Trabalhadores e comerciantes esperam em vão pela abertura da fronteira entre China e Coreia do Norte

Trabalhadores e comerciantes esperam em vão pela abertura da fronteira entre China e Coreia do Norte

Sanções das Nações Unidos proíbem norte-coreanos de atuarem no exterior

AFP

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Trabalhadores norte-coreanos bloqueados e comerciantes que dependem do intercâmbio com o país vizinho veem poucos indícios de uma reabertura da fronteira com a China em curto prazo, apesar da recente viagem internacional do líder Kim Jong-un.

A agitada cidade chinesa de Dandong abriu uma janela incomum à isolada Coreia do Norte e seu comércio com Pequim, seu principal parceiro econômico. Mas as transações foram paralisadas em janeiro de 2020, quando Pyongyang fechou suas fronteiras pela pandemia da covid-19, deixando milhares de seus cidadãos no exterior. Três anos depois, muitos ainda não voltaram para casa.

Jovens enviadas para trabalhar como garçonetes antes da pandemia afirmam que ainda não foram informadas quando poderão retornar.

As sanções das Nações Unidos proíbem norte-coreanos de trabalharem no exterior, porque podem gerar fundos para o programa de armas nucleares de Pyongyang.

Especialistas ocidentais afirmam que estes trabalhadores não têm controle nenhum sobre seus postos, suportam condições de trabalho e de vida miseráveis e têm grande parte de seus salários confiscados pelo Estado norte-coreano.

O estabelecimento de Dandong proibiu gravar ou fotografar suas funcionárias.

"Bloqueados esperando"

Atletas norte-coreanos já participam de competições no exterior, e o líder Kim viajou neste mês à Rússia. Porém, os comerciantes em Dandong não acreditam que o mesmo ocorrerá com os demais.

"Não temos ideia de quando vão abrir", disse um comerciante chinês em uma loja em frente ao rio Yalu que separa os dois países.

"Estamos aqui bloqueados esperando, sem fazer nada, além de sentar e beber", assegura um colega nesta zona com dezenas de estabelecimentos fechados, ou abandonados.

O transporte ferroviário com a Coreia do Norte foi retomado, com 30% a menos de sua atividade no período pré-pandemia, segundo os dados da administração de fronteiras da China.

Os comerciantes asseguram que as limitações ao movimento de bens e pessoas minam suas atividades. "Nenhum negócio foi fechado nestes três anos", disse um exportador especializado em eletrônica.

Ele passou a confeccionar roupas para clientes locais, mais sua renda caiu pela metade em relação ao período pré-pandemia.

Todos os entrevistados pediram para não serem identificados.

O comércio com a Coreia do Norte é complicado, devido às restrições internacionais e ao fechamento de fronteiras.

Alguns se aventuram em setores incomuns, como das perucas, ou cílios postiços, que grupos de direitos denunciam serem confeccionados por prisioneiros nos vários centros de detenção do país.

Outros buscam negócios obscuros. Em um mercado noturno de Dandong, um vendedor afirma que tem "canais" para importar ginseng. "Mas não direi quais são estes canais", acrescenta.

Antes da pandemia, a Coreia do Norte recebia milhares de turistas por ano. Atualmente, em um barco pelo rio de fronteira, cerca de 30 passageiros, turistas locais chineses, contemplam docas abandonadas e estradas quase vazias da cidade norte-coreana de Sinuiju.

Um guia explica ao grupo que, desde a pandemia, as autoridades norte-coreanas proibiram a maioria dos residentes dessa cidade de trabalhar perto da água por medo de contágio. "É como a China dos anos 1970 e 1980", disse. "Muito atrasado".


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