Operação Bet: facção estaria envolvida em manipulação de jogos de futebol no RS

Operação Bet: facção estaria envolvida em manipulação de jogos de futebol no RS

Polícia Civil cumpriu ordens judiciais em quatro cidades gaúchas, e apreendeu documentos, celulares e computadores

Correio do Povo

Operação Bet ocorreu nesta quarta-feira

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Uma facção também está envolvida no esquema de manipulação de resultados de partidas esportivas em sites de apostas durante competições amadoras e profissionais do Campeonato Gaúcho. A revelação é da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil, que deflagrou na manhã desta quarta-feira a Operação Bet. Está sendo investigado um grupo de empresários, investidores, integrantes de comissão técnica, dirigentes e ex-jogadores com suspeita de associação criminosa.

“Já percebemos uma conexão com o crime organizado estabelecido no Estado”, enfatizou o diretor do Grupamento de Operações Especiais da CORE, delegado Marco Antônio Duarte de Souza. Ele adiantou ainda que o trabalho investigativo será aprofundado em relação a uma possível condição análoga à escravidão, após ter sido verificada uma situação “tão precária” “tão desumana” de alguns atletas.

“Conseguimos também detectar uma ligação e uma conexão de alguns investigados com o jogo do bicho”, observou o delegado Marco Antônio Duarte de Souza. “Essas circunstâncias saem um pouco da mera manipulação”, avaliou. “Em breve, nós teremos outros desdobramentos”, acrescentou.

Responsável pela investigação, o delegado Gabriel Bicca explicou que os suspeitos formaram “uma espécie de um consórcio para se inserirem no contexto de uma entidade futebolística, geralmente um clube pequeno e, a partir dali, manobrar para que seus interesses ilícitos, no sentido de auferir vantagens econômicas em caso de apostas, fosse alcançado”. De acordo com ele, o grupo criminoso assumia a parte técnica do clube e criava investidores.

“Eles sacrificavam a entidade futebolística e o desejo dos jogadores de participar de uma equipe vencedora em nome desse ideal de ganhar dinheiro através da manipulação no resultado em caso de apostas”, ressaltou.

As primeiras informações do esquema surgiram após o que chamou de “uma revolta dentro do vestiário” de um determinado clube. Os suspeitos “não buscavam formar uma equipe vencedora, ganhar um campeonato e ser uma equipe competitiva, mas apenas satisfazer o interesse desse grupo que era obter dinheiro através de site de apostas".

O delegado Gabriel Bicca verificou inclusive uma “fragilidade institucional” dos times de futebol, onde muitos atletas nem eram remunerados e eram colocados em situações precárias até de alimentação e dormitório. “Isso aí fomentava e criava um cenário ideal para que os suspeitos chegassem nesses atletas”, ressaltou, referindo-se à cooptação dos jogadores para o esquema que “acabavam tendo que aceitar para se manterem no clube e participando de uma competição”. Muitos atletas eram até mesmo ameaçados pelo crime organizado.

O diretor da CORE, delegado Bolívar Llantada, considerou que “o ponto mais importante dessa operação é o caráter nefasto e o caráter em detrimento dos direitos humanos” dos atletas, que estavam em situação mais frágil e vulnerável. “Eles se tornaram presas fáceis, indo como gado para o abatedouro. Não restava outra opção para eles se não ceder a essa tentativa de cooptação”, salientou. “O aspecto pior foi a ausência de humanidade com esses atletas”, resumiu.

O presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Luciano Hocsman, defendeu uma frente para manter a lisura e a integridade das competições. “Desde o ano de 2020, nós temos uma parceria com uma empresa que monitora todas as partidas realizadas aqui no Rio Grande do Sul. Depois da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a FGF foi a pioneira a ter essa parceria. Essa empresa nos dá as informações com relação a possibilidade de algum tipo de manipulação nas partidas. Com isso, a gente procurou a Polícia Civil”, declarou. “É muito ruim para o esporte como um todo ter esse tipo de ação nas nossas partidas e nas nossas competições”, lamentou.

Luciano Hocsman fez ainda um alerta para que os clubes, desde as categorias de base até os profissionais, não fiquem vulneráveis a “um tipo de apoio que muitas vezes vai acabar, sem perceber, entrando em uma situação que possa gerar para o clube, para o atleta e para o s dirigente uma situação é desconfortável como essa”. O presidente da FGF adiantou que a investigação vai gerar também em “questões no âmbito desportivo, pois com o resultado será possível começar um processo para penalidades desportivas com fundamento jurídico e probatório mais acentuado”.

Ordens judiciais ocorreram em quatro cidades do RS

Durante a operação Bet, os policiais civis cumpriram 20 ordens judiciais, sendo 11 mandados de busca e apreensão e outros 9 mandados mandados de busca pessoal nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Capão da Canoa e Nova Prata. Documentos, mídias, telefones celulares, computadores, notebooks foram recolhidos.

A ação visa obter elementos de prova contra grupo de empresários, investidores, integrantes de comissão técnica, dirigentes e ex-jogadores com suspeita de associação criminosa para manipulação dos resultados de partidas e para obtenção de vantagens econômicas. O delegado Gabriel Bicca constatou que existe inclusive a suspeita também de envolvimento em competições em outros estados, como Santa Catarina.

A operação Bet contou com a atuação de 25 agentes em seis viaturas. A mobilização teve apoio ainda da DP de Nova Prata, Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Pelotas e do Núcleo de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal.


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