mas diante do envelhecimento da população, o governo passou a autorizar, em 2016, todas as famílias a terem dois filhos. O problema: devido ao alto custo da educação, saúde e moradia, muitos casais preferem ficar com apenas um ou inclusive nenhum filho.

"Mudança histórica"

Consequentemente, o número de nascimentos caiu em 2,5 milhões no ano passado, calcula Yi Fuxian, enquanto as autoridades chinesas esperavam um aumento de 790 mil. O total de nascimentos, segundo ele, deveria ser de 10,31 milhões em 2018. Paralelamente, o número de falecimentos aumentou para 11,58 milhões, calcula o pesquisador, que baseia seus dados em estatísticas locais.

O ano passado representa "uma mudança histórica para a população chinesa", explicou Yi Fuxian à AFP, considerando que a tendência pode ser inclusive "irreversível", dada a diminuição do número de mulheres em idade fértil. "A população chinesa começou a cair pela primeira vez desde 1949, o problema do envelhecimento acelerou e o dinamismo da economia perdeu força", apontou. As pesquisas de Yi serão publicadas em um estudo realizado com o economista Su Jian, da Universidade de Pequim, com base em cifras da Comissão Nacional da Saúde.

"Crise demográfica"

A China entra em "uma crise demográfica", alarmou-se o economista Ren Zeping, do grupo imobiliário Evergrande. Espera-se que a Índia supere nos próximos anos a China como país mais populoso do planeta. A população chinesa em idade ativa (de 16 a 59 anos) reduziu em quase 5,5 milhões em 2017, sexto ano consecutivo de declínio, estabelecendo-se em 902 milhões de pessoas (65% da população total). Segundo projeções do governo, o número de pessoas de 60 anos ou mais deveria chegar a 487 milhões em 2050, ou seja, 35% da população, contra 241 milhões (17,3%) no fim de 2017.

A cifra de mulheres em idade fértil retrocederia mais de 39% durante os 10 próximos anos, segundo He Yafu, um demógrafo independente que considera verossímeis as projeções do professor Yi. Este último, que criticou durante muito tempo a política do filho único, insta agora o governo chinês a abolir o limite de dois filhos por família e a fomentar a natalidade com a ajuda de generosas licenças-paternidade e incentivos fiscais.

Se o regime comunista não intervir imediatamente, alertou, "a crise do envelhecimento será mais grave do que no Japão, e as perspectivas econômicas, ainda mais sombrias".

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