Rússia reitera ameaça nuclear no último dia de referendos de anexação dos territórios ucranianos

Rússia reitera ameaça nuclear no último dia de referendos de anexação dos territórios ucranianos

votações são consideradas "farsas" por Kiev e seus aliados

AFP

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A Rússia reiterou nesta terça-feira (27) a ameaça de utilizar armas nucleares, no último dia dos referendos de anexação de quatro territórios sob seu controle, total ou parcial na Ucrânia. As votações são consideradas "farsas" por Kiev e seus aliados.

O ex-presidente russo e atual número dois do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, afirmou que Moscou defenderá os novos territórios que pretende incorporar após as votações com o uso de "todas as armas russas, incluindo as armas estratégicas". "Eu vou repetir mais uma vez para os ouvidos surdos. A Rússia tem o direito de usar a arma atômica, caso seja necessário", disse.

Ao ser questionado sobre as declarações de Medvedev, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, destacou que as mesmas coincidem com a "doutrina militar" da Rússia. "A situação legal mudará radicalmente do ponto de vista do direito internacional e também terá consequências sobre a segurança dos territórios", disse Peskov.

A ameaça nuclear que preocupa o Ocidente coincide com o último dia dos referendos nas regiões separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk (leste), assim como nas regiões de Kherson e Zaporizhzhia (sul), sob ocupação russa.

As votações foram organizadas como resposta à contraofensiva de Kiev, que com o apoio das armas fornecidas pelas potências ocidentais recuperou milhares de quilômetros quadrados dos russos desde o início de setembro, e recordam a estratégia utilizada para a anexação da Crimeia em 2014.

As cinco regiões representam pouco mais de 20% da superfície ucraniana. Nesta terça-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que os referendos pretendem "salvar as populações" que moram nestes territórios.

Êxodo de russos

Os países do G7 prometeram nunca reconhecer os resultados. O governo dos Estados Unidos citou uma resposta "rápida e severa" por meio de sanções econômicas adicionais. A UE destacou que considera os referendos de anexação "ilegais" e "ilegítimos". Também advertiu que as pessoas que colaboraram em sua organização serão alvos de sanções.

A China, aliado importante da Rússia, não criticou abertamente os referendos, mas pediu o respeito à "integridade territorial de todos os países". Nenhuma crítica ou ameaça parece abalar Moscou, que organizou os referendos às pressas, em um momento de vitórias militares ucranianas, com a abertura de centenas de locais de votação nos quatro territórios e na Rússia - para permitir o voto dos deslocados pelo conflito.

As autoridades pró-Rússia informaram que na terça-feira à noite ou nos próximos dias serão anunciados "resultados provisórios". Em seguida, o Parlamento russo deve aprovar um texto para formalizar a integração das quatro regiões

No plano diplomático, a ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, viajou a Kiev nesta terça-feira para expressar apoio à Ucrânia e para uma reunião com o presidente Volodymyr Zelensky.

Na atual fase do conflito, a Rússia anunciou uma mobilização de reservistas que pretende recrutar 300.000 soldados, o que provocou um êxodo de russos para países vizinhos. Nesta terça-feira, a tendência foi confirmada por Geórgia e Cazaquistão. Os deslocamentos também são observados para países como Finlândia e Mongólia.

"Eu não sou bucha de canhão, não sou um assassino", disse à AFP Nikita, um russo de 23 anos que cruzou a fronteira com a Geórgia. O ministério da Defesa da Rússia informou que não solicitará a extradição dos milhares de homens que fugiram para países vizinhos para escapar do recrutamento.

Vazamentos no Nord Stream

No campo de batalha, a Ucrânia reivindicou avanços territoriais no leste e o governador de Kharkiv anunciou que as forças ucranianas recuperaram a localidade de Kupiansk-Vuzlovyi, "um dos centros logísticos e ferroviários" da região. A Rússia afirmou que provocou grandes perdas a seu adversário.

Nos últimos dias, os ataques russos com drones de fabricação iraniana aumentaram, em particular na cidade costeira de Odessa, um grande porto do Mar Negro, onde dois aparelhos atingiram na segunda-feira a infraestrutura militar e provocaram um grande incêndio, assim como a explosão de munições, de acordo com o comando militar.

Ao mesmo tempo, os dois gasodutos Nord Stream que transportam gás russo para a Europa e estão fora de operação, registraram vazamentos inexplicáveis, informaram Suécia e Dinamarca. A Rússia afirmou que está "extremamente preocupada" com as falhas e que não descarta "nenhuma hipótese", incluindo uma sabotagem.


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