Roger Waters no Brasil: polêmicas retornam com guerra no Oriente Médio

Roger Waters no Brasil: polêmicas retornam com guerra no Oriente Médio

Músico vem ao país na próxima semana, e se apresenta em Porto Alegre no dia 1º de novembro

Matheus Chaparini

Roger Waters se apresenta neste domingo, em Porto Alegre

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A duas semanas de Roger Waters se apresentar em Porto Alegre, em 1º de novembro, as polêmicas envolvendo o roqueiro voltam à tona em um momento de guerra entre Israel e Gaza. No mês passado, o filme "The Dark Side of Roger Waters", vinculado à comunidade judaica britânica, mostrou depoimentos de pessoas próximas a Waters acusando o artista de afirmações ofensivas ao povo judeu. Em defesa, ele nega que seja antissemita e afirma que o filme distorce suas posições sobre o Estado de Israel. 

No estádio da Arena do Grêmio, o baixista e fundador da banda Pink Floyd apresentará a turnê mundial "This is Not a Drill" (Isto Não É Um Exercício, em tradução livre). Outras cinco cidades brasileiras também vão receber a apresentação. No país, a turnê é cercada de controvérsias desde seu anúncio, em maio deste ano.

O pedido para barrar a entrada do artista no Brasil já chegou a ser feito pelo vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), sob acusações de antissemitismo e apologia ao nazismo. A notícia-crime da época não deu em nada e foi arquivada pelo Ministério Público Federal. O principal ponto de discussão em torno do show é um figurino utilizado pelo artista, semelhante aos uniformes da SS, força de elite da Alemanha nazista. É uma referência ao filme e disco "The Wall", que o artista afirma ser uma crítica ao nazismo e aos regime totalitários.

Há muitos anos, Waters é um defensor de causas humanitárias e da causa palestina, além de um crítico ferrenho ao governo israelense. Com o início de uma guerra em Israel e na Faixa de Gaza pouco antes da chegada da turnê ao país, o debate volta à tona em um contexto ainda mais sensível e delicado.

Comunidade judaica atenta 

Diretor jurídico da Federação Isrelita do RS, o advogado Daniel Báril avalia que se trata de um tema delicado. Báril afirma que Waters é um grande artista, mas que suas manifestações políticas têm “subido o tom recentemente” e “se valido de uma série de nuances” que geram uma apologia ao Estado de Israel.

“A Federação não pode ser contrária de antemão ao show, pode criticar shows realizados, como o de Berlim. Mas ela está atenta à temática, e os órgãos cabíveis também. Caso os shows no Brasil vão por um caminho não salutar, de discurso de ódio a minorias, providências serão tomadas e os envolvidos serão responsabilizados.”

Com o início do conflito entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas, Báril acredita que o artista vai atenuar o tom das críticas.

“Nesse contexto mais exacerbado, perigoso e sensível, espero que o artista tenha condição de dar um passo atrás e não entrar nessa seara, que entrou outrora, pois fica mais sensível no momento atual”, afirma.

Polêmica em torno do show

Durante as apresentações, Roger Waters veste um sobretudo de couro preto, que lembra os uniformes dos oficiais da SS, unidade de elite do regime nazista, e “atira” com uma metralhadora cenográfica contra o público. O figurino é uma referência ao filme The Wall, de 1982, dirigido por Alan Parker, com roteiro de Waters. Após o show, a polícia de Berlim abriu uma investigação contra o músico por incitação ao ódio.

Em uma publicação sobre a polêmica, justficou a performance e recordou que seu pai foi soldado do exército britânico e morreu em combate com o exército de Hitler.

"Os elementos de minha performance que foram questionados são claramente uma declaração em oposição ao fascismo, injustiça e fanatismo em todas as suas formas. As tentativas de retratar esses elementos como algo diferente são dissimuladas e politicamente motivadas. A representação de um demagogo fascista desequilibrado tem sido uma característica dos meus shows desde The Wall, do Pink Floyd, em 1980", escreveu o músico, após o show em Berlim.

Federação Palestina minimiza polêmica

Para Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil, existe uma sensibilidade desproporcional em relação ao povo israelense, em detrimento do povo palestino. Para Rabah, isso explica tamanha repercussão em torno da performance.

“Ele faz essa performance há quantas décadas? E a critica continua sendo contra o nazismo. Não vejo nada sério nisso”, afirma.

Após o arquivamento da notícia-crime pelo MPF, a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) celebrou a decisão nas redes sociais.

Rabah critica o que chama de uma tentativa de censura da Conib ao show e refuta o argumento da entidade. “O argumento é fake, a performance não tem nada a ver com o que alegam. O artista faz isso há muito tempo”, afirma.

Procedimento arquivado

O vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), o advogado Ary Bergher entrou com uma queixa-crime junto ao MPF tentando impedir a entrada de Waters no país em função do uso dos símbolos. Bergher chegou a afirmar que Waters “é um nazista que deve ser contido e preso”.

O procedimento foi arquivado em setembro deste ano. O MPF entendeu que “a forma escolhida para realizar a crítica aos regimes autoritários, à extrema-direita e ao Estado de Israel pode ser considerada chocante e de mau gosto, mas expressa o pensamento político do cantor na apresentação.”

Diante da informação de que teria sido enviada representação ao Ministério da Justiça, o ministro Flávio Dino se manifestou em suas redes sociais, afirmando não ter recebido representação. 

Dino afirmou que “autoridade administrativa não pode fazer censura prévia”, mas citando a lei 7716, que prevê que é, no Brasil, é crime sujeito à prisão em flagrante fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.”

Waters faz apelo por fim das mortes no Oriente Médio

No último fim de semana, Roger Waters publicou um vídeo em suas redes sociais falando sobre a guerra. “Meu coração está pesado”, começou Waters, que fez um apelo pelo fim das mortes em Israel e na Faixa de Gaza.

"Quase como se fôssemos surdos aos apelos da mãe natureza. Pela igualdade de direitos humanos, para os nossos irmãos e irmãs. Direitos Humanos iguais, sendo o único antídoto para a guerra", disse. No vídeo, Waters condenou crimes de guerra que tenham ocorrido no conflito e defendeu um cessar-fogo imediato e permanente.


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