Sobe para 39 o número de mortos em estação de trem na Ucrânia

Sobe para 39 o número de mortos em estação de trem na Ucrânia

Rússia nega responsabilidade pela morte dos civis

AFP

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Subiu para 39 o número de mortos em um ataque com foguetes nesta sexta-feira contra a estação de Kramatorsk, cidade do leste da Ucrânia, onde centenas de pessoas aguardavam um trem para deixar a região. Em frente à estação de Kramatorsk, havia vários carros carbonizados e os restos de um míssil. Por toda a parte, viam-se malas abandonadas, estilhaços de vidro e escombros. O interior da estação estava coberto de sangue, que se espalhava pela rua, devido ao movimento dos corpos. Outras 100 pessoas ficaram feridas. 

Mais cedo nesta sexta, um repórter da AFP havia estado na estação. Naquele momento, havia centenas de pessoas à espera de um trem para deixar a região, ameaçada por uma ofensiva russa de grande envergadura.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou o ataque desta sexta como um ato de "maldade sem limites" por parte da Rússia. "Como não têm força, nem coragem, para nos enfrentarem no campo de batalha, destroem, cinicamente, a população civil. É uma maldade sem limites. E, se isso não for punido, não vai parar nunca", declarou o presidente no aplicativo Telegram, denunciando os métodos "desumanos" das forças russas.

O Ministério russo da Defesa negou, por sua vez, ter lançado o ataque à estação de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, que deixou pelo menos 35 mortos. "Todas as declarações dos representantes do regime nacionalista em Kiev sobre o suposto 'ataque com foguete' realizado pela Rússia em 8 de abril na estação de trem da cidade de Kramatorsk são uma provocação e são absolutamente falsas", disse o ministério, conforme comunicado divulgado pela agência de notícias RIA Novosti.

"Ressaltamos, de maneira particular, que os mísseis táticos Tochka-U, cujos fragmentos foram encontrados nos arredores da estação de Kramatorsk e (cujas imagens) foram divulgadas por testemunhas, são utilizados apenas pelas Forças Armadas ucranianas", completou a nota.

A Rússia nega, de forma sistemática, a responsabilidade pelas mortes de civis no país vizinho, onde lançou uma grande ofensiva militar em 24 de fevereiro passado. O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, condenou "com firmeza" o ataque e acusou a Rússia de querer "fechar as rotas de retirada" de civis.

"Condeno com firmeza o ataque cego desta manhã a uma estação em #Kramatorsk por parte da Rússia, que matou dezenas de pessoas e deixou muitos feridos", tuitou Borrell. "Trata-se de uma nova tentativa de fechar as rotas de retirada para aqueles que fogem desta guerra injustificada e de causar sofrimento humano", acrescentou.

Na mesma rede social, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que é "horrível ver a Rússia atacar uma das principais estações usadas pelos civis que deixam a região onde a Rússia intensifica seu ataque".

"Escapar do inferno"

Há dias, as forças russas concentram suas operações no leste e no sul da Ucrânia, no desejo de criar um corredor entre a Crimeia - ocupada e anexada em 2014 por Moscou - e as regiões separatistas pró-russas de Donetsk e Luhansk, no Donbass ucraniano. Isso obriga milhares de civis a fugir para o oeste e para o norte. Em muitos casos, as retiradas são interrompidas por bombardeios. "Não é nenhum segredo. A batalha por Donbass será decisiva. O que já vivemos, todo esse horror, pode se multiplicar", alertou o governador de Luhansk, Sergii Gaidai.

Analistas consideram que o presidente russo, Vladimir Putin, quer assumir o controle de Donbass antes do desfile militar de 9 de maio. Data muito importante e simbólica na Rússia, é quando se celebra o fim da Segunda Guerra Mundial. Em Donetsk, o oficial militar regional Pavlo Kyrylenko disse que três trens foram temporariamente bloqueados por um ataque aéreo russo em uma estação. 

"Cada dia é pior e pior. Chovem (bombas) de todos os lados. Não aguento mais", desabafou Denis, um homem magro e pálido que parecia bem mais velho do que seus 40 anos, em Severodonetsk, outra cidade no leste da Ucrânia. "Quero escapar deste inferno", acrescentou, enquanto esperava sua vez de fugir de ônibus.

"Mais horrível que Bucha"

Em paralelo, novos relatos de atrocidades surgem em áreas até então ocupadas pelos russos perto de Kiev, dias depois da descoberta de dezenas de cadáveres de civis na cidade de Bucha, às portas da capital. As imagens geraram uma repulsa mundial.  "Começaram a procurar nas ruínas de Borodianka" a noroeste de Kiev, disse Zelensky na noite de quinta-feira.  "É muito mais horrível do que em Bucha. Há, inclusive, mais vítimas dos ocupantes russos", denunciou. 

A procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, informou que, até agora, 26 corpos foram descobertos nos escombros de dois imóveis e alertou que se trata da "cidade mais destruída da região". "Apenas a população civil foi alvo dos ataques: não tem nenhuma base militar aqui", escreveu Venediktova, no Facebook.

Também surgiram denúncias de outras áreas, como Obukhovychi, a noroeste de Kiev. Seus habitantes disseram à AFP que eram utilizados como escudos humanos pelos russos.  Na sitiada Mariupol, no sudeste do território, até o responsável pró-Rússia proclamado como o novo "prefeito" reconheceu a morte de 5 mil civis na cidade portuária. 

Moscou negou ataques a civis nas zonas sob seu controle, mas as crescentes evidências de suas supostas atrocidades levaram o Conselho de Direitos Humanos da ONU a suspender o país, ontem, deste órgão.


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