MPF denuncia três pessoas pelos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips

MPF denuncia três pessoas pelos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips

Segundo o Ministério Público, motivação do crime seria o fato de Bruno ter pedido para Dom fotografar o barco dos acusados

R7

Indigenista e jornalista britânico foram assassinados por pescadores na região amazônica

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O Ministério Público Federal denunciou Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira  e Jefferson da Silva Lima por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips

Segundo o MPF, Amarildo e Jefferson confessaram o crime, enquanto Oseney teve a participação comprovada por depoimentos de testemunhas. A denúncia traz ainda prints de conversas que demonstram a cronologia do crime. Além disso, foram apresentados laudos periciais, com a análise dos corpos e dos objetos encontrados pelos investigadores.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, o MPF pede que eles sejam processados e levados a juri popular. O quarto suspeito preso durante as investigações, Rubens Villar, também conhecido como "Colômbia", ainda não teve sua partipação comprovada no crime. Ele está preso pelo uso de documentos falsos e associação criminosa em um esquema de pesca ilegal na região. 

Ainda de acordo com o documento enviado à Justiça, o MPF afirma que já havia registro de desentendimentos entre Bruno e Amarildo por pesca ilegal em território indígena. O que teria motivado os assassinatos seria o fato de Bruno ter pedido para Dom fotografar o barco dos acusados, o que é classificado pelo MPF como motivo fútil e pode agravar a pena.

Bruno foi morto com três tiros, sendo um deles pelas costas, sem qualquer possibilidade de defesa, o que também qualifica o crime. Já Dom foi assassinado apenas por estar com Bruno, de modo a assegurar a impunidade pelo crime anterior.

O MPF designou cinco procuradores para reforçar a atuação no caso tendo em vista a relevância e repercussão internacional, além da necessidade de respostas rápidas para uma região que registra conflitos crescentes.

De acordo com o coordenador e subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, o MPF segue acompanhando o processo e seus desdobramentos, além de outros episódios de violência registrados na região. O local de tríplice fronteira (Brasil, Peru e Colômbia) tem sofrido com o aumento do crime organizado.

O caso

Dom e Bruno desapareceram em 5 de junho, após terem sido vistos pela última vez na comunidade São Rafael, nas proximidades da entrada da Terra Indígena Vale do Javari. Eles viajavam pela região e entrevistavam indígenas e ribeirinhos para produção de reportagens para um livro sobre invasões de áreas indígenas.

O Vale do Javari, a terra indígena com o maior registro de povos isolados do mundo, é pressionado há anos pela atuação intensa de narcotraficantes, pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais que tentam expulsar povos tradicionais da região.

Dom morava em Salvador, na Bahia, e fazia reportagens sobre o Brasil havia 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o jornal britânico The Guardian. Bruno era servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio), mas estava licenciado desde que foi exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019.

Na quarta-feira (15), a Polícia Federal localizou os restos mortais dos dois. A corporação encontrou os cadáveres depois de o pescador Amarildo da Costa confessar os assassinatos e levar policiais até o local onde enterrou os corpos.

Exames realizados pela Polícia Federal no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, constataram que os materiais encontrados eram de Dom e Bruno. A perícia chegou à conclusão após analisar a arcada dentária das duas vítimas.

A perícia da PF informou, ainda, que o jornalista e o indigenista foram mortos com tiros de uma arma de caça. Segundo a corporação, Bruno foi atingido por dois disparos no tórax e no abdômen e outro no rosto. Dom foi vítima de um disparo na região entre o tórax e o abdômen.


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