Ucrânia adverte navios no Mar Negro para possibilidade de ataques

Ucrânia adverte navios no Mar Negro para possibilidade de ataques

País ucraniano acusa a Rússia de atacar especificamente sua infraestrutura portuária com o objetivo de impedir qualquer possível retomada de suas exportações de grãos

AFP

publicidade

A Ucrânia advertiu, nesta quinta-feira, que os barcos que navegam pelo Mar Negro rumo aos portos controlados pela Rússia poderiam ser atacados, depois que Moscou efetuou bombardeios nos portos ucranianos de Mikolaiv e Odessa em uma nova "noite infernal". Após ameaças semelhantes por parte de Moscou, a Ucrânia advertiu hoje que todos as embarcações que trafeguem pelo Mar Negro em direção à Rússia e às zonas ocupadas pelas tropas de Moscou poderão ser consideradas "como transporte de mercadorias militares com todos os riscos associados".

A Ucrânia acusa a Rússia de atacar especificamente sua infraestrutura portuária com o objetivo de impedir qualquer possível retomada de suas exportações de grãos. Os ataques foram condenados pelo secretário-geral da ONU, António Guterres. "Estes ataques estão tendo impacto muito além da Ucrânia. Já vemos o efeito negativo nos preços mundiais do trigo e do milho, o que prejudica todos, mas especialmente as pessoas vulneráveis do sul do planeta", disse Guterres através de seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

Na madrugada de hoje, pelo menos duas pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas em bombardeios russos com drones e mísseis nos portos do sul da Ucrânia, segundo as autoridades, que publicaram imagens de edifícios em chamas e parcialmente destruídos. Em Odessa, o zelador de um prédio foi encontrado "sob os escombros" após um bombardeio que destruiu um edifício administrativo no centro e danificou várias casas, afirmou o governador da província, Oleh Kiper.

A prefeitura de Mikolaiv informou que "pelo menos cinco prédios residenciais foram danificados" e o corpo de uma pessoa foi encontrado. "Foi uma noite infernal para o nosso povo", resumiu o diretor do serviço de emergência ucraniano, Serhiy Kruk.

A Força Aérea ucraniana informou que a Rússia lançou ao todo 38 mísseis e drones contra as cidades. "Infelizmente não é possível interceptar todos os mísseis, em particular os mísseis supersônicos Kh-22 e Onyx, que são muito difíceis de destruir", disse Oleh Kiper no Telegram.

Esses mísseis, pouco utilizados pela Rússia, já foram lançados durante um ataque na noite de terça para quarta-feira contra terminais de grãos e infraestruturas nos portos de Odessa e Chornomorsk, destruindo silos e 60.000 toneladas de grãos. Na quinta-feira, o Exército russo afirmou que só atacou instalações militares na província de Odessa e perto de Mikolaiv.

'Estão mortos'

Em Mikolaiv, equipes de resgate estavam trabalhando nos escombros para encontrar sobreviventes, relatou um jornalista da AFP. "Quem precisa dessa guerra?", questionou Oleksiy Luhanchenko. "Eu disse a eles que tinham que ir e agora estão mortos", disse ele, cujo corpo do cunhado foi encontrado sem vida, enquanto aguardava notícias sobre sua irmã, que estava sob os escombros.

O início da ofensiva russa, em fevereiro de 2022, provocou o bloqueio dos portos ucranianos no Mar Negro até julho do ano passado, quando foi assinado um acordo, com mediação da Turquia e da ONU, que foi prorrogado em duas oportunidades.

O Kremlin, no entanto, anunciou na segunda-feira a saída do pacto após meses de reclamações da violação de um dispositivo do acordo para permitir a exportação de produtos agrícolas e fertilizantes russos. O presidente russo, Vladimir Putin, declarou na quarta-feira que seu país está disposto a retornar ao acordo se a "totalidade" de suas demandas for respeitada e acusou os países do Ocidente de "chantagem política".

Incêndio continua

Na Crimeia, a península no sul da Ucrânia anexada pela Rússia em 2014, um ataque com drone matou uma adolescente e atingiu vários prédios administrativos, informou nesta quinta-feira o governador local designado por Moscou, Sergei Aksionov.

As autoridades locais ordenaram na quarta-feira a saída de 2.000 civis de suas casas após um incêndio em uma área militar no leste da Crimeia, que continuava nesta quinta-feira. A Ucrânia não reivindicou responsabilidade pelo bombardeio, mas suas forças militares aumentaram os ataques à Crimeia, que é um importante ponto de abastecimento para as tropas russas em solo ucraniano.

Na frente de batalha, os combates se concentram no leste da Ucrânia, onde a contraofensiva iniciada em junho por Kiev enfrenta dificuldades para romper as linhas russas, apesar do envio de armas pelos países ocidentais. O conselheiro da Presidência ucraniana, Mikhailo Podolyak, afirmou que o país precisa de 200 a 300 veículos blindados adicionais para romper as linhas russas e de 60 a 80 caças F-16, além de cinco a 10 sistemas de defesa antiaérea Patriot, de fabricação americana, ou seu equivalente francês SAMP/T.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895