Após morte de 26 presos, Rio Grande do Norte tem nova rebelião

Após morte de 26 presos, Rio Grande do Norte tem nova rebelião

Motim é represália aos assassinatos na briga entre facções

AE

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Os detentos do Presídio Provisório Professor Raimundo Nonato Fernandes, na zona Norte de Natal, iniciaram uma rebelião na madrugada desta segunda-feira. De acordo a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Vilma Batista, os
presidiários afirmam que o motim é uma represália às mortes de presos na briga entre facções no sábado, dentro da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal.

Os detentos construíram barricadas para impedir a entrada de agentes carcerários e ameaçaram atacar os presos que ficam no Pavilhão 2 da unidade, que são rotineiramente intimidados pelos demais por auxiliarem nos serviços gerais do presídio. Vilma disse ainda que os detentos juraram vingança e que essa resposta não deve acontecer somente dentro dos estabelecimentos prisionais do Estado do Rio Grande do Norte.

O Grupo de Operações Especiais dos agentes carcerários já entrou no Presídio Raimundo Nonato e trabalha com o objetivo de conter a rebelião. Vilma afirmou que os agentes conseguiram impedir o contato entre os rebelados e os presos que seriam atacados. No entanto, ainda havia tensão dentro da unidade na manhã desta segunda-feira.

O Presídio Provisório Professor Raimundo Nonato Fernandes é o mesmo em que, em janeiro do ano passado, 46 detentos conseguiram escapar por um túnel. Foi a maior fuga ocorrida em presídio da história do Rio Grande do Norte.

Na ocasião, os presidiários cavaram um túnel de 40 metros a partir do Pavilhão B da unidade até o Complexo Penal João Chaves, que custodia presos em liberdade provisória e fica no prédio ao lado.

Sobre a rebelião desta segunda-feira, o Sindicato dos Agentes confirmou que boa parte do presídio foi danificada. Enquanto promoviam o quebra-quebra, presos gritavam contra os agentes e repetem o nome da facção Sindicato do Crime do RN. A unidade abriga 496 detentos.


Penitenciária Estadual de Alcaçuz atende quase o dobro da capacidade

A Penitenciária Estadual de Alcaçuz, que registrou uma rebelião com 26 mortos entre sábado e domingo, tem praticamente duas vezes mais presos do que sua capacidade original. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o presídio comporta somente 620 presos, mas hoje tem 1.150 - um déficit de 530 vagas.

Rio Grande do Norte tem hoje 168 unidades prisionais (incluindo delegacias) e atende 8.538 presos sob uma capacidade para somente 5.659. Desses, 2.759 são provisórios e outros 1.309 estão em prisão domiciliar.

Terceiro massacre

As mortes no Rio Grande do Norte são mais um capítulo da guerra de facções nos presídios brasileiros, que ganhou força na virada do ano e fez, em três massacres, 119 vítimas. No dia 1º, presos da FDN lideraram a matança de 60 presos do PCC em Manaus, no Amazonas. A retaliação veio após cinco dias, quando o PCC matou 33 rivais em uma prisão em Boa Vista, Roraima. A disputa por rotas de tráfico de drogas nas fronteiras e o avanço do paulista PCC no Norte e no Nordeste estão entre os motivos .

Na manhã desse domingo, o presidente Michel Temer se manifestou por meio de sua conta no Twitter. Disse que acompanhava a situação desde o dia anterior e que determinou ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que preste o auxílio necessário ao governo do Rio Grande do Norte. Quando houve o massacre em Manaus, o presidente foi criticado por ter se manifestado apenas quatro dias depois.

Em nota, Moraes informou que, a pedido do governador, autorizou "que parte dos R$ 13 milhões do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), liberados no dia 29 de dezembro de 2016 para modernização e aquisição de equipamentos, seja utilizada em construções que reforcem a segurança no presídio".

O presidente da Comissão dos Advogados Criminalistas da Ordem dos Advogados do Brasil do RN, Gabriel Bulhões, acusou o governo de omissão. "É uma tragédia anunciada. Havia a informação de que eles estavam se armando há algum tempo. As medidas, porém, não foram adotadas." O secretário de Justiça e Cidadania do RN, Wallber Virgolino, negou e disse que as "coisas mudam como as nuvens".

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