Zelensky denuncia "crimes de guerra" em Bucha que serão reconhecidos como "genocídio"

Zelensky denuncia "crimes de guerra" em Bucha que serão reconhecidos como "genocídio"

Cidade foi recuperada recentemente das tropas russas

AFP

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O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou, nesta segunda-feira (4) em Bucha, que houve "crimes de guerra" que serão "reconhecidos como genocídio". A cidade foi recuperada recentemente das tropas russas. A declaração foi dada em uma rua da cidade onde foram encontrados corpos de civis no fim de semana.

Vestido com um colete à prova de balas e cercado por soldados, Zelensky falou à imprensa durante uma visita a Bucha, recuperada das tropas russas. "Todos os dias, quando nossos combatentes entram e recuperam um território, eles veem o que acontece", disse ele.

"São crimes de guerra e serão reconhecidos como genocídio", declarou. O chefe de Estado ucraniano mencionou ainda que milhares de pessoas foram assassinadas e torturadas durante a invasão russa. Além disso, conforme Zelensky, o saldo da violência das tropas da Rússia inclui o estupro de mulheres e a morte de crianças. 

Mais de 400 corpos encontrados 

A escala dos massacres na cidade ainda está sendo investigada, mas a procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, informou que 410 corpos de civis foram recuperados. O prefeito de Bucha, Anatoly Fedoruk, disse que 280 corpos foram levados para fossas coletivas porque é impossível sepultá-los nos cemitérios que estão ao alcance dos bombardeios.

A empresa de imagens por satélite Maxar Technologies divulgou fotografias que seriam de uma vala comum no prédio de uma igreja de Bucha. O funcionário municipal Serhii Kaplychnyi afirmou que as tropas russas impediram os moradores de enterrar os mortos na cidade. "Eles disseram que, enquanto estivesse frio, os deixariam lá", afirmou. Quando finalmente conseguiram recuperar os corpos, "cavávamos uma vala comum com um trator e enterramos todos", contou.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se declarou "horrorizada" com as imagens de corpos na cidade de Bucha. "As informações que estão chegando desta região e de outras apresentam perguntas graves e preocupantes sobre possíveis crimes de guerra e infrações graves do direito internacional humanitário, assim como graves violações dos direitos humanos", destacou Bachelet em um comunicado, no qual pediu que "todas as evidências sejam preservadas".

Acompanhe o avanço das tropas russas na Ucrânia a cada dia

UE estuda novas sanções

O embaixador adjunto de Moscou na ONU afirmou que a Rússia pediu uma reunião do Conselho de Segurança para segunda-feira "com base na atroz provocação dos radicais ucranianos em Bucha". Correspondentes da AFP na cidade observaram ao menos 20 corpos com trajes civis espalhados por uma rua. As imagens do massacre provocaram indignação mundial e pedidos de novas sanções contra a Rússia.

A UE começou nesta segunda-feira a debater com "urgência" uma nova série de medidas contra Moscou, informou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. O presidente francês Emmanuel Macron declarou que é favorável a uma decisão neste sentido, por exemplo contra o petróleo e o carvão russos.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, falou no domingo que novas sanções serão decididas nos próximos dias, enquanto seu ministro da Defesa citou a possibilidade de cortar a importação de gás russo, um dos grandes trunfos de negociação de Moscou.

O primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki pediu a criação de uma comissão de investigação internacional sobre o "genocídio". O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse que seu país vai "fazer todo o possível para que aqueles que cometeram crimes de guerra não fiquem impunes", ao citar também um possível "genocídio".

"Algo terrível vai acontecer"

Mas o presidente ucraniano advertiu que o pior pode está por acontecer, porque Moscou voltou as atenções para o sul e leste do país em sua tentativa de criar uma ligação terrestre entre a península da Crimeia - anexada em 2014 pela Rússia - e as regiões separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk. "As tropas russas ainda controlam as áreas ocupadas de outras regiões. E depois da expulsão dos ocupantes, podemos encontrar coisas ainda piores, mais mortes e torturas", disse.

Zelensky também participou da cerimônia do Grammy com um discurso pré-gravado, no qual pediu que as pessoas "falem a verdade sobre esta guerra". "Não fiquem em silêncio", pediu ao público.

O pior conflito em décadas na Europa, provocado pela invasão russa de 24 de fevereiro, deixou 20.000 mortos, de acordo com o balanço ucraniano. Quase 4,2 milhões de ucranianos abandonaram o país, de acordo com o Alto Comissariado das Nações para os Refugiados (ACNUR). 

Na cidade de Kramatorsk, mulheres, crianças e idosos embarcavam em três para fugir da região de Donbass. "O boato é que algo terrível vai acontecer", disse Svetlana, voluntária que organiza a multidão na plataforma da estação.

A Rússia intensificou os esforços no sul e leste da Ucrânia, incluindo vários ataques no domingo contra o porto de Odessa, no Mar Negro, que segundo Moscou atingiram refinarias de petróleo e depósitos de combustível. Oito pessoas morreram e 34 ficaram feridas em bombardeios russos no domingo em Ochakiv e Mykolaiv, também no sul da Ucrânia, informou nesta segunda-feira a Procuradoria ucraniana.

O ministério britânico da Defesa destacou que os ataques aéreos russos mais recentes se concentraram no sudeste da Ucrânia. E os combates intensos prosseguem na área do porto de Mariupol.


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