Rússia responde aos EUA e suspende participação em tratado sobre armas nucleares

Rússia responde aos EUA e suspende participação em tratado sobre armas nucleares

Acordo foi negociado pelo então presidente americano Ronald Reagan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev em 1987

AFP

Putin anunciou que a Rússia vai suspender sua participação no tratado de armas nucleares de alcance intermediário

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O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou neste sábado (2) que seu país vai suspender sua participação no tratado INF sobre as armas nucleares de alcance, em resposta à retirada dos Estados Unidos do acordo. "Nossos parceiros americanos anunciaram a suspensão de sua participação no acordo, então nós também a suspenderemos", afirmou Putin durante um encontro com seus ministros das Relações Exteriores e da Defesa, Serguei Lavrov et Serguei Shoigu. "A Rússia não mais tomará a iniciativa de negociar o desarmamento com os Estados Unidos", disse o chefe de Estado, citado por agências de notícias russas. "Vamos esperar até que nossos parceiros (americanos) tenham amadurecido o suficiente para ter um diálogo de igual para igual e significativo sobre este assunto importante", acrescentou. 

Os Estados Unidos anunciaram na sexta-feira (1) sua retirada do tratado INF, concluído pela URSS e por Washington em 1987, durante a Guerra Fria, que abole o uso de mísseis terrestres com alcance de 500 a 5.500 km e encerrou o perigoso desenvolvimento de ogivas nucleares entre ambos. Para Washington, Moscou não soube abordar as preocupações geradas por seu novo sistema de mísseis de médio alcance que, segundo países ocidentais, vai contra o tratado.

"Amanhã (sábado), os Estados Unidos vão suspender suas obrigações sob o tratado INF e iniciarão o processo de retirada", que "será concluído em seis meses, a menos que a Rússia cumpra suas obrigações destruindo todos os seus mísseis, lançadores e equipamentos que violam o texto", declarou o presidente Donald Trump em um comunicado. "Os Estados Unidos aderiram completamente ao tratado INF durante mais de 30 anos, mas não seguiremos forçados a cumprir seus termos enquanto a Rússia deturpa as suas ações", ressaltou.

O chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, assinalou que seu país, que anunciou formalmente suas preocupações com relação ao acordo há dois meses, tratou o tema das supostas violações ao tratado mais de 30 vezes com a Rússia. Ele ressaltou, porém, que Washington está "pronto" para continuar discutindo com a Rússia sobre "a questão do desarmamento".

No início de dezembro, de Bruxelas e com o apoio da Otan, Mike Pompeo deu à Rússia o prazo de 60 dias, até 2 de fevereiro, para desmantelar seus novos mísseis de longo alcance. Caso contrário, ameaçou iniciar o procedimento de retirada de seis meses. Já Putin advertiu previamente que a retirada de Washington do INF levará a uma nova corrida armamentista. A Rússia nega as acusações "sem fundamento", censurando Washington de violar o tratado INF.

Os Estados Unidos decidiram se retirar do acordo "em resposta aos graves riscos que representam para a segurança Euro-Atlântica os testes ocultos, a produção e mobilização do sistema 9M729 por parte da Rússia", segundo defendeu a Otan. Alguns representantes europeus expressaram, não obstante, a sua preocupação pelo desaparecimento do tratado e confiaram que Washington e Moscou possam salvar o acordo antes que os Estados Unidos o abandone, em seis meses.

O tratado INF, negociado pelo então presidente americano Ronald Reagan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, proibiu o uso de mísseis com um alcance de entre 500 e 5.500 quilômetros e acabou com o perigoso desenvolvimento de ogivas nucleares entre ambos. "Os Estados Unidos aderiram completamente ao tratado INF durante mais de 30 anos, mas não seguiremos forçados a cumprir seus termos enquanto a Rússia deturpa as suas ações", declarou Trump em comunicado.

Rússia adverte sobre corrida armamentista

O presidente russo, Vladimir Putin, que manteve uma relação próxima com Trump, mas é fortemente questionado pela classe dirigente americana, declarou previamente que a retirada de Washington do INF levará a uma nova corrida armamentista. Antes do anúncio dos Estados Unidos, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, lamentou a decisão e disse à imprensa que Washington decidiu romper com o tratado "há muito tempo".

Em Bruxelas, a direção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) emitiu uma nota oficial na qual respaldou plenamente a decisão americana. Os Estados Unidos decidiram se retirar do acordo "em resposta aos graves riscos que representam para a segurança Euro-Atlântica os testes ocultos, a produção e mobilização do sistema 9M729 por parte da Rússia", assinalou a Otan em nota.

Alguns representantes europeus expressaram, não obstante, a sua preocupação pelo desaparecimento do tratado e confiaram que Washington e Moscou possam salvar o acordo antes que os Estados Unidos o abandone, em seis meses. "Para nós está claro que a Rússia violou o tratado, por isso devemos falar com a Rússia", indicou a chanceler alemã, Angela Merkel. A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, chamou as duas partes para que preservem o tratado mediante um "cumprimento completo". "Definitivamente não queremos ver o nosso continente convertido novamente em um campo de batalha ou onde outras superpotências se enfrentam. Isso pertence a uma história distante", expressou.

Trump também recebeu críticas em seu país, onde os democratas lamentaram que a política dos "Estados Unidos primeiro" defendida pelo presidente tenha tirado o país de outro acordo internacional. "A administração Trump está correndo o risco de uma corrida armamentista e socavando a segurança e a estabilidade internacionais", disse a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

Temor por outros tratados

O principal negociador de Moscou para o INF, o vice-primeiro-ministro Sergei Riabkov, advertiu que a queda do acordo poderia levar também à dissolução de outros pactos-chave para o controle de armas, como o New Start. Esse acordo, que limita a quantidade de ogivas nucleares em poder de Washington e Moscou, expira em 2021 e Riabkov assegurou que há uma "grande dúvida" sobre o que vai acontecer depois.

Um funcionário americano negou, sob anonimato, a ideia de que Washington esteja começando uma corrida armamentista e disse que levará tempo para saber como os Estados Unidos agiriam uma vez que deixassem o tratado. Em meio à tensão com a Rússia, as autoridades americanas de Defesa colocaram na mira o crescente gasto militar da China e a sua maior presença nas disputadas águas da Ásia. As autoridades americanas asseguram que cerca de 95% dos mísseis balístico e de cruzeiro da China, centrais na estratégia de defesa de Pequim, violariam o INF se a China tivesse que cumprir com seus termos.


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