Investigações apontam que quadrilha tentava fraudar todos os concursos públicos

Investigações apontam que quadrilha tentava fraudar todos os concursos públicos

No caso de vestibulares, criminosos cobravam entre R$ 80 mil e R$ 160 mil

Agência Brasil

Há suspeitas de que criminosos tentariam fraudar também o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)

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A Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), da Polícia Civil do Distrito Federal, informou que a quadrilha investigada na segunda etapa da Operação Panoptes, deflagrada nesta segunda-feira (30), tentou fraudar concursos públicos e vestibulares de todas as bancas, não se restringindo apenas aos concursos promovidos pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) - o antigo Cespe, da Universidade de Brasília. Há suspeitas de que eles tentariam fraudar também o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas até o momento isso ainda não foi oficialmente confirmado.

De acordo com os investigadores, no caso de vestibulares, a quadrilha cobrava entre R$ 80 mil e R$ 160 mil. Já no caso dos concursos públicos, o valor cobrado era de 20 vezes o valor do salário a ser recebido. “Muitos davam um sinal entre R$ 10 mil e R$ 20 mil e, depois de assumirem o cargo, faziam empréstimos consignados para pagar o restante”, explicou o delegado Maurilio Coelho Lima, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco).

Segundo o delegado-chefe adjunto da Deco, Adriano Valente, o chefe da quadrilha é Hélio Ortiz, preso desde a primeira etapa da operação. “Eles tentavam fraudar todos os concursos, não apenas o Cebraspe. Todas as bancas de todos os concursos sofreram tentativas de fraudes. Todos serão objetos de medidas mais duras pela Polícia Civil do Distrito Federal”.

Até o final da manhã desta segunda-feira, três dos cinco mandados de prisão preventiva já haviam sido cumpridos. Um deles é Ricardo da Silva Nascimento, um ex-funcionário do Cebraspe que já havia sido demitido por suspeitas de participação nessa organização. Ricardo trabalhava no Cebraspe desde 2014, e vinha sendo investigado desde 2016.

“É muito importante frisar que o Cebraspe não participa dessa organização criminosa, e que vem colaborando desde o início, trazendo todas informações necessárias para que pudéssemos pedir a prisão preventiva do Ricardo, que era responsável por digitalizar os gabaritos das provas", disse o delegado Valente.

Valente informou que só nas contas de Ricardo foram movimentados cerca de R$ 1 milhão com essas fraudes em 2016. “Ele recebia o gabarito e, antes de digitalizá-los, preenchia as questões com a resposta correta”, acrescentou.

De acordo com o delegado, também foram alvo de prisão preventiva Weverson Vinícius da Silva que, segundo os investigadores, aliciava candidatos a pagarem pela aprovação. Valente citou o nome de outras duas pessoas - Alda Maria de Oliveira e Milson Iran da Silva - que, por terem colaborado com as investigações, já foram colocadas em liberdade. “Eles aliciavam candidatos voltados a vestibulares, em especial para o curso de medicina”.

Segundo o delegado Lima, da Deco, os criminosos não tinham o menor pudor para oferecer as vagas. “Eles ofereciam (as vagas) até para pessoas que viam nas ruas com apostilas no braços. Muitos desses abordados disseram se sentir intimidados. Afinal, estudavam há muito tempo e tinham medo de não passar. Com isso acabaram aceitando a proposta”, disse.

“A PCDF vai chegar em todos que fraudaram e que entraram pela porta dos fundos em concurso públicos. Inclusive estamos abertos para quem quer evitar o constrangimento de ser conduzido na frente de familiares ou de colegas de trabalho. Nossa sugestão é que nos procurem antes que isso aconteça, porque temos algumas confissões que explicaram todo o passo a passo”, acrescentou o investigador. Segundo Valente, há “mais de 100 suspeitos praticamente confirmados. Alguns dos ouvidos, inclusive, já confessaram o cometimento do crime".

Em Goiás foi preso André Luiz dos Santos Pereira, que teria comprado vaga para um dos certames. De acordo com os delegados, André também está envolvido com o caso da moeda virtual Kriptacoin, investigada no âmbito da Operação Patrik. “Depois de se envolver com a quadrilha (para adquirir uma vaga em concurso público), André se interessou e passou a ajudar Ortiz, também aliciando outros candidatos. Mais recentemente, ele atuou de forma mais próxima a Ricardo. André cresceu nessa organização. Inclusive parte do dinheiro obtido por ele com a fraude em concursos foi investida na Operação Kriptacoin”, informou o delegado Valente.

De acordo com a PCDF, foram pedidos cinco mandados de prisão preventiva, três de prisão temporária e oito conduções coercitivas. Também estão sendo feitas buscas em 16 endereços localizados em Goiânia e em cinco regiões do DF. A primeira fase da Operação Panoptes foi deflagrada em agosto.

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