Solicitação de refúgio na Bolívia impediria extradição de Battisti para a Itália
Conforme convenção internacional, requerente não pode ser devolvido a seu país de origem
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Em um documento de quatro páginas, divulgado pelos jornais La Razón e El Deber, Battisti, condenado à prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas, na década de 1970, quando integrava o grupo Proletários Armados pelo Comunismo, diz que um governo eleito de ultradireita na Itália e outro no Brasil fazem com que ele "esteja na necessidade de pedir ajuda a um país de princípios democráticos como a Bolívia".
No requerimento, ele cita a Convenção sobre o Protocolo de Refugiados, de 1951, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, a Constituição Política do Estado Plurinacional da Bolívia e outros tratados e convênios internacionais dos quais o país é signatário.
#Bolivia
La Defensoría del Pueblo revela que el ciudadano #CesareBattisti pidió refugio al Conare en diciembre de 2018. pic.twitter.com/sB8Ngu4k4M — La Razón Digital (@LaRazon_Bolivia) 13 de janeiro de 2019
"Peço-lhe, por favor, que processe o meu pedido humanitário e conceda o estatuto de refugiado, garantindo assim a minha segurança, a minha liberdade e a minha vida, contribuindo assim para a construção de uma sociedade de paz baseada na justiça social e nos princípios de legitimidade da rebelião social contra a injustiça. Estarei à sua disposição, para que depois de receber o meu pedido, vocês possam definir uma hora, data e local para uma entrevista onde abundarei informações que apoiem o meu pedido", escreveu o requerente.
Em nota divulgada neste domingo, a "Defensoria del Pueblo" afirma que "até o momento, uma entrevista não foi realizada e uma recusa não foi feita, e ambos os pontos são partes fundamentais do devido processo legal no processo de refugiados, como previsto pela Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados, Lei 251 de 20 de junho de 2012 e do Decreto Supremo nº 1440 de 19 de dezembro de 2012". De acordo com o jornal boliviano El Dever, o órgão analisa a possibilidade de interpor recursos constitucionais para que Battisti possa obter uma resposta ao seu pedido de refúgio pelo Estado boliviano.
Conforme a Nota de Orientação de Extradição de Refugiados, de 2008, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), "os solicitantes de refúgio estão protegidos contra a devolução pelo artigo 33 (1) da Convenção de 1951 e pelo direito internacional consuetudinário durante todo o período de reconhecimento da condição de refugiado. O Estado requerido não pode extraditar um solicitante de refúgio ao seu país de origem enquanto seu pedido de reconhecimento da condição de refugiado esteja sendo considerado, inclusive durante a etapa de apelação".
Governo afirma que Battisti será entregue
Apesar disso, o ministro de Governo da Bolívia, Carlos Romero, deu uma coletiva de imprensa em que explicou que a a saída obrigatória de Battisti do país foi determinada porque ele entrou irregularmente e será entregue às autoridades italianas. "Portanto, estamos cumprindo o procedimento de regulamentação e coordenação entre as autoridades. Nas próximas horas será entregue pela Interpol da Bolívia aos seus homólogos na Itália, e o local de entrega será o Aeroporto Internacional de Viru Viru", disse.
Romero explicou que a entrega de Battisti foi coordenada entre o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia e as autoridades italianas, por meio de sua embaixada em La Paz. Segundo o ministro de Governo, Battisti foi preso em público após corroborar sua identidade e verificar que não possuía documentos que validassem sua estada na Bolívia. Conforme o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, Battisti será encaminhado diretamente para Roma e deve chegar na Europa na segunda-feira,