Corpo de motorista de aplicativo é velado em Guaíba

Corpo de motorista de aplicativo é velado em Guaíba

Jovem de 22 anos foi assassinado enquanto trabalhava

Correio do Povo e Rádio Guaíba

Sepultamento ocorre na tarde deste sábado

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*Com informações de Franceli Stefani e Jessica Moraes

O corpo do motorista de aplicativo Paulo Júnior da Costa, 22 anos, é velado neste sábado, em Guaíba, na Região Metropolitana. Ele foi encontrado morto na última sexta-feira, no interior de Laguna, em Santa Catarina. Dois homens foram presos pelo envolvimento no caso, e apontaram a localização do corpo. Ele estava desaparecido desde a noite do Ano Novo.

A cerimônia, que começou na madrugada, na capela do Narciso, no Centro da cidade, reúne amigos, familiares e conhecidos da família. Com o caixão fechado, a mãe Neiva Amador, 39 anos, não sai do lado do jovem. “Não consegui ver meu filho. A mãe está muito abalada. Arrumamos força no nosso filho de 10 anos, que ainda acredita que o ‘mano’ vai voltar”, conta o pai da vítima, Flávio Paulo da Costa, 49 anos.

Ele frisa que o estudante de engenharia da UniRitter deixa uma legião de amigos: era querido por todos que o cercavam. “Meu coração está partido. Pegassem o carro, me pedissem dinheiro, eu dava até a minha casa para eles, mas não matassem o meu filho”, acrescenta, inconformado.

Conforme Costa, Juninho, como era carinhosamente conhecido, havia dito à namorada que o seu desejo era de que fosse cremado. “Não pude cremar meu filho agora, somente depois de três anos porque foi morte violenta. Então precisei alugar uma gaveta para depois desse tempo levar ele para casa. Era a vontade dele. Quando o corpo foi encontrado a namorada dele me avisou. Ele queria ficar junto com o pai e a mãe”, lamenta.

Com a voz embargada pela saudade, revela que o filho era amoroso e sempre disposto a colaborar. “Foi um anjo que só trouxe alegria. A dor que eu estou sentindo é imensa. Tudo o que olho, lembro dele.”

O estudante dirigia o Grand Siena, quando, por volta das 17h do dia 31 de dezembro, atendeu uma corrida pelo aplicativo em Porto Alegre. “Ele dirigia para complementar a renda, mas era para fazer só aqui em Guaíba, mas aquele dia estava fraco e ele resolveu ‘se mandar’ para lá. Nós sempre chamávamos ele, dizíamos para voltar, e ele comentava que estava vindo”, relata.

Os momentos de angústia começaram quando as mensagens enviadas à namorada não faziam sentido. “Desde às 22h daquele dia não descansamos. Recebemos muitas informações falsas, pessoas tentando extorquir dinheiro e se aproveitando da situação. Foi a pior coisa do mundo. Ao meio-dia da sexta-feira, chegamos de Osório, onde estavam em buscas e a delegada ligou dizendo que tinham encontrado o corpo.”

“Eles são anjos do mal”, diz pai de motorista

Os dois homens presos pela polícia têm longa ficha criminal. Muitos crimes graves, como homicídio, tráfico, roubo e ameaça. Um deles, quando foi preso, usava a corrente que Juninho tinha no pescoço. “O pai e a mãe deles devem ter vergonha do que eles fizeram. Não são humanos. Eles são os anjos do mal. Não foi só para a minha família que eles fizeram o mal, para outras também. Nunca vou conseguir perdoar”, expressa.

O pai conta que Juninho havia comprado uma camiseta branca, com a estampa do presidente da República Jair Messias Bolsonaro, que usaria no dia da posse. Ele acreditava que o país mudaria, a partir de agora. “O Brasil precisa rever o Código Penal, porque os bandidos fazem e acontecem e logo vão para o semiaberto e eles sabem disso. A certeza da impunidade vai matando, aos poucos, as famílias.”

Foi a tiros que os criminosos arrancaram os sonhos do estudante de engenharia. O jovem alegre, que distribuía sorrisos e colecionava amigos, era querido por todos que o conheciam. Desde o desaparecimento, na noite do Ano Novo, criou-se uma onda de solidariedade.

“Se fosse um filho ruim, a gente falaria, mas ele sempre queria trabalhar para ajudar o pai. Acho que ele só veio ao mundo para ajudar no mundo. Vim sofrendo tanto nesses dias, a mãe dele está desesperada, meu coração está partido, só estamos vivendo pelo nosso pequeno”, exclama.

O sentimento que fica, de acordo com Costa, é de não ter falado mais “eu te amo” e também de deixar de ter feito mais programas em família. “Perco um filho, um amigo. Perdi tudo, perdi o chão. Agora é seguir em frente, mas tudo o que olho na casa é dele. Temos muita gente nos apoiando, muitos desconhecidos, é preciso seguir em frente. Só peço a Deus que ilumine a família.”

Manifestações

Na tarde deste sábado, os motoristas de aplicativo irão realizar uma carreata para o funeral. A concentração será na zona Sul, em frente ao Asilo Padre Cacique, a partir das 14h. A saída está planejada para as 15h. O itinerário será: Avenidas Padre Cacique, Praia de Belas, Loureiro da Silva, Túnel da Conceição, Freeway e BR 116. A Associação da Liga dos Motoristas de Aplicativos (Alma) pede que os condutores levem fitas e balões pretos.

Na tarde de ontem, um grupo de 80 motoristas da Uber realizou um protesto pelas principais ruas de Guaíba, onde Paulo morava com a família. Os carros estavam todos com fitas pretas, representando o luto pelo assassinato do colega, cujo corpo foi encontrado em Santa Catarina.

O protesto contou com a presença de familiares de Paulo. A mãe da vítima, Neiva Amador, falou aos motoristas antes de iniciar a carreata. Muito emocionada, ela disse para os profissionais preservarem a própria segurança. Os condutores de Guaíba decidiram suspender o atendimento através do aplicativo.

Em nota, a Uber lamentou a morte do motorista. "Estamos profundamente entristecidos em saber que Paulo Junior da Costa foi vítima desse crime terrível. Nossa solidariedade e nossos sentimentos estão com a família nesse momento de enorme tristeza e dor. A Uber segue à disposição das autoridades para colaborar com as investigações, fornecendo todos os dados necessários, na forma da lei, e espera que os responsáveis pelo crime sejam punidos", diz o comunicado.

O crime

Em coletiva de imprensa, a titular da 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (2ªDPHPP) de Porto Alegre, delegada Roberta Bertoldo, afirmou ontem que Paulo da Costa foi morto com disparo de arma de fogo. As investigações ainda tentam esclarecer em qual data o jovem teria sido executado, uma vez que os criminosos teriam obrigado o motorista a dirigir até Laguna na véspera do Réveillon.

Conforme a delegada, Paulo atendeu uma chamada às 17h na rua do Povo, no bairro Sarandi, em Porto Alegre. “Essa corrida teria terminado em Santo Antônio da Patrulha, conforme informações da empresa Uber. A partir dali foi feito desligamento do aplicativo”, revela. 

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