Zelaya diz que não foi para o México porque Micheletti queria sua renúncia

Zelaya diz que não foi para o México porque Micheletti queria sua renúncia

“Ontem o governo de fato teve outro fracasso ao querer fazer com que eu renunciasse”, disse o presidente deposto

AFP

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O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou nesta quinta-feira que desistiu de viajar para o México porque o regime de fato hondurenho queria obrigá-lo a renunciar para lhe dar um salvo-conduto.

"Em resumo, ontem o governo de fato teve outro fracasso ao querer fazer com que eu renunciasse a meu cargo. Posso ficar aqui (na embaixada brasileira) dez anos, pois aqui tenho meu violão", declarou, fazendo uma demonstração com seu instrumento musical.

"Ontem eu podia sair nas condições que queria a ditadura, mas estou demonstrando minha integridade, estou demonstrando amor suficiente por meu país e por meu povo para não me deixar curvar. Estou firme para resistir a qualquer ataque e todas as torturas que quiserem me fazer, mas não vou renunciar", afirmou Zelaya.

O Brasil criticou a negativa do presidente de fato, Roberto Micheletti, em conceder salvo-conduto a Zelaya. "Essa alegação do governo golpista é inaudita, eles não podem criar condições para que Zelaya saia do país. Isso demonstra a marginalidade desse governo em relação às normas internacionais", afirmou o chanceler brasileiro Celso Amorim.

Amorim disse ainda que a saída de Zelaya foi negociada pelo Brasil e a Argentina, a pedido do próprio presidente deposto, que sugeriu o México como destino. "Eu me levantei hoje achando que Zelaya já estaria no México e me inteirei que isso não aconteceu, por uma exigência absurda", explicou Amorim à rádio NBR.

O regime de fato hondurenho, por sua vez, reiterou que só autorizará a saída do deposto presidente Manuel Zelaya para o México se ele pedir asilo a esse país, mas não pode viajar como hóspede, segundo afirmou nesta quinta-feira o ministro do Interior, Oscar Raúl Matute.

"As instruções do presidente, Roberto Micheletti, é que se houver um pedido formal que reúna todas as características da Convenção de Caracas, o governo da República está anuente (...) a considerar principalmente o fundamento humanitário desta nobre instituição de asilo", declarou Matute à rádio HRN.

O México pediu um salvo-conduto para que o presidente deposto de Honduras viaje ao país como hóspede, o que foi rejeitado pelo regime de fato, que advertiu que aceitará apenas que ele saia do país como asilado, condição que Zelaya não aceita.

As versões de uma iminente viagem de Zelaya ao México mobilizaram na quarta-feira a imprensa e simpatizantes do presidente deposto, que permanece refugiado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Os militares reforçaram o cerco ao local.

As versões da iminente viagem de Zelaya foram estimuladas depois que a Direção de Aeronáutica Civil de Honduras informou que um avião mexicano pousaria no país para levar o presidente deposto.

Mas Zelaya evitou responder sobre a possível viagem ao México ao ser questionado pela imprensa.

Deposto em 28 de junho e com a possibilidade de retornar ao poder negada semana passada pelo Congresso, Zelaya declarou apenas que uma eventual saída de Honduras teria que acontecer na qualidade de presidente dos hondurenhos.

O governo do México informou mais tarde que segue em negociações com Zelaya e outras autoridades hondurenhas.

O futuro de Zelaya é completamente incerto, principalmente depois que o Congresso hondurenho rejeitou restitui-lo no poder para terminar seu mandato.

A tentativa de viagem para o México foi anunciada um dia depois que os presidentes da Costa Rica, Oscar Arias, e do Panamá, Ricardo Martinelli, advertiram o presidente eleito de Honduras, Porfírio Lobo, que Micheletti deve renunciar antes de 27 de janeiro, dia em que ele deve assumir o poder, se quiser conseguir o reconhecimento internacional.

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