Rússia x Ucrânia: entenda o que está em jogo com o rompimento da barragem de Kakhovka

Rússia x Ucrânia: entenda o que está em jogo com o rompimento da barragem de Kakhovka

Guerra de narrativas entre Kiev e Moscou sobre a responsabilidade pela tragédia tem relação com as consequência da inundação

R7

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A barragem de Kakhovka, em Kherson, região no sul do território ucraniano que está ocupada pela Rússia, foi parcialmente destruída na última terça-feira (6). Até o momento, nem Moscou e nem Kiev assumiram a responsabilidade pelo ocorrido e trocam acusações em uma guerra de porta-vozes.

O internacionalista Rodrigo Reis, do Instituto Global Attitude, explica que os dois países envolvidos diretamente no conflito estão fazendo um "guerra de narrativas" sobre o rompimento e as consequências da inundação.

O Ministério das Relações Exteriores russo divulgou uma nota pedindo à comunidade internacional que  "condene as ações criminosas das autoridades ucranianas" que representam uma "grave ameaça à segurança regional e global". A Rússia também disse à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que Kiev destruiu a represa com "enormes" ataques de artilharia.

Já as autoridades da Ucrânia acusaram as forças russas de terem explodido a represa para evitar uma contraofensiva das tropas da região no país. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu que "o mundo reaja" à destruição da represa.

Segundo Rodrigo, a barragem tem fatores estratégicos que justificariam uma ataque à estrutura para os dois lados.

"A Rússia ocupa a cidade na qual a represa está e tem interesse em barrar a ofensiva que está sendo planejada pela Ucrânia para a retomada do território. A região do reservatório poderia ser um caminho para o avanço das tropas ucranianas", explica o especialista.

Do lado ucraniano a população civil foi muito afetada pelas inundações. Estima-se que cerca de 40 vilarejos tenham sido prejudicados pela elevação do nível da água do rio Dnipro. Segundo o ministro de Energia ucraniano, German Galushchenko, mais de 20 mil lares ficaram sem eletricidade nesta semana. 

Apesar de sofrer as consequências da situação, Kiev também teria motivos para usar o reservatório de água como uma forma de afetar Moscou. "Essa represa é responsável pelo abastecimento de água da Crimeia, que foi invadida pela Rússia em 2014. Então, a destruição pode ser interpretada como uma forma de interromper o abastecimento de água de uma região controlada pela Rússia", diz Rodrigo.

O especialista explica que a convenção de Genebra proíbe ataque contra infraestruturas, como torres de eletricidade e reservatórios de água, por considerar que é um ataque direto aos civis que estão na zona de guerra. 

A Cruz Vermelha disse que participa das operações de evacuação em território ucraniano com cerca de 50 voluntários. A ajuda da ONU recebeu um reforço nesta semana.

Pelo menos quatros pessoas morreram e outras 13 estão desaparecidas devido às inundações. Na parte controlada por Kiev da região de Kherson, 2.412 pessoas foram retiradas de suas casas até agora.

Desastre nuclear

A barragem de Kakhovka está localizada fornece água para o resfriamento da central nuclear da usina de Zaporizhzhia, ocupada pela Rússia e localizada cerca de 150 quilômetros rio acima.

" A água era usada para abastecer a maior usina nuclear da Europa, ou seja, tem uma importância estratégica na questão de resfriamento. A princípio não coloca em risco nem a infraestrutura e nem a região, mas é algo para se ter bastante atenção", afirma Rodrigo.

O chefe da operadora ucraniana Ukrhydroenergo, Ihor Syrota, chegou a afirmar que as reservas de água não eram mais suficientes para resfriar os reatores.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), porém, confirmou à agência de notícias AFP, que a usina de Zaporizhzhia continuava recebendo água das reservas da barragem.

Após avaliação, constatou-se que a operação de bombeamento de água "deve poder continuar, mesmo que o nível caia abaixo dos 12,7 metros", declarou essa agência da ONU, em um comunicado.


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