Suprema Corte do Iraque declara referendo curdo "inconstitucional"

Suprema Corte do Iraque declara referendo curdo "inconstitucional"

Curdistão está encurralado diante de Bagdá, onde Parlamento revisa atualmente orçamento para próximo ano

AFP

Suprema Corte do Iraque declara referendo curdo "inconstitucional"

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A Suprema Corte iraquiana declarou nesta segunda-feira "inconstitucional" o referendo de independência da região Autônoma do Curdistão, o último episódio da crise entre Bagdá e Erbil provocada pela consulta, organizada em setembro contra o parecer das autoridades federais. A Corte afirmou em uma declaração que "tomou uma decisão declarando inconstitucional o referendo realizado em 25 de setembro de 2017 no Curdistão iraquiano e em áreas fora da região autônoma".

A decisão também prevê "a anulação de todas as consequências e resultados" do referendo. O cancelamento desta consulta é uma condição para o diálogo estabelecida por Bagdá, enquanto Erbil se recusa a voltar atrás após a esmagadora vitória do "sim". Na semana passada, com o fim do prazo anunciado pela Suprema Corte para decidir sobre a constitucionalidade do referendo, o governo do Curdistão iraquiano disse que "respeitava" as decisões do mais alto órgão judicial do país.

Em particular, indicou que respeitava uma decisão anterior que insistia sobre o primeiro artigo da Constituição que menciona "a unidade do Iraque" e afirmou que queria tomá-lo como "base para o diálogo". Nesta segunda-feira, a Suprema Corte decidiu que a realização do referendo "contradizia" este artigo da Constituição, segundo o porta-voz do tribunal, Ayas al-Samouk, no comunicado.

O Curdistão está encurralado diante de Bagdá, onde o Parlamento revisa atualmente o orçamento federal para o próximo ano, incluindo a parte que será reservada para a região autônoma. As autoridades curdas ainda não comentaram a decisão da Suprema Corte. Mas Abdel Salam Barwari, ex-deputado e membro do Partido Democrático do Curdistão (PDK) de Massud Barzani, que deixou a presidência da região autônoma no início de novembro, denunciou a decisão da Justiça à AFP. "Era previsível, visto o passado deste Tribunal e o fato de ser atualmente uma ferramenta política", declarou.

Dois meses de crise 

Em 25 de setembro, Barzani organizou com grande pompa o referendo de independência. Esta consulta ocorreu nas três províncias autônomas: Dohuk (noroeste), Erbil (norte) e Sulaymaniyah (nordeste), mas também em áreas disputadas.
Desde então, a crise só fez aumentar entre Erbil e Bagdá, e no início de novembro, Barzani deixou seu cargo depois de perder quase todas as áreas em disputa e todos os seus recursos petrolíferos que poderiam ter assegurado a viabilidade econômica de um hipotético Estado curdo.

Em 16 de outubro, as forças do governo e paramilitares entraram em cena para retomar todas as áreas em disputa.
Essas regiões são reivindicadas pelo governo regional curdo e por Bagdá e, de acordo com a Constituição, seu status ainda precisa ser discutido em futuras negociações. Desde a invasão dos Estados Unidos em 2003 e na sequência do caos criado em 2014 pelo avanço do grupo extremista Estado Islâmico, os peshmergas (combatentes curdos) assumiram o controle das zonas disputadas.

Em duas semanas, Bagdá recuperou o controle de quase todas as localidades, a fim de retornar à "linha azul" de 2003, que limita as três províncias do Curdistão iraquiano. Bagdá e Erbil também emitiram mandados de prisão contra figuras políticas e militares de ambos os lados.  O Curdistão iraquiano emitiu mandados de prisão contra onze personalidades iraquianas, incluindo os líderes das unidades paramilitares Hashd al-Shaabi.

Por sua vez, um tribunal em Bagdá emitiu contra os organizadores do referendo e contra o vice-presidente do Curdistão iraquiano e líder da União Patriótica do Curdistão (UPK), Kosrat Rassul.

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