Chefia de Polícia garante divulgação de operações mesmo sem participação de delegados

Chefia de Polícia garante divulgação de operações mesmo sem participação de delegados

Delegados suspenderam entrevistas como forma de protesto por reposição salarial

Marcel Horowitz

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Passa a vigorar, a partir desta quarta-feira, o boicote a entrevistas estipulado pela assembleia da Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (Asdep), que conta com aproximadamente 500 associados. A medida ocorre como tentativa de pressionar o governador Eduardo Leite a receber a categoria e negociar reposição salarial. Apesar da decisão, a Chefia de Polícia garante que continuará atendendo a imprensa. 

"Vamos continuar nos comunicando institucionalmente", afirmou o chefe de Polícia, delegado Fernando Sodré. "Respeitamos os colegas e a decisão da Asdep, mas não vamos deixar de divulgar nosso trabalho para a imprensa". Ainda segundo ele, os detalhes sobre as operações policiais vão ser divulgados através da divisão de comunicação social da corporação, via WhatsApp. 

Sodré também destacou que a instituição pretende, na medida do possível, continuar promovendo entrevistas. No entanto, o delegado reconhece que a adesão dos colegas ao protesto pode dificultar o fluxo de informações. "Eventualmente vai ser realizada alguma coletiva, mas lógico que isso vai ficar um pouco mais difícil. Por hora, vamos manter a comunicação institucional", disse o chefe de Polícia.

O presidente da Asdep, delegado Guilherme Wondracek, relembra que a inciativa de suspender entrevistas, estipulada na última sexta-feira, também determina que os associados não devem mais divulgar detalhes de operações e nem o número de prisões, seja para a imprensa ou em redes sociais. De acordo com a decisão, o associado que não cumprir a medida vai estar sujeito a uma comissão de ética, podendo resultar, inclusive, em expulsão da entidade. "Em caso de descumprimento, inicialmente, será feita uma advertência. Depois, poderá ocorrer a suspensão dos direitos associativos. Por último, há a possibilidade de exclusão", explicou. 

Ainda de acordo com Wondracek, a suspensão das entrevistas irá continuar até que o governador receba a associação e encaminhe medidas para o reajuste, como a criação de um cronograma e de um grupo de trabalho. Em um período de três meses, afirmou o delegado, foram enviados três ofícios solicitando uma audiência com o governo, sendo que não houve resposta para nenhum desses. 

"Estamos há dez anos sem ter reajustes. Tivemos apenas uma reposição de 6%, no ano passado, que sequer cobre as perdas inflacionárias", afirmou o presidente da Asdep. "Nossa defasagem salarial é mais de 50% e sabemos que é muito difícil compensar isso. Pedimos que o governador nos receba, elabore um cronograma de ajustes ao longo do governo e designe um grupo de trabalho, com a Casa Civil e outros secretários." 

Na terça-feira, Leite encaminhou à Assembleia Legislativa um conjunto de projetos para promover ajustes nos quadros de pessoal de instituições da Segurança Pública e possibilitar a ampliação de promoções. Pelas propostas, vagas dos níveis iniciais de ingresso na Brigada Militar, Polícia Civil e no Corpo de Bombeiros Militar, que hoje não estão ocupadas, serão transformadas em cargos dos níveis finais das carreiras.

As medidas estão alinhadas à estratégia do governo de unificar os territórios de ação regional da PC e da BM, por meio das Regiões Integradas de Segurança Pública (RISPs), criadas via decreto, em junho, para facilitar a articulação entre as duas forças. "É um avanço importante para melhorar a integração das nossas polícias e valorizar os servidores, que muito merecem, especialmente por conta dos importantes resultados que temos obtido na redução da criminalidade", declarou Leite.

"Isso facilita as promoções mas não muda nada em relação ao tempo em que estamos sem reajustes", avaliou Wondracek. "Até o governo indicar que um canal de diálogo está sendo encaminhado nesse sentido, vamos permanecer mobilizados", disse ele, acrescentando que a aprovação do reajuste de 12,36% somente para servidores vinculados ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), Tribunal de Justiça Militar (TJM), Ministério Público (MP-RS), Defensoria Pública do Estado e Assembleia Legislativa, gerou ainda mais indignação entre os policiais. 

Por fim, o delegado garante que o entendimento contra a divulgação das operações não tem a imprensa como alvo. As medidas adotadas pela categoria, enfatizou, também não vão afetar a sociedade.

"Não temos absolutamente nada contra a imprensa, que sempre nos ajudou e tem um papel fundamental. A questão é que não podemos permitir que o governador use a Polícia Civil para fazer propagandas e se negue a nós receber. A população não vai ficar desassistida, apenas vamos ficar em silêncio", concluiu.

Em nota, a Polícia Civil destacou que continuará atendendo a imprensa, em respeitando ao direito à informação da sociedade. O comunicado também destaca o comprometimento da corporação com a transparência e o diálogo.  A reportagem entrou em contato com a assessoria da Casa Civil mas, até o momento desta publicação, não houve resposta. 

Confira a nota da Polícia Civil:

A Polícia Civil comunica que, respeitando o direito à informação da sociedade, continuará atendendo a imprensa através de sua Divisão de Comunicação Social.

As informações solicitadas serão prestadas e, quando for o caso, entrevistas serão concedidas.

A Chefia de Polícia reforça o compromisso com o direito à informação, transparência e diálogo, sempre com o objetivo de melhor atender a sociedade.

    


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