Um mês após o ataque a Kirchner na Argentina, o mistério e a polarização continuam

Um mês após o ataque a Kirchner na Argentina, o mistério e a polarização continuam

Quatro acusados, com idade de 21 a 35 anos, estão em prisão preventiva

AFP

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Um mês depois da noite que um homem apontou uma arma de fogo que não disparou para a cabeça da vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, o caso oferece poucas informações esclarecedoras além dos quatro jovens detidos, odiadores da líder e de uma identificação confusa com a extrema-direita. Com pouco progresso na investigação, o país continua polarizado.

A governamental Frente de Todos (FdT), corrente de centro-esquerda do peronismo, afirma que a tentativa de assassinato da duas vezes presidente (2007-2015) é fruto de "discursos de ódio e violência" da oposição e da mídia opositora. Lideranças de direita e ultraliberais concordam que o FdT tenta aproveitar o ataque para se "vitimizar", de olho nas eleições presidenciais dentro de um ano, em momentos em que a inflação está transbordando para quase 100% anual e os conflitos sociais se multiplicam.

"O fato é extremamente grave, mas não há mudança substancial nos atores políticos em jogo", disse à AFP o sociólogo e cientista político Ricardo Rouvier. "O clima político continua mais ou menos semelhante ao que tínhamos antes", acrescentou.

Os quatro acusados, com idade de 21 a 35 anos, estão em prisão preventiva sob acusações de "tentativa de homicídio qualificado". Fernando Sabag Montiel, que disparou a pistola calibre 32, com cinco balas no carregador e nenhuma na câmara de disparo, ostenta tatuagens neonazistas (um sol negro, uma cruz de ferro).

"Mandei um cara para matá-la"

A parceira e suposta instigadora de Montiel é a vendedora ambulante Brenda Uliarte, que expressou sua indignação em mensagens com insultos a Kirchner e escreveu em um bate-papo: "Mandei um cara matar Cristi (sic)". Outra detida e sua amiga, Agustina Díaz, responde: "Quem não gostaria de atirar naquela velha vadia (ladra)". O quarteto é completado pelo vendedora de doces Nicolás Carrizo.

"Estamos diante de um grupo de jovens que não sabe o que são, quem são, como agem e quem os dirige e financia", disse Rouvier.

Kirchner, de 69 anos, pediu uma investigação para apurar se há conexões entre os réus e manifestantes de extrema-direita que saíram às ruas com sacos de cadáveres e cartazes de "morte a Cristina".

Uliarte foi filmada em uma manifestação hostil do microgrupo de extrema-direita Revolução Federal (RF), que transportou um modelo de guilhotina, com tochas, até a Plaza de Mayo, em frente à sede do governo. Jonathan Morel, fundador da RF, condenou publicamente o ataque. A justiça considerou que há provas "insuficientes" para envolver o grupo, razão pela qual está sendo investigado em outro tribunal.

O ex-presidente e líder da oposição Mauricio Macri (2015-19), sustenta que os acusados são "um grupo de loucos à solta". Por sua parte, a FdT que afirma que devem investigar "os autores intelectuais" e o "financiamento dos autores materiais".

"Não há mais nenhuma suspeita de que (o ataque) foi auto-organizado. É um magnicídio fracassado. A questão é quão complexa é a organização", disse à AFP o cientista político Diego Reynoso, da Universidade de San Andrés.

Kirchner, que é acusada de associação criminosa e administração fraudulenta qualificada, por supostamente ter orientado a atribuição de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz (sul), afirmou que o julgamento foi capaz de "criar um clima" para o ataque que sofreu.

Dias após o atentado, o setor peronista de esquerda da FdT parecia lutar pela candidatura de Kirchner em 2023. Ela reiterou que já foi "presidente duas vezes" e que "essas coisas não a seduzem".

 


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