Organização criminosa PCC quer monopólio do crime

Organização criminosa PCC quer monopólio do crime

Avanço da facção começa dentro dos presídios

Álvaro Grohmann / Correio do Povo

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Em seus planos de expansão pelo País, a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) planeja no futuro a criação de uma "Federação do Crime". A revelação é do promotor de Justiça do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, Flávio Okamoto, em conferência no 6º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, encerrado nessa quarta-feira na Ufrgs, em Porto Alegre.

O avanço da facção, considerada hegemônica, começa no interior dos presídios, sendo seladas parcerias com grupos criminosos locais. A organização conta com uma estrutura hierarquizada, como se fossem departamentos, denominados Sintonias, que tratam desde finanças até o controle da venda de drogas, principal fonte de recursos, além da assistência e proteção aos filiados.

O PCC, acrescentou Okamoto, está presente em 22 estados, incluindo o Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal, sendo a Sintonia Estado responsável pela coordenação. Atualmente, Minas Gerais registra um forte avanço da facção. "Recentemente foi criada uma Sintonia do RS", alertou Okamoto, oriunda da Sintonia do Paraná. "Entre janeiro e setembro de 2011, por exemplo, ocorreram seis batismos no RS", afirmou. O promotor esclareceu que o batismo é o ingresso de membros efetivos, que pagam mensalidade de R$ 600,00 e são chamados de irmãos. No mesmo período, em todo o país, foram 431 batismos.

A ramificação da organização criminosa se estenderia até o Paraguai e a Bolívia. O promotor suspeita que o objetivo do PCC é formar um cartel do narcotráfico na região da Fronteira, assumindo o controle da produção de drogas, tornando o combate contra a facção mais difícil.

Flávio Okamoto explicou que a criação de uma "Federação do Crime" requer o fim dos conflitos entre grupos criminosos de cada estado, sobretudo ligados ao tráfico. Neste sentido, o PCC adota uma política de pacificação dentro do mundo do crime, visando ao fim das disputas internas.

O promotor estima que a facção atua em 90% do sistema carcerário paulista, que tem 151 casas prisionais. Ele calculou a existência de 6 mil irmãos nos presídios e 2 mil nas ruas em SP. Nos outros estados seriam 5 mil irmãos. Os números, porém, não contabilizam os companheiros, que atuam junto à facção.

Para Okamoto, o combate ao PCC passa por efetiva integração das forças de segurança em nível nacional, maior investimento de pessoal e equipamentos, troca informações e inteligência nas investigações. Outro ponto é separar os membros da facção de outros presos. Observou ainda as tentativas da facção de se infiltrar até no Legislativo paulista.

Facção tem suas regras de conduta

Pesquisas acadêmicas foram mostradas durante a conferência sobre o PCC no 6 Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A professora Camila Dias, da Universidade Federal do ABC, em São Paulo, destacou que a facção trouxe "um ordenamento social dentro do mundo do crime", com o estabelecimento de condutas, valores e disciplinas de seus membros. Segundo ela, a pacificação promovida pela organização resultou até na queda do número de homicídios em SP. A mediação dos conflitos em suas áreas, no entanto, evitando disputas e assassinatos, tem como objetivo afastar a presença policial nos seus territórios. Até brigas de vizinhos são resolvidas por meio da facção.

O pesquisador canadense Graham Denyer ressaltou que as ações nas comunidades trouxeram uma espécie de segurança a seus filiados, dentro e fora dos presídios, bem como a quem mora em suas áreas de domínio.

Para o antropólogo Adalton Marques, da Universidade Federal de São Carlos, após o surgimento do PCC, as guerras entre grupos criminosos em SP ficou no passado. Os reflexos são percebidos até nas festas frequentadas por jovens, que antigamente valorizavam as brigas entre si e agora adotam outro discurso. Esses absorveram o vocabulário da facção, substituindo palavrões e ofensas banais por um novo jargão do crime. "Agora é outro ritmo, dizem eles", assinalou.

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