Polícia Civil de Santa Catarina já prendeu 17 neonazistas em sete grandes operações

Polícia Civil de Santa Catarina já prendeu 17 neonazistas em sete grandes operações

Investigação apontou que se trata de um problema nacional, com células espalhadas por outros estados, como no Rio Grande do Sul e no Paraná

Correio do Povo

Em novembro do ano passado, um encontro foi interrompido na área rural de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis

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Sete grandes operações, nos últimos meses, resultaram na prisão de 17 pessoas ligadas a movimentos neonazistas pela Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância, da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de Santa Catarina. Segundo o delegado Arthur Lopes, o trabalho investigativo demonstra que se trata de um problema nacional, com células espalhadas por outros estados, como Rio Grande do Sul e Paraná. “Aqui as investigações têm revelado esse problema, tanto que a maioria dos nossos indiciados presos são de fora de Santa Catarina”, observou.

Em novembro do ano passado, o trabalho policial resultou, por exemplo, na prisão de oito criminosos, sendo três gaúchos, três catarinenses, um paranaense e um mineiro, que estavam reunidos na área rural de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis. No local, os agentes também recolheram provas robustas, como revistas, panfletos e outros objetos com símbolos nazistas, que não deixaram dúvidas sobre o envolvimento do grupo com ideais extremistas. Outros dois integrantes deste grupo, também gaúchos, foram detidos posteriormente em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Todos permanecem presos.

O delegado Arthur Lopes contou que o grupo tinha um sistema rigoroso de recrutamento e buscava novos integrantes pela internet. “Eles faziam parte de um braço de um grupo armado de supremacia branca e neonazista fundado nos Estados Unidos”, afirmou.
Outro caso que repercutiu foi a prisão em março deste ano de um jovem extremista, em Porto Belo, que fazia apologia ao nazismo e disseminava ódio contra negros e judeus na internet.

“As investigações revelaram os crimes raciais e de apologia ao nazismo praticado pelo indiciado, bem como a sua inclinação ao extremismo, visto que a todo o momento procurava, consumia e difundia conteúdo de ódio, demonstrando especial interesse por ataques terroristas de lobo solitário”, disse o delegado. No histórico criminal do jovem de 19 anos, constam casos de violência na escola, como a agressão a uma professora com um soco na boca, e inúmeras publicações racistas e antissemitas há vários anos. Ele também não aceitava ter aulas com um professor negro.

“O jovem indiciado é um produto do mais recente modelo de recrutamento de grupos neonazistas”, avaliou. Como muitos adolescentes, ele era viciado em jogos eletrônicos. “O que muitos pais ignoram ou desprezam é que esses jogos eletrônicos permitem conversas em grupo enquanto acontecem. É aí que entram os neonazistas. Eles formam pequenos grupos de hábeis jogadores que, eventualmente, permitem que outro jogador participe de seus jogos. Aqui estamos falando de jogadores muito novos, pré-adolescentes ou adolescentes, sempre meninos”, enfatizou o delegado Arthur Lopes.

O delegado titular da Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância assinalou que não é raro descobrir nos computadores desses rapazes imagens de pedofilia e zoofilia. “Elas são enviadas pelos mentores neonazi para que esses jovens, que já tem uma certa representatividade nas redes sociais, publiquem em seus perfis. Os recrutadores, também não raramente, são pedófilos e por isso a facilidade de conseguir esses vídeos”, explicou.

O delegado Arthur Lopes disse que a prisão do jovem indiciado tem um efeito colateral pedagógico e preventivo. “Hoje ele não é inocente, nem por um segundo. Foram escolhas que ele fez em nome da vaidade, para ser reconhecido como um diligente neonazista”, destacou. O pedagogismo advém de conhecer o caminho dele e impedir que outras crianças sigam essa mesma jornada. “Os recrutadores do jovem indiciado devem estar extremamente satisfeitos com o sucesso do produto que criaram. Devem usar a prisão dele como forma de transformá-lo em herói da causa. O que eles ignoram, é que o caso de sucesso deles, também vai ser a queda da bolha em que eles se encontram”, assegurou.

Ele lembrou que ninguém é anônimo em chats de plataformas como Discord, Telegram e Playstation. “Acham que seus passos não são acompanhados. A repressão às condutas deste jovem indiciado é o começo de uma repressão contra toda uma bolha neonazista. É uma lição que não tem nada de agradável em ser aprendida, mas que precisa ser ensinada. Em toda casa, em toda escola, em todo o Brasil”, concluiu o delegado Arthur Lopes.

“Santa Catarina é o estado que mais combate o movimento neonazista no Brasil. E isso aparece nos números do trabalho realizado pelos nossos profissionais. Somos protagonistas no combate aos movimentos extremistas”, declarou o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel. Na opinião dele, a identificação dos integrantes das células neonazistas não é uma tarefa fácil, pois não existe um perfil comum. “Encontramos extremistas de todas as idades e ocupações, variando a forma como se associam e promulgam essas ideias neonazistas”, ressaltou o delegado Ulisses Gabriel. 


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