Transcrição divulgada confirma que Trump pediu à Ucrânia para investigar Biden

Transcrição divulgada confirma que Trump pediu à Ucrânia para investigar Biden

Presidente estadunidense pediu a Volodymyr Zelensky informações sobre o filho do adversário político

AFP e Correio do Povo

Trump pediu ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (foto), que investigasse um dos filhos do ex-vice-presidente americano Joe Biden

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que investigasse um dos filhos do ex-vice-presidente E um dos favoritos nas primárias democratas para 2020, Joe Biden, e disse que instruiria seu advogado e procurador-geral a procurá-lo para "ir ao fundo" da questão. As informações foram retiradas de transcrição de uma ligação ocorrida em 25 julho entre os dois líderes e liberada pela Casa Branca nesta quarta-feira. A conversa entre os chefes de Estado foi o estopim para que a Câmara de Deputados norte-americana, de maioria democrata, desse início ao processo formal de impeachment do presidente.

Segundo a transcrição do telefonema, Trump pediu Zelensky "para olhar" indícios de corrupção por parte de Hunter Biden, que foi membro, de 2014 a 2019, do comitê de monitoramento do grupo de gás ucraniano Burisma, pertencente a um oligarca pró-russo. "Há muita conversa sobre o filho de Biden, que Biden interrompeu a promotoria e muitas pessoas querem descobrir sobre isso, então o que você puder fazer com o procurador-geral seria ótimo. Biden se gabou de ter parado a promotoria, então se você puder investigar... Parece horrível para mim", diz o Republicano em determinado momento.

Como vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden e outros líderes ocidentais pressionaram a Ucrânia a se livrar do principal procurador do país, Viktor Shokin, porque ele era visto como não suficientemente duro para com a corrupção. Na ligação, Trump propõe a seu colega ucraniano que trabalhe na cooperação com seu advogado, Rudy Giuliani, "um homem muito respeitado" e com o procurador geral dos Estados Unidos, Bill Barr. 

Na conversa, o ucraniano afirma que convocou seu embaixador nos EUA para substitui-lo por alguém "muito competente e experiente, que trabalhará duro para garantir que nossas duas nações estejam se aproximando" e que não há motivos para se preocupar com o novo procurador. "Como conquistamos a maioria absoluta em nosso Parlamento, o próximo será 100% minha pessoa, meu candidato, que será aprovado pelo parlamento e começará como novo promotor em setembro. Ele ou ela analisará a situação, especificamente a empresa que você mencionou", disse.

Zelensky continua: "A questão da investigação do caso é, na verdade, a questão de garantir a restauração da honestidade, para que tomemos conta disso e trabalhemos na investigação. Além disso, gostaria de perguntar se você tem alguma informação adicional que possa nos fornecer; seria muito útil para a investigação garantir que administremos a justiça em nosso país em relação à embaixadora dos Estados Unidos para a Ucrânia, pelo que me lembro o nome dela era Yovanovitch. Foi ótimo que você foi o primeiro que me disse que ela era uma péssima embaixadora porque eu concordo 100% com você. A atitude dela em relação a mim estava longe de ser a melhor, pois ela admirava o presidente anterior e estava do lado dele. Ela não me aceitaria como um novo presidente suficientemente bom".

Trump diz que a mulher "vai passar por algumas coisas". "Giuliani telefonará para você e também solicitarei o procurador-geral Barr e telefonaremos para o fundo. Tenho certeza que você vai descobrir. Ouvi dizer que o promotor foi muito mal tratado e que ele era um promotor muito justo, com muita sorte em tudo. Sua economia vai ficar cada vez melhor, eu prevejo. Você tem muitos ativos. É um ótimo país. Eu tenho muitos amigos ucranianos, são pessoas incríveis".

Agradecimento por apoio antecedeu pedido de investigação

O pedido para investigação de Hunter Biden veio depois que Zelensky agradeceu o apoio que os Estados Unidos têm dado à Ucrânia. O presidente europeu afirma que os líderes da União Europeia "não estão trabalhando tanto quanto deveriam trabalhar para a Ucrânia". "Acontece que, embora a União Europeia deva ser nosso maior parceiro, mas tecnicamente os Estados Unidos são um parceiro muito maior do que a União Europeia e estou muito grato a você por isso, porque os Estados Unidos estão fazendo muito pela Ucrânia. Muito mais do que a União Europeia, especialmente quando estamos a falar de sanções contra a Federação Russa. Eu também gostaria de agradecer pelo seu grande apoio na área de defesa. Estamos prontos para continuar a cooperar nos próximos passos. Especificamente, estamos quase pronto para comprar mais Javelins dos Estados Unidos para fins de defesa", comentou.

É então que Trump afirma que "gostaria que você nos fizesse um favor porque nosso país passou por muita coisa e a Ucrânia sabe muito sobre isso". "Eu gostaria que você descobrisse o que aconteceu com toda essa situação com a Ucrânia, eles dizem Crowdstrike... O servidor, eles dizem que a Ucrânia tem. Muitas coisas aconteceram, toda a situação. Eu acho que você está se cercando de algumas das mesmas pessoas. Eu gostaria que o Procurador Geral ligasse para você ou seu povo e gostaria que você chegasse ao fundo. Como você viu ontem, todo esse absurdo terminou com um desempenho muito ruim de um homem chamado Robert Mueller, um desempenho incompetente, mas eles dizem que muito disso começou na Ucrânia. Tudo o que você pode fazer, é muito importante que você faça se for possível".

CrowdStrike é a empresa de cibersegurança contratada pelo Comitê Nacional Democrata para investigar o hackeamento de seus servidores de computadores durante as eleições de 2016. A empresa com sede na Califórnia rastreou os hacks de servidores a dois grupos de hackers com suspeitas de ligações russas. A descoberta foi um dos primeiros sinais no que resultaria na investigação de anos de interferência estrangeira nas eleições, liderada pelo advogado especial Robert Mueller.

Trump diz que não houve pressão sobre a Ucrânia

Hoje, o presidente Trump insistiu em que "não teve pressão alguma" sobre a Ucrânia, em declarações aos jornalistas em meio à Assembleia Geral das Nações Unidas, um dia depois de os democratas iniciarem um processo de impeachment. "Foi uma carta amistosa, não houve pressão", repetiu, denunciando o que chamou de "a maior caça às bruxas na história dos Estados Unidos". Minimizando o episódio, disse que os democratas quiseram apresentar a ligação como "uma chamada do inferno", mas que "se mostrou uma chamada de nada".

Para o senador republicano Mitt Romney, o resumo do telefonema é "profundamente problemático". "Isso continua sendo profundamento problemático. Vamos ver aonde isso leva. Mas a primeira reação é preocupante", avaliou o candidato à Presidência em 2012 e um dos poucos republicanos a manifestar preocupação com o incidente. Afirmou, ainda, que "claramente se houve uma situação, isso levaria tudo para um nível mais extremo", mas não quis comentar se a transcrição tem evidências de que Trump tentou condicionar a oferta de ajuda militar à abertura, por parte da Ucrânia, de uma investigação anticorrupção do filho de Biden.


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