Ucrânia entrou na "fase final" da fabricação de 'bomba suja', diz Rússia

Ucrânia entrou na "fase final" da fabricação de 'bomba suja', diz Rússia

Kiev considerou as declarações "absurdas e perigosas"

AFP

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A Rússia afirmou nesta segunda-feira (24) que a Ucrânia entrou na "fase final" para a fabricação de uma "bomba suja". A acusação foi rejeitada por Kiev, que convidou especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a visitarem suas instalações.

"Segundo as informações de que dispomos, duas organizações ucranianas têm instruções específicas para criar a denominada 'bomba suja'. O trabalho entrou na fase final", afirmou em um comunicado o tenente-general Igor Kirillov, comandante do Departamento de Radiações, Produtos Químicos e Biológicos do Exército russo. "O objetivo desta provocação é acusar a Rússia de usar armas de destruição em massa na Ucrânia e iniciar, assim, uma grande campanha anti-Rússia no mundo", acusou, antes de declarar que Kiev busca "intimidar a população local e aumentar o fluxo de refugiados em toda Europa".

"A detonação de um artefato explosivo radioativo levaria, inevitavelmente, à contaminação da região em uma superfície que pode atingir milhares de metros quadrados", advertiu.

Kirillov também acusou o governo do Reino Unido de manter "contatos" com a Ucrânia "sobre a questão da potencial obtenção de tecnologias (necessárias) para a produção de armas nucleares" por parte de Kiev. As acusações de Moscou de que o governo ucraniano desejaria recorrer a uma "bomba suja" são "falsas", afirmaram Paris, Londres e Washington em um comunicado conjunto.

Kiev considerou as declarações "absurdas e perigosas". No domingo à noite (23), o presidente Volodimir Zelensky pediu uma resposta "o mais dura possível" de seus aliados ocidentais. Nesta segunda-feira (24), o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, disse ter discutido o assunto com o chefe da AIEA, Rafael Grossi. O chanceler convidou a AIEA, oficialmente, a "enviar urgentemente especialistas às instalações pacíficas na Ucrânia", onde a Rússia "afirma falsamente" que Kiev está desenvolvendo uma "bomba suja".

"Grossi aceitou. Ao contrário da Rússia, a Ucrânia sempre foi e permanece transparente. Não temos nada a esconder", frisou Kuleba.

No domingo, o ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, relatou a seus homólogos americano, francês, britânico e turco suas "preocupações relacionadas com possíveis provocações por parte da Ucrânia com o uso de uma 'bomba suja'".

Os ucranianos e autoridades ocidentais suspeitam de que a Rússia possa estar se preparando para detonar uma "bomba suja" e culpar a Ucrânia, para depois justificar uma escalada militar com uma arma nuclear tática como represália. No início de sua ofensiva, Moscou acusou a Ucrânia de preparar armas bacteriológicas em laboratórios secretos financiados pelos Estados Unidos. Kiev negou, categoricamente, essas alegações.

Drones iranianos

Reiteradas pela Rússia nesta segunda, as acusações ocorrem em um momento em que as forças russas sofrem várias derrotas na Ucrânia. Em setembro, Moscou perdeu milhares de quilômetros quadrados no nordeste do país. E, hoje, enfrenta uma contraofensiva de Kiev na região sul de Kherson. No sábado (22), autoridades pró-Rússia nesta região pediram aos civis que deixassem a capital regional "imediatamente" diante do avanço das forças ucranianas.

Desde quarta-feira passada (19), moradores da área estão sendo levados em direção à margem esquerda do rio Dniepr, que faz fronteira com a cidade. Nesta segunda-feira, a Ucrânia anunciou a reconquista de 90 cidades na zona, um dos quatro territórios ucranianos anexados por Moscou em setembro.

Nas últimas semanas, a Rússia intensificou seus bombardeios, especialmente contra instalações elétricas, depois que uma ponte que liga a península da Crimeia ao continente russo foi parcialmente destruída em uma explosão semanas atrás. Em Kiev, os bombardeios são realizados com drones de fabricação iraniana, segundo a Ucrânia.

Zelensky disse hoje que a Rússia encomendou "cerca de 2.000 drones" do Irã para apoiar sua campanha de bombardeios na Ucrânia. O líder ucraniano também criticou a neutralidade de Israel desde o início da ofensiva russa, o que, segundo ele, permitiu uma "aliança" entre Moscou e Teerã.

"Esta aliança não teria existido se seus políticos tivessem tomado uma decisão. A decisão que pedimos a eles", declarou Zelensky em uma conferência organizada pelo jornal israelense "Haaretz".


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