Uruguai começa a cadastrar consumidores de maconha legalizada
Consumidores aprovam a segurança gerada pela regulamentação
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Antes da abertura do local, Yamila, de 26 anos, que trabalha em uma loja, era a primeira na fila para o registro. O mecanismo de venda em farmácias, previsto em uma lei aprovada em 2013, "é melhor, mais eficaz e mais seguro", disse a jovem.
"Antes, se procurava maconha em qualquer lugar e você não sabia o que estavam te dando", apontou. Além disso, a droga legalizada "custa menos da metade do que no mercado negro", acrescentou Yamila, que não quis dar seu sobrenome. O preço da grama da maconha em farmácias locais será de 1,30 dólares, e cada consumidor terá direito a comprar até 10 gramas por semana para uso recreativo.
O Uruguai aprovou em 2013 uma lei de Regulamentação da Cannabis, que habilita três mecanismos para obter legalmente a droga: o autocultivo residencial, o cultivo cooperativo em clubes e a venda da maconha produzida por entes privados controlados pelo Estado através de farmácias, última etapa que resta para implementar em 100% a norma.
Os consumidores devem optar por um mecanismo à sua escolha. O governo espera que em 60 dias a maconha produzida por duas empresas privadas em terrenos públicos com segurança perimetral estatal esteja disponível para comercialização, em um mecanismo inédito que, segundo as autoridades, está destinado a combater o tráfico ilícito.
O registro
O procedimento de registro é simples. Apesar de alguns problemas técnicos no início, as inscrições se realizavam normalmente nas agências dos correios visitadas pela AFP. O consumidor deve apresentar seu documento de identidade e um comprovante de residência. Os funcionários registram os interessados sem pedir cópias dos documentos, e tomam suas impressões digitais.
Após um questionário para traçar o perfil do comprador, lhe entregam dois comprovantes nos que não aparecem o nome nem dados da identidade, apenas um "número de cliente" e a menção "registro de cannabis". O documento indica: "Você se registrou como pessoa adquirente (de maconha) sob a lei N°19.172", e deixa um telefone de consulta "sobre uso problemático de drogas".
O governo uruguaio lançou, paralelamente à abertura do registro, uma campanha de conscientização sobre o impacto do consumo de drogas na saúde.
Turismo canábico
Desde o lançamento desta iniciativa, em 2012, as autoridades do partido do governo Frente Amplio (esquerda) afirmaram que buscariam impedir o chamado "turismo canábico", ou seja, a chegada de estrangeiros que querem consumir a maconha produzida pelo Estado. Para isso, a regulamentação da lei da maconha estabelece que só cidadãos uruguaios ou residentes no país podem ter acesso ao mecanismo.
Manuel Martín, cidadão espanhol e uruguaio de 30 anos, foi um dos primeiros a chegar para se registrar. Para ele, a lei foi "um ponto de inflexão" que o levou a decidir morar no Uruguai. "É uma bênção de Deus que estejamos aqui e que possamos nos registrar. (...) Vim da Espanha exclusivamente por isso", diz Martín.
"Agora ainda se pode comprar nas farmácias", com um "controle de qualidade", e as pessoas não precisarão mais ir "para as ruas comprar qualquer coisa". "Se for possível comprar 24 horas por dia, será um sucesso", conclui.
Ferreira, o funcionário do setor turístico, se declarou a favor de que os visitantes possam comprar cannabis, algo que a regulamentação da lei impede. Em sua opinião, seria uma fonte de renda extra para o país.
A AFP pôde falar na rua com os consumidores que foram se registrar, mas um dos seus jornalistas foi expulso da agência central dos correios pela Polícia porque a imprensa - segundo os funcionários presentes - não está habilitada a entrar no local por determinação das autoridades dos correios.