Mãe e madrasta são condenadas a mais de 50 anos de prisão pela morte de Miguel

Mãe e madrasta são condenadas a mais de 50 anos de prisão pela morte de Miguel

Júri atestou culpa das ex-companheiras por tortura, homicídio qualificado e ocultação de cadáver

Guilherme Sperafico

Yasmin e Bruna foram condenadas após dois dias de julgamento no Fórum de Tramandaí

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Prestes a completar mil dias neste mês de abril, a morte do menino Miguel dos Santos Rodrigues finalmente teve um desdobramento final. Após dois dias de julgamento, por volta das 22h20 desta sexta-feira, o juiz do Fórum de Tramandaí, Gilberto Pinto Fontoura sentenciou a mais de 50 anos de prisão, a mãe e a madrasta do menino, acusadas de terem torturado, matado e ocultado o cadáver. Miguel foi morto aos sete anos entre, os dias 26 e 29 de julho de 2021, em Imbé, no Litoral Norte gaúcho.

Tanto a mãe, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, quanto a madrasta, Bruna Nathiele Porto da Rosa, foram condenadas por homicídio triplamente qualificado, por tortura e ocultação de cadáver. Entre as qualificadoras reconhecidas pelo tribunal do júri estão meio cruel, recurso que impossibilitou a defesa e motivo torpe, além de ter como motivo de aumento de pena o fato de o crime ter sido cometido contra um menor de 14 anos.

Os jurados reconheceram a culpa das duas ex-companheiras por todos os crimes denunciados pelo Ministério Público. As alegações da defesa de ambas as partes foram negadas. A mãe sustentava que o homicídio se deu na forma culposa, sem a intenção de matar, embora reconhecesse a tortura e a ocultação de cadáver. Já a madrasta negava a participação na morte e defendia a absolvição do homicídio, mas também reconhecia a tortura.

Com a condenação, Yasmin terá de cumprir 57 anos, um mês e 10 dias em regime fechado. Bruna foi sentenciada a 51 anos, um mês e 20 dias.

Frieza

Frieza, nenhum tipo de sentimento de tristeza e um pensamento prático sobre como se livrar do corpo. Essas foram as impressões narradas na quinta-feira pelo policial Jeferson Luciano Segatto sobre a postura da mãe. “Quando eu perguntei para ela se caberia um menino de 7 anos na mala, a Yasmin, com a sua frieza, me respondeu: 'Eu botei ele, dobrei a perninha, já para facilitar que, quando eu abrisse a mala, o corpo caísse’”.

Segatto foi um dos primeiros policiais a atender a ocorrência, quando ainda se acreditava na possibilidade de Miguel estar vivo. "A Yasmin chegou no local muito firme, muito incisiva na oratória. Eu notei que ela queria manipular a situação de forma que a gente não tentasse conversar com a Bruna. O que eu pude notar foi a tranquilidade dela em narrar o sumiço de um filho. Para nós, naquele momento, na narrativa dela, ele (Miguel) poderia estar vivo. Então, num primeiro momento, nossa intenção era achar o menino”.

Depoimento da mãe

O interrogatório de Yasmin trouxe detalhes sobre a morte do menino, a relação ruim da madrasta com a criança e o descarte dos vestígios do crime. A mãe chegou a se emocionar ao confessar o crime para o júri. “Nada minimiza a minha dor. Eu fui mãe do Miguel até conhecer a Bruna, depois eu fui só uma genitora. Eu mereço ser condenada”, afirmou Yasmin. "Toda a responsabilidade da morte do meu filho é minha, pois eu deixei ele ficar com a Bruna. Eu sou um monstro”, declarou em outro momento.

Madrasta admite tortura

O interrogatório da ré Bruna Nathiele Porto da Rosa foi o último testemunho na quinta-feira. Bruna afirmou ter relação com a tortura do menino e a ocultação do cadáver. "Ele foi espancado, torturado pela Yasmin. Eu torturei ele psicologicamente. Eu nunca bati nele. Matar, eu não matei. Só, literalmente, fui com ela. Ela colocou o corpo de uma mala e jogou no rio. Eu acompanhei no trajeto”, contou.

Bruna falou ainda que foi contra a ida de Miguel para morar com ela e Yasmin em Porto Alegre, por questões financeiras. “Foi a pior besteira que eu aceitei. Ele já era torturado em Porto Alegre. Qualquer coisa que o Miguel fazia, ele apanhava. O Miguel apanhava até porque respirava”, completou a ex-madrasta.

Vídeos que comprovam crimes contra Miguel

Nesta sexta-feira, a acusação exibiu gravações, feitas pela madrasta do menino. As imagens mostram a criança dentro de um guarda-roupas, enquanto é alvo de intimidações. “Fala direito que tu não é retardado. Eu te desmonto ‘a pau’ e tu vai sair todo quebrado. Isso vai ser bem tranquilo para mim”, diz Bruna na gravação.

Outros vídeos em que as humilhações ao menino persistem também foram exibidos. “Tu se acha o ‘bonzão’, Miguel. A verdade é que tu nunca vai ser”, debocha a madrasta em outra filmagem.



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