Polícia Civil apura se "maníaco do ácido" premeditou ataques para assustar a ex-companheira

Polícia Civil apura se "maníaco do ácido" premeditou ataques para assustar a ex-companheira

Empresário, de 48 anos, pretendia convencer a mulher que Porto Alegre era violenta para se mudar para Curitiba

Correio do Povo

Um dos mistérios desvendados foi o HB20, de cor branca, visto em um dos ataques e que foi locado para a prática do crime com outros dois Renault Logan

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A Polícia Civil anunciou na manhã desta segunda-feira a elucidação do caso do “maníaco do ácido” que atacou e feriu cinco vítimas nos dias 19 e 21 de junho deste ano nos bairros Nonoai e Aberta dos Morros, na zona Sul de Porto Alegre. O autor dos ataques, um empresário de 48 anos de idade, dono de duas empresas de turismo, foi preso na operação Arrhenius na última sexta-feira em Curitiba, no Paraná. Houve a apreensão de dois frascos de desodorante contendo ácido, um par de luvas, dois celulares, cinco cartões de chip, um notebook, três livros de autoajuda e uma pochete com ferramentas, entre outros objetos. Além do cumprimento do mandado de prisão preventiva, os agentes executaram três mandados de busca e apreensão, sendo dois em Curitiba e Almirante Tamandaré, no Paraná, e um em Porto Alegre. No momento do interrogatório, o acusado não quis falar e vai manifestar-se somente em juízo apesar ter admitido informalmente a autoria do crime antes aos agentes que o detiveram na capital paranaense. O inquérito já reúne cerca de 600 páginas. O trabalho investigativo foi realizado pela 13ª DP, sob comando do delegado Luciano Coelho, e teve apoio da Divisão de Inteligência Policial e Análise Criminal do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM) e também do Instituto-Geral de Perícias.

A principal suspeita para a motivação dos ataques desferidos é de que o empresário pretendia assustar a ex-companheira mostrando que Porto Alegre era uma cidade violenta. Apesar das vítimas, quatro mulheres e um homem, terem sido escolhidas de modo aleatório, as duas ruas onde ocorreram os ataques, Santa Flora e Francisca Prezzi Bolognese, foram escolhidas por estarem na mesma área onde residem familiares da ex-esposa. “Todos os endereços têm relação com ela”, observou o delegado Luciano Coelho. “Ele queria que ela fosse morar em Curitiba”, resumiu. “Tudo leva a crer que era essa a motivação”, admitiu. O titular da 13ª DP preferiu não dizer como a investigação chegou até a identificação do empresário. “Tínhamos o nome dele há aproximadamente 45 dias. Já sabíamos da autoria e buscamos então as provas materiais. O inquérito fala por si só”, afirmou o delegado Luciano Coelho.

O mistério do HB20, de cor branca, visto em um dos ataques e cuja imagem ficou registrada em uma câmera de monitoramento, também foi esclarecido. Os policiais civis descobriram que o veículo havia sido locado em uma empresa da Capital e trafegou com as placas que o suspeito furtou de um Chevrolet Astra estacionado em Sapucaia do Sul. As ferramentas encontradas na pochete são compatíveis para quebrar o lacre e trocar os parafusos das placas furtadas do Astra. Além disso, o empresário alugou outros dois automóveis, ambos modelo Renault Logan, para cometer os ataques que foram considerados premeditados pelos agentes. Os três carros foram usados no período entre 15 e 25 de junho. Os percursos deles na região foram refeitos com uso de GPS pelos policiais civis. No primeiro ataque do dia 19, por exemplo, o Logan ficou estacionado cerca de 700 metros de distância, sendo que o suspeito utilizou uma bicicleta para aproximar-se da vítima que caminhava na rua Santa Flora.

Com o notebook recolhido no momento da prisão em Curitiba, os agentes querem confirmar agora, junto com o IGP, que a carta arremessada no pátio de uma residência na rua Dona Zulmira, no bairro Cavalhada, na noite de 25 de junho, foi escrita pelo suspeito. No bilhete havia um incitamento e ameaçando para que as pessoas promovessem ataques com ácido e trazia algumas informações que forneceram pistas para a investigação. A equipe da 13ª DP constatou ainda erros de ortografia na carta que são idênticos aos cometidos pelo empresário nas postagens que faz nas redes sociais. A expectativa é de que o texto tenha sido redigido no notebook.

O empresário, que residiu na Zona Sul de Porto Alegre e atualmente estava morando em Curitiba, deve ser indiciado por lesão corporal de natureza gravíssima, dano, furto e adulteração de sinal identificador de veículo. “Há farta produção de provas”, declarou a diretora do DPM, delegada Adriana Regina da Costa, reconhecendo que a locação dos três veículos por parte do suspeito dificultou em um primeiro momento a investigação policial. “Foram três meses de dedicação exclusiva. Foi um trabalho integrado inclusive com outros órgãos”, destacou.


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