Primeiro-ministro do Sri Lanka toma posse para substituir presidente que fugiu para o exterior

Primeiro-ministro do Sri Lanka toma posse para substituir presidente que fugiu para o exterior

País é cenário de constantes protestos por conta de crise econômica

AFP

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O primeiro-ministro do Sri Lanka assumiu nesta sexta-feira como presidente interino para substituir o presidente demissionário Gotabaya Rajapaksa, cuja renúncia foi aceita pelo Parlamento depois de fugir do país em meio a protestos pela crise econômica que abala esta ilha ao sul da Índia.

Rajapaksa, cuja residência oficial foi invadida por manifestantes no sábado, anunciou sua renúncia na quinta-feira em Singapura, onde chegou depois de fugir do Sri Lanka para as Maldivas um dia antes. Ele é o primeiro chefe de Estado a renunciar desde que seu país optou por um regime presidencial em 1978.

"Gotabaya renunciou legalmente" a partir de quinta-feira, disse o presidente do Legislativo Mahinda Yapa Abeywardana à imprensa nesta sexta. Conforme previsto na Constituição, o primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, assumiu o cargo nesta sexta-feira como presidente interino para substituir o presidente demissionário.

Wickremesinghe, de 73 anos, foi empossado pelo presidente do Supremo Tribunal, Jayantha Jayasuriya, disse o gabinete do primeiro-ministro em comunicado. Por sua vez, o Parlamento do Sri Lanka elegerá um novo presidente na quarta-feira, 20 de julho, para completar o mandato até novembro de 2024, segundo o chefe legislativo.

De acordo com um comunicado de seu gabinete, as indicações podem ser apresentadas até terça-feira e os deputados devem votar em um novo chefe de Estado na quarta-feira. A ausência de um anúncio formal da renúncia de Rajapaksa causou cautela entre os manifestantes antigoverno, que saudaram a saída do presidente. "Eu me sinto e acho que a multidão aqui se sente muito feliz com o que aconteceu", disse o ativista Vraie Balthaazar à AFP. "Mas, ao mesmo tempo, acho que há uma sensação de apreensão, pelo menos até vermos a carta", acrescentou.

Visita privada à Singapura

Como presidente, Rajapaksa gozava de imunidade e decidiu que teria que ir ao exterior antes de renunciar para evitar a prisão. O ex-presidente das Maldivas, Mohamed Nasheed, teria participado nos bastidores de sua saída do Sri Lanka, após avisar que Rajapaksa seria assassinado se permanecesse lá.

Segundo fontes diplomáticas, os Estados Unidos lhe negaram o visto porque ele renunciou à cidadania americana em 2019 antes de concorrer à presidência. Singapura não será seu destino final, já que a cidade-Estado especificou que Rajapaksa estava lá em uma visita particular e "não pediu asilo".

Fontes próximas às autoridades de segurança do Sri Lanka acreditam que ele ficará em Singapura por um tempo antes de se mudar para os Emirados Árabes Unidos. A grave crise econômica levou o Sri Lanka a não pagar sua dívida externa de 51 bilhões de dólares e está em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um acordo de resgate.

Mas as negociações culminaram na turbulência política. Um porta-voz do FMI disse na quinta-feira que o FMI esperava que a questão fosse resolvida antes de retomar as negociações. A ilha está ficando sem combustível, então o governo ordenou o fechamento de escritórios e escolas não essenciais para reduzir o transporte.

Ceder à pressão popular

Em Colombo, manifestantes desocuparam vários prédios públicos que invadiram nos últimos dias depois que Wickremesinghe ordenou que as forças de segurança restabelecessem a ordem e declarassem estado de emergência. "Estamos nos retirando pacificamente do Palácio Presidencial, da Secretaria Presidencial e do gabinete do primeiro-ministro com efeito imediato, mas a luta continua", anunciou uma porta-voz dos manifestantes na quinta-feira.

Testemunhas disseram que dezenas de ativistas deixaram o escritório de Wickremesinghe quando agentes de segurança armados chegaram. A capital estava sob toque de recolher e veículos blindados patrulhavam alguns lugares.

A polícia disse que um soldado e um policial ficaram feridos em confrontos com manifestantes do lado de fora do Parlamento, quando as forças de segurança impediram uma tentativa de invadir o prédio. Os manifestantes também deixaram os estúdios da principal televisão estatal, que ocuparam na quarta-feira.

O principal hospital de Colombo informou que cerca de 85 pessoas foram internadas com ferimentos, enquanto um homem morreu sufocado com gás lacrimogêneo disparado contra o gabinete do primeiro-ministro.


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