Como execução de líder do tráfico se conecta a 13 mortes em Caxias do Sul desde o início do ano

Como execução de líder do tráfico se conecta a 13 mortes em Caxias do Sul desde o início do ano

Assassinato do traficante ‘Fera’ gerou onda de violência, apontam as forças policiais

Marcel Horowitz

Execuções em Caxias do Sul podem estar ligadas a assassinato de líder de facção

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O corpo de uma mulher foi localizado, nesta terça-feira, em um matagal às margens da Estrada Santo Antônio da Sexta Légua, no interior de Caxias do Sul, na Serra gaúcha. A vítima, ainda não identificada, foi morta com disparos na cabeça. Foi a 13ª morte violenta na cidade desde o início do ano. O número supera o registrado durante todo o mês de janeiro em 2023, que teve 12 homicídios.

Conforme apurou o Correio do Povo, os crimes teriam elo com uma guerra entre duas facções. O estopim ocorreu em julho, porém o confronto teve nova escalada nos primeiros dias do ano. As disputas seriam fomentadas por retaliação.

A noite de segunda-feira foi a mais violenta da primeira quinzena de 2024 no município. Foram quatro mortes em três horas.

Na primeira ocorrência, às 19h, um corpo foi localizado na rua Padre Antônio Vieira, no bairro Cristo Redentor. A vítima é Diego Soares dos Santos, de 32 anos, que respondia por tráfico, ameaça, furto, entre outros. Ele foi assassinado a tiros por uma dupla, que fugiu.

No caso seguinte, às 20h, Augusto César da Silva Barbosa foi baleado e morto na Rua Martins Neves da Rocha, no bairro Centenário. A vítima tinha 22 anos e respondia por ameaça. Uma mulher de 44 anos e um adolescente, de 15, também foram baleados mas sobreviveram. Ambos tinham registros por roubo, ameaça, lesão, entre outros. Um trio teria efetuado os disparos.

Os suspeitos acabaram sendo localizados pela Brigada Militar e houve confronto. Um homem de 27 anos foi preso, outro fugiu e um terceiro, de 21 anos, morreu. O morto foi identificado como João Vítor de Carvalho Oliveira, que tinha antecedentes por tráfico, receptação e posse ilegal de armas. Ele já havia sido preso cinco vezes, sendo a última na sexta-feira, quando planejava assaltar uma joalheria.

Por fim, às 22h, um homem foi morto a tiros dentro de casa, na rua Luiza Mondim Bedin, no bairro Jardim América. A vítima é Henrique Turossi Silva, 41 anos, que respondia por tráfico, roubo e falsificação de documentos. Dois homens que seriam os autores fugiram em uma moto.

Mortes por retaliação

A Polícia Civil não descarta que as execuções tenham relação com as mortes de dois líderes do tráfico na Serra. O primeiro deles era conhecido como Fera, de 40 anos.

Fera foi morto com pelo menos dez disparos, em junho, em Vacaria. Ele era apontado como o maior distribuidor de crack de Caxias do Sul. A quadrilha dele teria vínculos com uma facção surgida no bairro Bom Jesus, na zona Leste de Porto Alegre, mas que também criou ramificações na Serra.

No mês seguinte à morte de Fera, em julho, ocorreram 12 homicídios em Caxias. A maior parte dos casos foi tratado como retaliação. A vingança perdurou até o final do ano. O município contabilizou nove mortes em dezembro.

Execução de rival

A investigação aponta que um novo ciclo de violência teve início a partir do último dia 6 de janeiro, com a morte de outro homem, de 33 anos, apontado como liderança de uma facção rival ao grupo de Fera. Ele foi morto a tiros em um posto de gasolina na RS 122, em São Vendelino.

A execução ocorreu horas após a saída dele da Penitenciária Estadual de Caxias do Sul (Pecs). No dia seguinte, um suspeito foi preso.

O detento era suspeito de envolvimento na morte de Fera. Ele também seria liderança de uma facção rival, com base no Vale do Sinos. No presídio, o detento chefiava as galerias A e B, onde estão detidos os membros do grupo. O cargo dele, no linguajar dos presos, é chamado ‘plantão de galeria’.

Vítimas integravam facções

Conforme dados do Serviço de Inteligência do Comando da BM na Serra, dos 13 mortos em 2024, nove deles já possuíam indiciamentos e dois deles seguem sem identificação. Outros dois não possuem ocorrências policiais, mas são apontados como integrantes de facção.

Em nota, o Comando da BM na Serra confirmou que a crescente onda de homicídios, possivelmente, segue ocorrendo em retaliação pela morte de Fera.

Já o comandante do 12º BPM, tenente-coronel Ricardo Moreira de Vargas, preferiu não se manifestar sobre a guerra de facções. Ele destacou, no entanto, que a maioria das vítimas tinha passagens pelo sistema prisional.

"Esses grupos disputam território com rivais e há repiques, por busca de espaço e por acerto de contas. Todavia, se os criminosos ficarem preventivamente presos e cumprirem suas penas, com certeza as lideranças vão enfraquecer. Nossa preocupação é que nenhum cidadão de bem seja atingido. Por isso estamos fortes nas ruas, com abordagens e operações de saturação de área”, enfatizou o coronel.


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