WikiLeaks revela que EUA espionaram últimos três presidentes da França

WikiLeaks revela que EUA espionaram últimos três presidentes da França

Documentos mostram que NSA analisava os métodos de governo de Sarkozy, Holland e Chirac

AFP

Documentos mostram que NSA analisava os métodos de governo de Sarkozy, Holland e Chirac

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Os Estados Unidos espionaram, entre 2006 e 2012, os três últimos presidentes da França, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande. A informação foi divulgada pela plataforma WikiLeaks e virou notícia, nesta terça-feira, no jornal Libération e no site Mediapart.

Classificados como "Top-Secret", esses papéis consistem, principalmente, de cinco relatórios da Agência de Segurança Nacional (NSA, sigla em inglês) baseados em "interceptações de comunicação". De acordo com o Libération, os documentos eram destinados à "comunidade de Inteligência" americana.

Sem grandes revelações, o material explica o funcionamento e o processo de tomada de decisões de Hollande e de seus dois antecessores. O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, garantiu nesta terça à noite que em breve fará novas revelações.

O texto mais recente é de 22 de maio de 2012, alguns dias depois de Hollande assumir o cargo, e menciona reuniões secretas para tratar de uma eventual saída da Grécia da zona do euro. "Hollande está muito preocupado com a Grécia", escreve a NSA, que afirma ainda que o chefe do Estado se reuniu com a chanceler alemã, Angela Merkel, em Berlim, no mesmo dia de sua posse, em 15 de maio de 2012.

Os documentos relatam que, depois de se reunir com Merkel, Hollande entrou em contato com o chefe do principal partido da oposição alemã, Sigmar Gabriel, e o convidou para uma conversa em Paris. O então premiê Jean-Marc Ayrault aconselhou Hollande a manter o encontro em sigilo para evitar eventuais "problemas diplomáticos" com a chanceler.

Segundo o Libération, o presidente François Hollande convocou o Conselho de Defesa para uma reunião nesta quarta, às 7h, para analisar essas informações. Sobre Nicolas Sarkozy, a NSA afirma que, depois da crise financeira de 2008, ele "acha que Washington leva alguns de seus conselhos em consideração".

"Segundo ele, é a primeira vez que os Estados Unidos não agiram como líder na gestão de uma crise mundial, e a França vai assumir as rédeas", completa a NSA. Os documentos relatam como Nicolas Sarkozy se via como "o único homem capaz" de resolver a crise financeira e que ele pensava em chamar o presidente russo da época, Dimitri Medvedev, para "uma eventual iniciativa comum" no Oriente Médio, "sem os Estados Unidos".

Em 24 de março de 2010, a NSA transmitiu as notas de uma conversa entre o então embaixador da França em Washington, Pierre Vimont, e o assessor diplomático de Sarkozy no Eliseu, Jean-David Levitte. Ambos trataram dos temas que o presidente francês pretendia abordar em sua reunião de 31 de março com Barack Obama. "A comunicação demonstra que Paris é perfeitamente consciente da espionagem americana", disse Mediapart.

Ao ser contatado pela Mediapart, Jean-David Levitte não se mostrou "surpreso". "Quando fui embaixador na ONU e depois em Washington e em minhas funções no Eliseu, tanto com Jacques Chirac quanto com Nicolas Sarkozy, sempre partia do princípio de que era alvo de grampo. Isso vem com o posto", comentou o diplomata.

A NSA avalia ainda que a maneira como Chirac dava ordens a Philippe Douste-Blazy - a quem havia encarregado de apoiar a nomeação do norueguês Terje Roed-Larsen como secretário-geral adjunto da ONU - demonstra que considerava que seu ministro das Relações Exteriores era alguém "propenso a dar declarações inexatas e inoportunas".

Segundo colaboradores de Sarkozy, o ex-presidente considera "esses métodos" de espionagem "inaceitáveis em geral e em particular entre aliados". Já o entorno de Chirac não se pronunciou. Do lado americano, o porta-voz do departamento de Estado, John Kirby, desconversou: "não fazemos comentários sobre a veracidade, ou sobre o conteúdo" dos documentos. "Não fazemos comentários sobre alegações específicas relacionadas à Inteligência", limitou-se a declarar Ned Price, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

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