Justiça Militar do RS interroga policiais acusados no Caso Gabriel

Justiça Militar do RS interroga policiais acusados no Caso Gabriel

Julgamento, por falsidade ideológica e ocultação de cadáver, está previsto para esta quinta-feira

Kyane Sutelo

Decisão sobre o futuro dos réus será tomada pelo Conselho Permanente da Justiça Militar.

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Começou, nesta quarta-feira, o interrogatório do sargento e dos dois soldados da Brigada Militar acusados de ocultação de cadáver e falsidade ideológica no caso da morte de Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos, em São Gabriel. Dias após passar por abordagem policial, o corpo do jovem foi encontrado em um açude na localidade conhecida como Lava Pés, em agosto do ano passado.

O julgamento está previsto para esta quinta-feira e a decisão será tomada pelo Conselho Permanente da Justiça Militar, uma Juíza de Direito, que preside o Conselho, um oficial superior e três oficiais.

Apesar da prisão dos três acusados ter sido revogada na Justiça Militar, eles estão presos, devido ao processo na Justiça comum, que tramita, paralelamente.

O Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul (TJMRS) ouviu quase 30 testemunhas e 10 informantes. Agora, interroga os réus na 1ª auditoria militar do TJMRS. O plenário, com muitas cadeiras vazias, foi ocupado por cerca de 20 pessoas, entre familiares da vítima, dos acusados e profissionais do local e da imprensa.

Os interrogatórios

Os pais de Gabriel, Rosane Machado Marques e Anderson da Silva Cavalheiro, estavam acompanhados de parentes, quase todos vestindo camisetas com a foto do jovem. Eles aguardavam o início da audiência, ansiosos, no saguão do local, afirmando que só pretendem se manifestar após a sentença. 

O primeiro interrogado foi o sargento Arleu Cardoso Jacobsen, que afirmou não ter visto agressão a Gabriel e que o jovem pediu que sua equipe lhe deixasse na região de Lava Pés, o que disse terem feito. Ele garantiu não saber o que fez uma testemunha afirmar que havia ocorrido violência, nem o que vitimou Gabriel, tendo apenas teorias.

Em diversos momentos, durante o relato do acusado, a família da vítima se entreolhava e balançava a cabeça em sinal de negação às afirmações. O sargento foi questionado pelo Conselho Permanente da Justiça Militar, responsável pela sentença, sobre o fato de terem algemado Gabriel e o colocado no porta malas da viatura, atitudes que o acusado admitiu e considerou que poderiam lhe render punição administrativa.

Foram cerca de três horas de depoimento. Também estão previstos os interrogatórios dos soldados Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso, ambos réus no processo.

Acusação

O Ministério Público confirmou que pretende pedir a condenação dos três réus. “De acordo com o que consta no processo, não tem a menor dúvida da culpabilidade dos acusados”, afirmou o promotor de Justiça Luiz Eduardo de Oliveira Azevedo.

Apesar de não querer detalhar a tese de acusação, o promotor antecipou que utilizarão as próprias alegações dos acusados, principalmente, no caso da falsidade ideológica. “Os policiais, na verdade, confessaram. Disseram que colocaram que tinham atendido e mandado o rapaz embora e não foi isso que aconteceu, eles admitem”, disse o representante do MPRS.

Defesa

A defesa do sargento Arleu Cardoso Jacobsen, composta pelos advogados Mauricio Adami Custódio e Ivandro Bitencourt Feijó, afirmou que acredita na absolvição. “A prova técnica é irrebatível. O GPS da viatura, o sistema de ocorrência, os laudos periciais apresentados, a prova testemunhal, em conjunto harmonioso, espanca, afasta por completo a versão do Ministério Público”, disse Custódio.

A defesa dos soldados Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso, representados pelas advogadas Vânia Jussara Leitão Barreto e Shaianne Lourenço Linhares preferiu não se manifestar.

Relembre o caso

Gabriel Marques Cavalheiro, 18, foi visto pela última vez em 12 de agosto do ano passado, em São Gabriel. No dia 19 do mesmo mês, ele foi encontrado morto em um açude, na localidade de Lava Pés.

O jovem era morador de Guaíba e estava na cidade para prestar serviço militar obrigatório. Segundo o laudo do Instituto-Geral de Polícia (IGP), a vítima morreu por hemorragia interna, provocada por um objeto contundente na coluna cervical. 


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