Tribunal peruano indefere recurso de Vizcarra sobre "incapacidade moral" de um presidente

Tribunal peruano indefere recurso de Vizcarra sobre "incapacidade moral" de um presidente

Congresso lançou quatro processos por incapacidade moral de um presidente nos últimos três anos

AFP

Vizcarra criticou que o tribunal "tem agido de costas para o país" ao não esclarecer um assunto polêmico

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O Tribunal Constitucional do Peru julgou nesta quinta-feira "improcedente" um recurso apresentado em setembro pelo então presidente, Martín Vizcarra, para definir as margens que o Congresso teria para declarar a "incapacidade moral" de um presidente.

"O plenário do tribunal declarou por maioria (de quatro a três) como "improcedente" a ação jurisdicional sobre a vacância presidencial por incapacidade moral permanente", anunciou sua presidente, Marianella Ledesma. A maioria do tribunal considerou que, como Vizcarra foi afastado há dez dias, não havia nada a resolver, explicou. Marianella defendeu que, para evitar futuras polêmicas, o tribunal deveria, agora, especificar as margens de incapacidade moral, não definidas na constituição peruana.

"O silêncio (...) não ajuda a construir" um sistema democrático, ressaltou a magistrada, que não escondeu seu aborrecimento com os colegas majoritários, ao anunciar esta decisão final em coletiva de imprensa. "Acredito que o tribunal perdeu a oportunidade de ter deixado selada essa interpretação constitucional (...) em algo tão delicado como a vacância de um presidente da república", acrescentou.

Por sua vez, Vizcarra também criticou que o tribunal "tem agido de costas para o país" ao não esclarecer um assunto polêmico, que tem causado grande instabilidade no Peru nos últimos três anos. "Milhões de peruanos reclamando nas ruas, vidas entregues para defender a democracia e, para eles, nada aconteceu. Que decepção", tuitou Vizcarra, referindo-se aos protestos surgidos depois do seu afastamento, que deixaram dois mortos e cem feridos.

O Congresso lançou quatro processos por incapacidade moral de um presidente nos últimos três anos, dois contra Pedro Pablo Kuczynski, em 2017 e 2018, e dois contra Vizcarra. O então presidente sobreviveu na primeira tentativa, ocorrida em 18 de setembro, mas sucumbiu na segunda, em 9 de novembro.

Kuczynski também saiu ileso na primeira, mas renunciou às vésperas da segunda, quando já era previsível que deixaria o cargo. "Perdemos a oportunidade histórica, como tribunal, de deixar uma sentença que marca o trabalho dos parlamentares quando julgarem um processo de vacância", declarou Marianella Ledesma.


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