Chacina em Cidreira: por que facções travam guerra no litoral Norte

Chacina em Cidreira: por que facções travam guerra no litoral Norte

Disputa por pontos de tráfico gera crimes em região que é porta de entrada de drogas no estado

Marcel Horowitz

Polícia investiga relação entre chacina em Cidreira e disputas por pontos de tráfico

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O lucro move facções no litoral Norte, uma das rotas do tráfico no Rio Grande do Sul. Isso porque a busca por drogas cresceu, na medida em que mais pessoas foram morar na região após a pandemia. Há também redução do efetivo policial quando o veraneio termina, período em que o crime organizado trava disputas por fatias do mercado consumidor.

Ainda é apurada a motivação da chacina que matou cinco pessoas no bairro Parque dos Pinus, em Cidreira. Uma linha de investigação da Polícia Civil é que o ataque foi fruto de guerra entre facções. A instituição destacou, no entanto, que parte das vítimas não tinha elo com traficantes.

De acordo com policiais militares, a suspeita é que houve pessoas assassinadas apenas por ‘estar no local’ do atentado. Eles acreditam que o intuito dos criminosos foi demonstrar força e intimidar moradores. A violência seria uma etapa para tomar pontos de tráfico.

Um homem preso em outra ocorrência, também na quarta-feira, teria admitido a soldados do 8º BPM que conhecia os suspeitos da chacina. O relato informal daria conta que o grupo integra uma facção com origem no bairro Bom Jesus, na zona Leste de Porto Alegre.

Lucros do tráfico

Há predomínio de duas organizações criminosas no litoral Norte. Uma delas é a que surgiu na zona Leste da Capital e outra, tem base no Vale do Sinos.

Desde 2013, ambas facções disputam pontos de tráfico na região. Os investigadores, contudo, não descartam que ocorra uma aliança de ocasião para impedir a chegada de outras quadrilhas oriundas de Porto Alegre.

O diretor geral do Departamento de Repressão ao Narcotráfico (Denarc), delegado Carlos Wendt, explica que a soma de circunstâncias faz do litoral Norte uma fonte de renda lucrativa ao tráfico. O primeiro fator seria a posição geográfica.

Wendt destaca que a região é porta de entrada de drogas no estado, por conta da proximidade com Santa Catarina. Os laços entre traficantes gaúchos e catarinenses foram revelados na Operação Squadrone, que desarticulou o esquema através do qual as facções dividiam compra e distribuição de entorpecentes nos dois estados.

Ainda conforme o diretor do Denarc, traficantes também lucram com o aumento da população litorânea. O movimento foi alavancado pela pandemia e, somado a migrações circunstanciais na alta temporada, impulsionou a venda de drogas.

“Após a pandemia, houve muita gente que se mudou para o litoral Norte. Também há o veraneio, quando ocorre aumento circunstancial da população. O resultado disso é a maior procura por entorpecentes”, afirmou o delegado Carlos Wendt.

Redução do efetivo

Outro elemento seria a redução do efetivo policial com o fim do veraneio. O chefe de Polícia, delegado Fernando Sodré, aponta que a chacina em Cidreira ocorreu após o fim da Operação Verão Total. A ação ocorreu entre dezembro e março, quando houve reforço de 6 mil agentes da Segurança Pública no litoral gaúcho.

"O veraneio foi tranquilo, com grande movimento e estabilidade na região. Acontece que, com o fim da Operação Verão, naturalmente a pressão operacional diminuiu. Por isso temos monitorado o litoral Norte constantemente”, disse o chefe de Polícia.


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