Conflito entre traficantes assusta moradores das ilhas

Conflito entre traficantes assusta moradores das ilhas

Posto de saúde localizado na Ilha dos Marinheiros amanheceu fechado pelo segundo dia

Karina Reif

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O conflito entre os traficantes das ilhas do Pavão e dos Marinheiros que tem resultado em uma série de homicídios nas últimas semanas está apavorando muitas pessoas que moram na região. A recicladora Kátia Raquel de Couto, 38 anos, não tem saído com os filhos. “Tenho cinco crianças e quatro delas vão para a escola, mas agora não dá para ir”, afirmou. Ela mora na rua A da Ilha do Pavão, onde foi encontrado na quarta-feira o corpo de um jovem de 25 anos boiando no Guaíba. Quando questionada sobre o tiroteio, não quis se manifestar por medo. Os demais moradores não falam sobre o assunto nem mesmo para a polícia.

O posto de saúde localizado na Ilha dos Marinheiros amanheceu fechado pelo segundo dia. No entanto, nesta sexta-feira o motivo foi o ponto facultativo decretado pela prefeitura. A aposentada Tereza Gomes, 66 anos, foi ao local na quinta e na sexta-feira. “Eu tinha consulta marcada para o clínico geral na quinta-feira, mas estava fechado. Ninguém avisou”, observou. O neto Herick Gomes de Oliveira, 10 anos, deveria estar estudando com os colegas, mas andava de bicicleta, porque a Escola Estadual Ensino Fundamental Oscar Schmitt não abriu nos últimos dois dias. “Eu fico com bastante medo e meus pais disseram para eu não ficar na rua de noite”, contou.

Contudo, a Brigada Militar minimizou o conflito. Segundo o oficial de serviço externo do 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM), o primeiro tenente Alexandre Cunha Gomes, as ações de policiamento foram intensificadas, mas não houve nenhuma operação especial na região, somente rondas para tranquilizar a comunidade. “Está tudo pacífico e sob controle”, afirmou. Um homem e dois adolescentes foram presos, na manhã de quinta-feira, na Ilha do Pavão com munição e dois coletes à prova de bala, além de quatro toucas ninja na Ilha do Pavão. A suspeita é de que eles tenham ligação com quadrilhas das ilhas. “Não vamos dizer que se estabeleceu um surto, nem toque de recolher”, declarou.

Enquanto alguns relatam medo, outros seguem a rotina, sem se preocupar com conflitos entre criminosos. “A gente tem que entregar a vida nas mãos de Deus. Não posso ficar sem trabalhar. Acho que o que existe é um medo coletivo generalizado por causa da violência”, avaliou o comerciante da Ilha dos Marinheiros Nei Mário Souza Oliveira, 52 anos. Ele não fechou o estabelecimento em nenhum dia. “Até hoje nunca fizeram nada contra mim. Não é porque meia dúzia se desentendeu que vou fechar”, disse.

O conflito envolve traficantes da ilha Grande dos Marinheiros contra os rivais da ilha do Pavão, cujo líder do narcotráfico foi assassinado recentemente em Alvorada, onde teria se refugiado. Uma série de boatos sobre outras mortes circulam na região, o que motivou uma operação do 9º BPM na quinta-feira. ?

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