Venezuela inicia saída da OEA em plena intensificação da crise

Venezuela inicia saída da OEA em plena intensificação da crise

Oposição chama Maduro de ditador e avalia que sua saída do poder é a única solução

AFP

Presidente venezuelano enfrenta há um mês uma onda de protestos

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O governo da Venezuela começa nesta quinta-feira seu processo de retirada da Organização de Estados Americanos (OEA), em meio a uma crescente pressão internacional e a uma onda de protestos que em um mês deixou quase 30
mortos.

Em um fato sem precedentes na OEA - Cuba foi expulsa em 1962 -, a Venezuela anunciou na quarta-feira sua saída da organização em função de o Conselho Permanente da instituição ter convocado uma reunião de chanceleres para avaliar a grave crise política que sacode o país.

"Nesta quinta-feira apresentaremos a carta de renúncia à OEA e iniciaremos um procedimento que tarda 24 meses", anunciou a chanceler venezuelana Delcy Rodríguez, em mensagem na TV estatal.

"Retirar-se da OEA isolará muito mais a Venezuela e deixará em dúvida se continua sendo uma democracia. Claramente é uma medida desesperada, que indica que o governo busca retirar-se antes que sejam aplicadas sanções", explicou à AFP Diego Moya-Ocampos, analista do centro IHS Markit Country Risk de Londres.

O processo de retirada, que demora 24 meses, começará quando a Venezuela apresentar uma carta de denúncia contra a OEA ao secretário-geral Luis Almagro.

O presidente venezuelano enfrenta há um mês uma onda de protestos que exigem eleições-gerais e que provocaram violentos confrontos entre as forças de segurança e manifestantes, que já deixaram 28 mortos e centenas de feridos e detidos. "É a pior decisão que o governo pode tomar e confirma que é um governo derrotado", reagiu o presidente do Parlamento de maioria opositora, Julio Borges.

Maduro, a quem Luis Almagro tacha de ditador, assegura que a "direita venezuelana faz terrorismo para provocar o caos", como parte de um plano com os Estados Unidos para derrubá-lo e propiciar uma intervenção estrangeira.

A oposição anunciou que manterá os protestos nas ruas, com uma sessão especial no Parlamento e uma visita aos presídios dos "presos políticos" para pedir sua libertação. O protesto de quarta-feira foi reprimido com bombas de gás, tiros de balas de borracha e jatos d'água, resultando na morte de mais um manifestante, um rapaz de 20 anos. Os seguidores do chavismo também marcharam pelo centro da capital e se concentraram nos arredores do Palácio presidencial de Miraflores.

Os protestos começaram depois que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) assumiu, no fim de março, as funções do Legislativo, único dos poderes controlado pela oposição, embora tenha voltado atrás após forte reação internacional. Para acalmar os ânimos, Maduro, que tem mandato até janeiro de 2019, diz querer eleições, mas se refere às regionais, que em 2016 foram adiadas ainda sem data prevista, descartando uma antecipação, como querem seus críticos, das presidenciais de dezembro de 2018.

A oposição chama Maduro de ditador e avalia que sua saída do poder é a única solução para a profunda crise política e econômica do país que tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Mais de 70% dos venezuelanos, segundo pesquisas privadas, reprovam a gestão de Maduro, cansados da escassez de alimentos e remédios, e de uma inflação que segundo o FMI chegará a 720,5% neste ano, a mais alta do mundo.

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