Conheça o treinamento dos cães que auxiliam a Polícia Penal gaúcha

Conheça o treinamento dos cães que auxiliam a Polícia Penal gaúcha

Sistema penitenciário conta com reforço de 288 cachorros no RS; animais atuam em operações e na rotina prisional

Marcel Horowitz

RS conta com 288 cachorros que atuam no sistema penitenciário

publicidade

Os cães reforçam as ações da Polícia Penal. Ao lado dos agentes, eles atuam na vigilância preventiva, na frustração de tentativas de fuga, procedimentos de revista e em escoltas. No Rio Grande do Sul, o sistema penitenciário conta com a atuação de 288 cachorros.

O Canil da 9ª Delegacia Penitenciária Regional (DPR) é um dos estabelecimentos onde os animais recebem treinamento no estado. “Quando há um cão junto, o ímpeto dos presos de reagir diminui. O cachorro tem um poder de persuasão psicológica muito grande. Isso inibe o comportamento do apenado”, destacou o coordenador do Canil e responsável técnico do Grupo de Operações com Cães (GOC), Anderson Cardoso.

Criado em 2019 na Penitenciária Estadual de Arroio dos Ratos, o Canil da 9ª DPR é referência no sistema prisional gaúcho. Inicialmente, a proposta era atender às necessidades da unidade mas, em 2021, passou a atender cadeias estado afora.

O local soma 16 cães. A matilha é supervisionada por Cardoso e Hugo Gomes, agentes com habilitação em cinotecnia, área que engloba conhecimentos e técnicas relacionados a emprego, manejo, treinamento, estudo de comportamento e seleção genética do cão.

As atividades de faro e intervenção estão entre as funções desempenhadas. O cão de faro é empregado para detectar um possível ingresso de materiais ilícitos nas unidades. Além disso, facilita os procedimentos de revista em celas, por identificar pontualmente o local em que está escondido algum material proibido.

A partir do odor das substâncias usadas na fabricação de itens ilícitos, os cães são treinados a identificar a presença deles em qualquer ambiente. Eles também podem ser utilizados para busca em caso de fuga, por meio do cheiro específico do fugitivo, que pode ser extraído de uma peça de roupa. Também há cães que atuam no entorno dos presídios, com o intuito de impedir fugas.

Na parte de intervenção, os animais suplementam a segurança dos estabelecimentos prisionais e dos agentes penitenciários. Em operações, servem como apoio para inibir tentativas de subversão por parte dos apenados. Os cães possuem treinamento para latir e para atacar, caso necessário.

Em 2023, o Canil da 9ª DPR participou de 48 operações. “De quase dez mil presos revistados no último ano, nenhum tentou reagir. Nunca tivemos ocorrências nas quais o cão teve que atacar nessa situação”, relatou Cardoso.

Instituído no último ano, o Grupo de Operações com Cães ainda está em processo de estruturação. A ideia é unir canis regionais, que atendem às regiões penitenciárias e outras forças de segurança, e setoriais, que atuam nas unidades prisionais nas quais estão sediados. O RS conta com canis regionais nas 2ª, 7ª, 8ª e 9ª DPRs, além de canis setoriais em diferentes estabelecimentos.

Desenvolvimento de cães policiais

Os cães ingressam no sistema prisional, em média, com até um ano e meio de idade. Geralmente, são adquiridos pelos servidores ou doados por canis privados.

O período de treinamento para começar a trabalhar varia. Alguns precisam de mais tempo e outros de menos, podendo variar de três a seis meses. Nessa etapa, eles passam por testes para verificar se estão aptos ao trabalho prisional.

Há casos em que os animais não se adaptam ao serviço. Isso pode acontecer em função da personalidade do cão. Quando é constatada a inaptidão, seja por incompatibilidade comportamental, doença irreversível ou fatores que impliquem no desempenho abaixo do padrão esperado para a atividade prisional, eles são adotados por servidores da instituição.

Cardoso explica que, em operações, ocorrem diversos barulhos, o espaço é escuro, há odores diferentes e pessoas falam alto. Nesse cenário, os cães precisam ter a capacidade de continuar agindo normalmente.

Quando um cão atinge oito anos de trabalho ou dez anos de idade, ele é aposentado. Na aposentadoria, pode permanecer com quem o conduziu por mais tempo. Se a pessoa não puder ficar com ele, é doado a outro servidor do canil no qual trabalhou ou da Polícia Penal.

Fortalecimento de vínculos

Em canis de instituições de segurança, é comum ocorrer a formação de uma dupla formada por um cão e seu condutor, chamada de binômio. A formação da parceria ocorre desde a chegada do animal ao serviço e compreende o adestramento, a rotina diária e a participação em operações, cursos e campeonatos, por exemplo.

Logan, um pastor alemão de três anos e meio, é o parceiro de Cardoso, e Mohoc, um pastor holandês de cinco anos, é o de Hugo. Como eles trabalham a maior parte do tempo juntos, o fortalecimento dos vínculos é fundamental para aperfeiçoar o treinamento e aumentar o companheirismo e a confiança em serviço.

“Para atuar em escala maior e por mais tempo, o cão tem que treinar, descansar e ter uma qualidade de vida boa”, explicou Hugo, que está com Mohoc há cerca de um ano e permanece com ele fora do ambiente prisional.

Logan está com Cardoso desde os 60 dias de vida. Quando acaba o expediente, o cachorro segue para casa com ele. “O cão precisa passear e ter uma vida livre. Não é só trabalho. Há momentos em que é preciso deixar o cachorro ser cachorro. Quando colocamos eles na responsabilidade do serviço, com a coleira e a guia, eles veem a nossa farda e sabem que é hora de trabalhar. Eles conseguem separar os momentos”, disse.

A parceria entre os agentes e cães não se limita às ações. As tarefas realizadas em conjunto reforçam que os cachorros não são apenas parte do trabalho, mas companheiros de vida dos servidores da Polícia Penal gaúcha.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895