Vítima de torturas dos EUA diz que relatório não muda nada

Vítima de torturas dos EUA diz que relatório não muda nada

Kamil Shah ficou preso por cinco anos sem ter sido julgado

AFP

Vítima de torturas dos EUA diz que relatório não muda nada

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O relatório americano que detalha as torturas infligidas pela CIA aos seus prisioneiros não apaga o sofrimento pelo qual eles passaram, declarou um paquistanês que foi espancado e ameaçado com cachorros. Kamil Shah foi detido em Bagram, uma prisão militar do norte de Cabul, durante muito tempo chamada de "Guantánamo afegão". No local, os americanos foram com frequência acusados de torturar acusados de terrorismo.

O relatório senatorial americano publicado na terça-feira, que detalha as torturas aplicadas pela CIA em presos suspeitos de vínculos com a Al-Qaeda em locais secretos de vários países, provocou uma onda de condenações em todo o mundo. "O que o relatório muda para nós? Por acaso os Estados Unidos vão nos dar indenizações?", pergunta-se Shah, ao contar seus cinco anos de sofrimento em Bagram, entre 2004 e 2009. Detido pelos americanos no sul afegão com 17 anos, ele foi libertado sem que tenha sido declarado culpado de nada. "Os americanos detiveram inocentes, os colocaram em celas sem luz, os torturaram durante cinco ou dez anos, e agora dizem que se equivocaram", queixa-se Kamil, que hoje voltou a sua região do norte do Paquistão.

De seus anos em Bagram, Kamil Shah lembra uma mistura de torturas violentas e não violentas, da falta de luz, dos espancamentos realizados por seus carcereiros, dos intermináveis interrogatórios durante nove ou dez horas, das torturas com eletricidade. "Às vezes traziam cachorros e me diziam que se não dissesse a verdade me lançariam a eles", relata. "Fui torturado sem razão alguma, minha vida foi arruinada. Então de que serve este documento?", lamenta.

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