"Poucos fomos ouvidos", diz coronel da BM
Especial: 20 anos de motim no Presídio Central
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Entre as lições que ficaram do episódio, Pacheco destaca os erros cometidos pelas autoridades. “Houve cedência nos pedidos em troca de quase nada ou muito pouco, chegando ao extremo de entregar carros, permitindo a fuga”, afirma. Ele ressalva, porém, que a BM e a Polícia Civil tinham posição contrária a essa decisão. “Pouco fomos ouvidos na questão dos aconselhamentos técnicos. Praticamente as sugestões não foram aceitas desde o início das negociações no interior do Presídio Central”, assinala. “Tínhamos três veículos rodando em Porto Alegre, com marginais de histórico de violência lutando pela sobrevivência em razão de uma negociação dentro do Central, que foi mal conduzida, com decisões equivocadas, causando pânico em uma cidade”, avalia.
O coronel aponta ainda outras cedências que não deveriam ter ocorrido, como permitir que Bicudo, Chardozinho, Melara e Linn se juntassem aos amotinados. “Quem tem poder de decisão, não negocia”, analisa. No entanto, o oficial reconhece que, a partir da invasão de Fernandinho e Melara no Plaza, “tivemos liberdade para atuar tecnicamente”.
Pacheco acredita que a partir do episódio ocorreram modificações de conduta do Estado como um todo. De acordo com ele, as autoridades políticas passaram a admitir que ocorrências policiais são com a Polícia. “Foi o último e o mais violento motim do RS”, ressalta. Pacheco lança um livro sobre o assunto nesta segunda-feira
Uma vida de assaltos e confontos
Natural de São José do Ouro, Dilonei Francisco Melara deixou a vida de agricultor para virar um dos criminosos mais ousados da história do Rio Grande do Sul. Na década de 1970, mudou-se para Caxias do Sul, onde começou a assaltar táxis e ônibus. Mas foi com uma quadrilha de ataques a bancos que ganhou fama, foi preso e participou de fugas cinematográficas. Comandou a facção Falange Gaúcha, a qual passou, mais tarde, a se chamar Os Manos. Condenado a 70 anos de prisão por latrocínios, roubo, motim, cárcere privado e invasão, Melara progrediu para o semiaberto por decisão judicial e fugiu, aparecendo morto com 15 tiros, aos 46 anos, em Dois Irmãos, em 2005.
A família faz questão de esquecer tudo o que aconteceu. “Gostaríamos que nem falassem mais nele. Tem milhões na situação em que ele estava. Se as pessoas fossem ver as cadeias. Ele foi uma pessoa que sempre falou que errou”, desabafa uma das irmãs.
* Textos de Álvaro Grohmann e Karina Reif