Alegrete: primo suspeito de matar enfermeira indica vários nomes de possíveis cúmplices

Alegrete: primo suspeito de matar enfermeira indica vários nomes de possíveis cúmplices

Conforme a delegada, alguns dos citados já faziam parte da investigação

Nádia Martins

Desde o início do desaparecimento de Priscila, a polícia colheu elementos e tomou depoimentos, sobretudo de parentes e amigos próximos da vítima. A desconfiança em torno da participação do primo no crime surgiu em seguida.

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Após a prisão, nessa quinta-feira, do primo da enfermeira Priscila Ferreira Leonardi, considerado o principal suspeito da morte dela, a Polícia Civil de Alegrete, na fronteira Oeste, vai buscar ouvir outras pessoas, citadas em depoimento pelo homem. Priscila, que ficou cerca de 20 dias desaparecida, teve o cadáver encontrado por um pescador, às margens do rio Ibirapuitã, em 6 de julho. Bombeiros levaram mais de oito horas para retirar o corpo da água, em razão do difícil acesso.

A enfermeira, que tinha 40 anos, havia sido vista pela última vez em 19 de junho. Moradora desde 2019 de Dublin, na Irlanda, ela veio ao país em férias, em maio, e pretendia retornar no início de julho. O primo chegou a procurar a Polícia, junto de outros familiares, para relatar o desaparecimento.

Segundo a titular da 1ª DP de Alegrete, delegada Fernanda Mendonça, no depoimento o suspeito apresentou a versão dele e, entre outras informações, nomes de pessoas que podem ter ajudado no crime. “Na verdade, a gente também já tinha alguns nomes, antes mesmo do interrogatório do suspeito. Nomes que surgiram por meio de informações, algumas anônimas, outras não, nos quais já estávamos trabalhando. A polícia não descarta a possibilidade de que outras pessoas estejam envolvidas no crime”, detalhou.

Conforme a polícia, o homem, de 30 anos, tinha antecedentes criminais, mas sem indícios de que seja ligado a uma organização criminosa. A delegada, no entanto, investiga a possibilidade de que alguns dos nomes indicados sejam membros de facções. “Vamos verificar se existiram realmente mais pessoas envolvidas, quem são essas pessoas e em que circunstâncias participaram, que papel tiveram, quando é que agiram e, confirmar se são ou não membros de organização criminosa”, declarou.

Desde o início do desaparecimento de Priscila, a polícia colheu elementos e tomou depoimentos, sobretudo de parentes e amigos próximos da vítima. A desconfiança em torno da participação do primo no crime surgiu em seguida. “A gente começou a desconfiar da possível participação do primo dela por alguns detalhes que não estavam batendo. Apresentamos todas as informações que tínhamos ao Poder Judiciário, já indicando também o primo como possível autor, e o Ministério Público, com base no que a gente apresentou, pediu a prisão dele. Com esse mandado na mão a gente esperou o melhor momento e cumpriu os mandados na quinta-feira, tanto o de prisão quanto o de busca e apreensão, na casa dele”, relata.

Participaram do interrogatório, a delegada responsável pelo caso, policiais envolvidos na investigação, a advogada do suspeito e a esposa dele. A polícia descarta, pelo menos até o momento, um possível envolvimento dessa mulher no crime. “A gente ouviu ela como testemunha. Já tínhamos ouvido antes, mas aproveitamos para ouvir de novo, até porque ela acompanhou as buscas na casa… Ela não está presa porque não temos elementos que apontem que teve envolvimento no crime, pelo menos até agora”, esclarece.

No laudo de necropsia do Instituto Geral de Perícias (IGP) foram apontados espancamento e estrangulamento, com uma fita no pescoço, como causa da morte de Priscila. A polícia ainda aguarda o laudo pericial do local de desova do corpo. “Esse laudo ainda não chegou para nós porque demora um pouquinho. Talvez nos próximos dias ou talvez em mais algumas semanas possamos saber mais alguma coisa sobre a morte”, enfatiza.

Sobre a possível premeditação do crime em razão da disputa por uma herança, Fernanda Mendonça disse que ainda não é possível concluir. “Isso é uma das coisas que a gente busca verificar daqui pra frente, se de repente a morte dela era uma intenção inicial ou se acabou sendo uma coisa que saiu do controle. Vamos verificar com mais oitivas e outras diligências, nos próximos dias”, completa.

Durante as investigações a polícia descobriu que Priscila tinha uma irmã mais nova, por parte de pai. O homem faleceu em 2020 e, após a morte, a família abriu um inventário para formalizar a divisão e tramitar a transferência dos bens. Segundo a delegada, todos os parentes e, inclusive, o primo sabia da existência dessa irmã mais nova. Ela também vai ser ouvida nos próximos dias. “A gente não sabe que tipo de contato e nem como era exatamente a relação entre eles, mas tanto o primo quanto os demais familiares da Priscila sabiam da existência dessa irmã, e inclusive já tinham feito contato com ela algumas vezes”, detalha.

Ainda conforme a delegada, a prisão do primo como principal suspeito não é o encerramento das investigações, e sim, mais um passo para que o restante venha ser esclarecido. “Existem elementos suficientes para que ele fique preso, pelo menos os 30 dias da prisão temporária. Se, nesse período de investigações, o inquérito policial não for encerrado, podemos pedir a prorrogação para o Ministério Público”, finaliza.

Defesa do primo

Em nota, a advogada Jo Ellen Silva da Luz, escreveu que o cliente contou “muitas coisas, sendo que em sua maioria eram totalmente desconhecidas para mim, como defesa, e para os policiais que ali estavam”.

Ainda conforme a nota, o suspeito “buscou esclarecer diversas situações que ainda pairavam e necessitavam de explicações”. Ela cita doações feitas, ainda em vida, pelo pai de Priscila ao cliente e também se refere a uma dívida que ele havia contraído, da qual a enfermeira sabia.

A advogada finaliza escrevendo que vai buscar analisar as informações e ajudar a família de Priscila a entender o ocorrido para que a “verdade seja totalmente esclarecida”.


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