Putin assina acordo de anexação de quatro regiões ucranianas

Putin assina acordo de anexação de quatro regiões ucranianas

Cerimônia ratificou a anexação Donetsk e Luhansk, no leste; Kherson e Zaporizhzhia, no sul

AFP

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O presidente russo Vladimir Putin assinou nesta sexta-feira (30) a anexação de quatro regiões da Ucrânia à Rússia em uma cerimônia no Kremlin na presença dos líderes pró-russos desses territórios controlados total, ou parcialmente, por Moscou. Os quatro líderes e Putin assinaram os documentos de anexação diante de um público composto por membros do governo, deputados, senadores e outros membros da elite política, antes de se darem as mãos e gritarem "Rússia!", junto com os demais presentes

Após os referendos realizados de 23 a 27 de setembro, a cerimônia ratificou a anexação Donetsk e Luhansk, no leste; Kherson e Zaporizhzhia, no sul. "Os habitantes de Lugansk e Donetsk, Kherson e Zaporizhia se tornam nossos cidadãos para sempre", disse Putin. "As pessoas votaram pelo nosso futuro comum", acrescentou.

Putin também mandou recado para a Ucrânia. "Instamos ao regime de Kiev que cesse imediatamente os disparos, todas as hostilidades e volte à mesa de negociações", expressou Putin a funcionários do governo, deputados e senadores e outros representantes do Estado no Kremlin.

Assinatura de decretos 

Em decretos publicados nesta quinta-feira à noite, Putin reconheceu a independência das duas regiões meridionais. "Ordeno o reconhecimento da soberania do Estado e a independência" de Zaporizhzhia e Kherson, indicou.

Em fevereiro, pouco antes de iniciar a ofensiva na Ucrânia, Moscou fez o mesmo com Donetsk e Lugansk, controladas parcialmente por separatistas pró-russos desde 2014.

A capital russa prepara uma festa para celebrar a anexação das quatro regiões ucranianas, que acontecerá após a organização de "referendos" nas localidades. Grande parte do centro de Moscou permanecerá fechado aos veículos. De acordo com a imprensa russa, um show será organizado diante da sede da presidência, e Putin poderá, inclusive, aparecer.

As autoridades designadas pela Rússia nas quatro regiões ucranianas desembarcaram na quarta-feira à noite em Moscou, segundo as agências de notícias russas. Nesta quinta, o presidente Putin afirmou que os conflitos em países da antiga URSS, incluindo o da Ucrânia, são, "evidentemente",  o "resultado da queda da União Soviética".

Segundo ele, está-se formando, neste momento, "uma ordem mundial mais justa", por meio de um "processo difícil".

Em resposta à organização do evento, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, anunciou a realização de uma reunião "urgente", amanhã, de seu Conselho de Segurança Nacional. Longe de depor as armas, Kiev pede mais ajuda militar aos aliados para dar continuidade à contraofensiva nos territórios sob controle russo.

Um pedido ao qual o Senado dos Estados Unidos respondeu aprovando nesta quinta-feira um novo pacote de mais de US$ 12 bilhões, que inclui US$ 3 bilhões para armas, suprimentos e salários para o exército ucraniano.

Mesmo cenário da Crimeia

A Rússia acelerou o processo de anexação das regiões, após a grande contraofensiva de Kiev.  A Ucrânia e os países ocidentais chamaram as votações de "farsas" e já afirmaram que não vão reconhecer a anexação dos territórios.

"Qualquer decisão de proceder à anexação das regiões ucranianas de Donesk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia não terá qualquer valor legal e merece ser condenada (...) É uma escalada perigosa. Isso não tem lugar no mundo moderno", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta quinta.

O Conselho de Segurança da ONU votará nesta sexta-feira uma resolução condenando esses referendos, indicou a presidência francesa deste órgão, embora a medida não terá chance de ser aprovada pelo poder de veto da Rússia.

A Rússia segue o mesmo roteiro da anexação em 2014 da Crimeia, uma península do sul da Ucrânia, que também não foi reconhecida pela comunidade internacional. A união dos territórios ucranianos representa uma escalada na ofensiva da Rússia.

Várias autoridades e analistas russos afirmaram que, quando estas áreas forem anexadas e consideradas por Moscou como parte de seu território, a Rússia poderá usar armas nucleares para "defendê-las".

Na semana passada, Putin declarou que a Rússia estava disposta a recorrer a "todos os meios" de seu arsenal para "defender" seu território.

Combates

Depois de recuperar grande parte do nordeste de seu território, a Ucrânia parece preparar uma operação para tentar reconquistar Lyman, cidade da região de Donetsk e importante centro ferroviário que o Exército russo controla desde maio. As tropas ucranianas mantêm silêncio sobre as operações em curso, mas as autoridades separatistas na região já admitiram a dificuldade dos combates.

"O inimigo executa ataques para nos cercar", declarou Alexei Nikonorov, funcionário do governo de ocupação de Donetsk, a um canal russo. 

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um centro de pesquisas com sede nos Estados Unidos, destacou que "combates significativos" estão acontecendo na região. A reconquista de Lyman permitiria a Kiev avançar tanto na região de Donetsk como na vizinha Luhansk.

Ao mesmo tempo, as forças ucranianas recuperaram o controle da totalidade da cidade de Kupiansk, no nordeste, e expulsaram tropas russas da margem oriental do rio Oskil, constatou um repórter da AFP.

Os russos continuam bombardeando várias cidades ucranianas. Ao menos cinco civis morreram na parte sob controle ucraniano da região de Donetsk, e uma criança faleceu durante a noite em Dnipro (leste).

"Melhor que matar gente"

Na Rússia, prossegue a mobilização de centenas de milhares de reservistas para reforçar o Exército, assim como o êxodo de dezenas de milhares de russos que temem a convocação militar.

"Foi muito difícil deixar tudo para trás. Minha casa, minha pátria, minha família. Mas é melhor que matar pessoas", disse à AFP um jovem de 20 anos, que entrou na Mongólia pela fronteira terrestre e preferiu não revelar o nome.

Diante do elevado fluxo de chegadas procedentes da Rússia, a Finlândia anunciou que, a partir da meia-noite (18h de Brasília), fechará suas fronteiras aos cidadãos russos que têm visto de turismo europeu para o espaço Schengen.


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