Operação policial investiga expulsão de moradores da vila Maria da Conceição

Agentes da Polícia Civil e policiais militares ocuparam no início da manhã desta sexta-feira a vila Maria da Conceição, em Porto Alegre. O local é tradicionalmente conhecido por ser um reduto do tráfico  onde é comercializada a cocaína com aroma de baunilha chamada Viviane. Um dos objetivos da operação foi apurar a expulsão de moradores da vila. Várias bocas de fumo na região operam como drive-thru nas 24 horas do dia com os usuários comprando entorpecentes sem deixar os veículos. “Eles passam, compram a droga e seguem seu caminho”, afirmou o delegado Thiago Lacerda do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), apontando para centenas de usuários frequentando a região.

A operação Dama da Noite envolveu cerca de 500 policiais civis e militares em mais de 200 viaturas que cumpriram 57 mandados de busca e apreensão e outros 20 mandados de prisão. Um total de 14 traficantes foram detidos. A ação conjunta das duas corporações ocorreu também no Campo da Tuca, vila Resvalo e vila Cruzeiro do Sul, além dos bairros Cascata, Restinga e Glória. Drogas, armas, celulares, veículos, anotações contábeis da venda de entorpecentes e dinheiro foram apreendidos. Na chegada nos locais das ordens judiciais, todos os acessos foram cercados.

Dama da Noite

Vendida na área pelo dobro do preço da tradicional principalmente no turno da noite, a cocaína Viviane possuiu alto grau de pureza, tem coloração amarelada e aroma de essência de baunilha. “A cocaína Viviane é um marketing dos traficantes”, avaliou o diretor de investigações do Denarc, delegado Mário Souza. A rentabilidade é alta até com outras drogas. “Eles obtêm um lucro de 500% no quilo da maconha”, exemplificou.

Disputa pelo poder

Após a prisão em 2010 do líder conhecido por “Paulão” que coordenava o narcotráfico na vila Maria da Conceição, a organização criminosa mantida por ele esfarelou-se com sucessivos gerentes procurando obter o poder na região. Sucessivos conflitos ocorreram desde então com confrontos, emboscadas e execuções.

Atualmente, diante de um impasse sobre o efetivo domínio do tráfico na área, sobretudo após o assassinato do traficante Colete em agosto de 2017, a venda de entorpecentes ficou fragmentada com vários grupos convivendo e atuando dentro de uma frágil trégua muita vezes rompida. Nem as facções criminosas conseguiram o controle absoluto. No entanto, a expulsão dos moradores da vila foi intensificada. “Confirmamos nesta operação uma quantidade considerável de residências que estavam abandonadas e vazias”, observou o delegado Mario Souza. “Não tem praticamente moradores envolvidos. São traficantes que vão para lá se apoderam desses locais”, lembrou.

Destacando ainda a operação conjunta da PC e BM, o delegado Mário Souza disse que a vila Maria da Conceição fica em uma zona geográfica favorável ao narcotráfico e perto de uma área de grande movimentação de pessoas. “Vamos continuar agindo ali quantas vezes foram necessárias”, garantiu. Responsável pelo Comando de Policiamento da Capital da BM, o tenente coronel André Córdova, destacou a importância da parceria, integração e união das duas corporações em prol da sociedade. “Nesta hora somos uma só força. Não existe local onde a BM e a PC não possam entrar no RS”, assegurou.

As investigações conduzidas pela equipe do delegado Thiago Lacerda começaram em 2015 e tiveram apoio do Comando de Policiamento da Capital da BM. No período, inúmeras apreensões e prisões foram realizadas, sendo que mais de 100 quilos de maconha foram recolhidos em uma ocasião. Houve o mapeamento de mais de 12,4 mil sinais telefônicos dos criminosos. “Monitoramos essa região que é conflagrada”, relatou. “Foi um trabalho contínuo sobre as lideranças”, complementou.