“Matar, eu não matei”: ex-madrasta assume ter torturado e ocultado cadáver de Miguel

“Matar, eu não matei”: ex-madrasta assume ter torturado e ocultado cadáver de Miguel

Interrogatório de Bruna Nathiele Porto da Rosa foi o último testemunho da quinta-feira, primeiro dia do julgamento

Rodrigo Thiel

Bruna aceitou receber perguntas do MP

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O interrogatório da ré Bruna Nathiele Porto da Rosa foi o último testemunho realizado nesta quinta-feira, o primeiro dia de julgamento do Caso Miguel. Ela decidiu não responder questionamentos da defesa de Yasmin, mas aceitou ouvir perguntas do Ministério Público do Rio Grande do Sul e do juiz. Bruna afirmou ter relação com a tortura do menino e a ocultação do cadáver. Mais cedo, a mãe admitiu o crime perante o júri.

“Ele foi espancado, foi torturado pela Yasmin. Eu torturei ele psicologicamente. Eu nunca bati nele. Matar, eu não matei. Só, literalmente, fui com ela. Ela colocou o corpo de uma mala e jogou no rio. Eu acompanhei no trajeto”, contou.

Bruna falou ainda que foi contra ida de Miguel para morar com ela e Yasmin em Porto Alegre, por questões financeiras. “Foi a pior besteira que eu aceitei. Ele já era torturado em Porto Alegre. Qualquer coisa que o Miguel fazia, ele apanhava. O Miguel apanhava até porque respirava”, completou a ex-madrasta.

O MPRS questionou o fato do menino não sair para a rua, conforme relatado por uma testemunha. Bruna afirmou que isso ocorreu em função das torturas físicas que Miguel sofria. Perguntada como era a relação da ex-madrasta com o menino, Bruna afirmou que sempre se deu muito bem com ele. “Ela (Yasmin) começou a ficar insuportável. Todo dia a gente brigava, pois eu queria que o menino fosse para a casa da avó para parar de sofrer”, contou.

Bruna afirmou que Miguel fazia as necessidades dentro do armário e que não deixava o menino utilizar o banheiro. “Quando ele apanhava, eu tentava defender e apanhava junto. Ela dizia que não amava mais ele. O Miguel foi torturado desde o início de 2021”, apontou.

Perguntada pelo MPRS sobre qual a responsabilidade de Bruna na morte de Miguel, ela afirmou ter realizado, como ato de tortura, a gravação de um vídeo que seria utilizado para convencer a mãe de Yasmin a assumir a guarda do menino. “Ele era muito tranquilo. Ele não gritava para pedir ajuda. A medicação diferente que ele tomou era minha. Mas ele só tomou nos últimos dias antes de morrer”, seguiu.

Bruna também relatou sobre como foram os últimos dias de vida de Miguel. “Uns dois dias antes, ele começou a gritar dentro do guarda-roupa e já não estava mais comendo. Depois, ela (Yasmin) cortou a comida dele e ele só gritava como se fosse uma criança desesperada. Ela falou para mim que estava fingindo uma convulsão. Ela se revoltou e colocou uma fita isolante em volta da cabeça dele e começou a bater com a cabeça dele na parede”, recordou.

A ré afirma ainda que, quando eles se mudaram para a segunda pousada, sentiu que o Miguel desistiu de viver. “Na noite da morte, ela me chamou para ver o Miguel e ele já estava morto. Eu não tive coragem para colocar na mala e ela colocou o corpo em posição fetal. Eu acompanhei a ida até o rio, não estou tirando a minha culpa. Eu estava junto. No dia seguinte, antes de ir na delegacia, a Yasmin ainda vai no mercado”, pontuou.

Após o relato, o MPRS apresentou troca de mensagens de Bruna com um familiar que mostra seu descontentamento com o menino na relação. A conversa ocorreu no dia 26 de julho de 2021. Miguel foi morto dois dias depois. “Ele está acabando com o nosso relacionamento”, era o conteúdo de uma mensagem. “Eu caí nas ‘pilhas’ dela (Yasmin) quando conversei com minha ex-cunhada. Depois eu percebi que ele não estava fingindo”, replicou a ré em seu interrogatório.

O MPRS ainda mostrou trocas de mensagens de Bruna com Yasmin na manhã seguinte à morte. “Bom dia, o sol já nasceu na fazendinha” era o conteúdo de uma das mensagens que a mãe de Miguel mandou para ela. Questionada pela promotoria se elas estavam feliz naquele dia, por conta do teor da mensagem, Bruna negou e afirmou que sequer respondeu a então companheira.

Bruna ainda relatou que Yasmin decidiu ir mais tarde na delegacia, pois teria mais tempo de pensar em um relato para passar aos policiais. “Ela disse que se eu não fosse junto na delegacia, ela ia afirmar que eu tentei fugir. Ela não combinou nada comigo do que ia falar. Quando eu queria falar o que realmente tinha acontecido, ela não deixava. Mas em nenhum momento eu fui agressiva, por isso ninguém me prendeu. Eu não fugi da minha prisão. Eu estava ciente”, finalizou.

O julgamento do Caso Miguel deve ser encerrado nesta sexta-feira. Depois de um longo dia de depoimentos de testemunhas e interrogatório das duas rés no crime na quinta-feira, a sexta será de debate entre promotores de Justiça e advogados de defesa, que deve durar cerca de 9 horas, além da divulgação da definição dos jurados. Em caso de condenação, o juiz determinará o tempo de pena para ambas.


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