Cremers analisará conduta de médico suspeito de torturar enfermeira

Cremers analisará conduta de médico suspeito de torturar enfermeira

Mulher teria sido mantida em cárcere privado em Porto Alegre

Correio do Povo

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O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) vai analisar a conduta do clínico geral de 53 anos preso na quinta-feira pela Polícia Civil sob acusação de cárcere privado e tentativa de homicídio contra uma enfermeira de 51 anos em Porto Alegre. O departamento jurídico da entidade pretende avaliar se caberá alguma punição. “Nós vamos analisar se as ações dele ao atender esta pessoa, usando os conhecimentos médicos, poderá levá-lo a ser enquadrado dentro de alguma responsabilidade”, explicou o presidente do Cremers, Rogério Aguiar.

Conforme o Cremers, o clínico geral se formou em 1988 na Faculdade de Medicina da Puc e está apto a exercer a profissão. Até 2005 ele teria trabalhado em uma clínica que pertencia ao pai, mas que faliu. Após, passou a oferecer seus serviços na web.

A delegada Nadine Aflor, titular da DP para a Mulher, aguarda os laudos periciais do Departamento Médico Legal (DML) para concluir o inquérito e remetê-lo à Justiça. Nesta sexta-feira, ela ouviu novamente o médico, que teria torturado e mantido trancada a enfermeira entre os dias 2 e 19 deste mês na casa dele, no bairro Glória. Conforme a delegada, o clínico geral seria usuário de droga e apresentaria um histórico de violência contra a mulher.

A titular da DP da Mulher revelou que, em junho, o médico passado à vítima um atestado para justificar uma ausência no trabalho. Conforme Nadine Anflor, o clínico geral se passou pelo pai, que tem o mesmo nome, mas dermatologista, para falsificar um atestado, que alegava que a enfermeira não poderia comparecer ao trabalho por pelo menos duas semanas em razão de problemas de pele.

Durante o período em permaneceu refém do médico, a enfermeira chegou a fazer contato telefônico com a família, mas teve de mentir que estava na praia, pressionada pelo namorado. Nas sessões de tortura, a vítima teve vários ferimentos causados por relhos, cortadores de unha e agulhas.

A delegada Nadine Aflor disse também que o médico manteve a mulher sedada. “Tanto para aliviar a dor e continuar praticando tortura, quanto para impedi-la de fugir”, acrescentou. Além da violência, o suspeito ainda sacou R$ 3 mil em dinheiro da conta da enfermeira, correspondente ao salário de um mês, para compra de drogas.

Os pais do clínico geral, que moram numa casa no mesmo terreno, estranharam a ausência da namorada do filho durante as refeições. No começo, ela participou do almoço por duas vezes, mas depois não foi mais vista, sob alegação de estar dormindo. A delegada contou que os familiares notaram que havia algo estranho, mas não puderam fazer nada em razão de serem bem idosos.

Em um momento de distração do suspeito, na manhã do dia 19, a enfermeira conseguiu fugir. A mãe dele chamou um táxi e a mulher pediu ajuda ao ex-marido, pai de seu filho. A Polícia Civil foi, então, acionada. A vítima apresentava diversas marcas no rosto e corpo, além de ter o cabelo cortado, e inclusive ficou com dificuldade para caminhar. Ela fez exames de lesões corporais no DML e foi encaminhada ao hospital da Santa Casa de Misericórdia, onde se recupera dos ferimentos.

A prisão preventiva do suspeito, em razão de cárcere privado e lesão corporal, foi decretada pela Justiça na quarta-feira passada. O médico foi preso em sua casa na quinta-feira e levado ao Presídio Central.

O casal, que se conheceu e namorou na adolescência, havia retomado o relacionamento no começo deste ano. O homem já teria se mostrado agressivo anteriormente. Nadine Aflor relata que, segundo depoimentos de familiares, ele já havia sido violento com a ex-mulher, com quem tem uma filha, o que motivou a separação há vários anos. “Ele já apresentava histórico de violência, o que foi potencializado pelo uso de drogas”, afirmou a delegada, observando que a própria família atribui a atitude do médico ao vício em crack. O suspeito tem antecedentes criminais por furto e roubo.

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