Furtos de fios e cabos preocupam autoridades em Porto Alegre

Furtos de fios e cabos preocupam autoridades em Porto Alegre

Mais de 11 quilômetros de fiações de semáforos foram furtados no primeiro trimestre deste ano, segundo EPTC

Felipe Faleiro

Segundo a EPTC, somente de janeiro a março, mais de 11,4 quilômetros de cabeamento de energia e outros itens semafóricos foram furtados na Capital

publicidade

Na noite da última terça-feira, três homens foram presos e meia tonelada de fios furtados do patrimônio público foi apreendida no bairro Humaitá, zona Norte de Porto Alegre. Até o momento, foi a maior apreensão deste material no ano. Com isto, a ocorrência em questão ingressou em estatísticas consideradas preocupantes, relacionadas ao furto de fios e cabos na Capital. Dados da CEEE Grupo Equatorial mostram que, no ano passado, houve 2.381 crimes do tipo na cidade, totalizando 71,4 quilômetros ou 26 toneladas do produto subtraídos.

O prejuízo estimado em 2022 foi de R$ 1,7 milhão, e 900 mil clientes foram afetados. Em 2023, a empresa ainda não realizou levantamento. “Não ficamos alheios a estas ocorrências. No intuito de combater este crime, a companhia trabalha em parceria com a Polícia Civil e Brigada Militar para identificar os furtadores”, informa a CEEE Grupo Equatorial, em nota. A empresa observa que, na Capital, os furtos são pequenos, de cerca de 30 a 40 metros de cobre por vez, em média.

Já de acordo com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), somente de janeiro a março deste ano, mais de 11,4 quilômetros de cabeamento de energia e outros itens semafóricos foram furtados na Capital. Da mesma maneira, até a terça, 162 sinaleiras haviam sido restabelecidas pelas equipes de campo em 2023, diz a EPTC. Os sempre visados fios de cobre constituem um ativo ainda valioso aos criminosos, que se valem de uma rede, em que alguns ramos estão inclusive fora do Rio Grande do Sul.

Buscando tentar reduzir o problema localmente, as forças de segurança da Capital lançam mão de iniciativas como as operações Ferro-Velho, para coibir a receptação por parte destes estabelecimentos, e Sinal Vermelho, de combate aos furtos de fios nos semáforos e áreas públicas. Ambas são constituídas por forças-tarefas integradas e coordenadas pelo secretário municipal adjunto de Segurança (SMSEG), comissário Luís Zottis, que alega resultados satisfatórios até o momento.

“O trabalho já vem sendo realizado há mais de um ano, e a Sinal Vermelho ocorre mais desde que houve este surto, podemos dizer assim, dos furtos de fios de semáforos. Com os dados que temos, mapeamos estes pontos e a Guarda Municipal vem atuando. Estas duas ações têm dado um ‘choque’ no sistema”, afirma ele. Neste ano, áreas dos parques Moinhos de Vento, Redenção e Marinha do Brasil, alguns dos principais de Porto Alegre, já sofreram com períodos às escuras, o que aumenta a sensação de insegurança e inibe os passeios noturnos da população.

A EPTC afirma que a área central, no entorno de vias como Vasco da Gama e Irmão José Otão, é uma das áreas mais visadas para esta delinquência. O diretor-presidente do órgão, Paulo Ramires, diz que as equipes de manutenção têm “trabalhado intensamente” para minimizar os impactos no trânsito e o prejuízo financeiro. “Os transtornos ocasionados em relação ao furto em semáforos e nos instrumentos de sinalização podem levar ao risco de morte em acidentes, atropelamentos ou mesmo por choques elétricos”, observa Ramires. “O que tem auxiliado a segurança pública no caso dos furtos em parques é o monitoramento”, comenta Zottis.

Cadeia dos furtos não termina no RS, afirma delegado

O titular da Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Contra o Patrimônio das Concessionárias e dos Serviços Delegados, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DRCP/Deic), delegado Luis Firmino, afirma que há todo um elo neste crime, que inicia no Rio Grande do Sul e pode terminar em São Paulo, destino de ao menos uma rota já identificada e investigada pela Polícia Civil. “É um produto de muito interesse por parte destes criminosos”, diz ele.

“Vão sendo juntadas estas pequenas cargas que pequenas reciclagens de Porto Alegre e Região Metropolitana recebem, e encaminhadas a receptadores de médio porte. Eles encaminham as cargas para fora do Estado, então nosso trabalho vem sendo acentuado na investigação destes grandes receptadores”, comenta Firmino, que classifica como “complexa” esta modalidade de crime. “De certa forma, o prejuízo material para a empresa é pequeno, mas enorme para a sociedade”.

Olhar para o social é importante, diz professor

O professor titular da Escola de Direito da PUCRS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, afirma que, por esta cadeia iniciar com usuários de drogas a exemplo do crack, a solução passa pelo mapeamento destas pessoas e ampliação de serviços públicos de atendimento à saúde mental. “Talvez este seja um ponto fraco de nossa política de enfrentamento às drogas, porque acaba muito focada na repressão, mas se deixa de lado justamente a dimensão destes indivíduos que são usuários, e recorrem às atividades ilegais para ter acesso a elas”, afirma.

Para Azevedo, esta integração entre os órgãos de segurança pública no âmbito das operações de combate ao crime é positiva. “Mas é preciso que haja acompanhamento destas pessoas, para que seja dado um encaminhamento a elas, tanto no âmbito municipal, quando estadual. Claro que a repressão é necessário, mas inclusive a penalização é baixa. As pessoas que cometem este tipo de delito contam com a ideia de que não vai haver uma responsabilização criminal pesada”, comenta o professor.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895