"Poucos fomos ouvidos", diz coronel da BM

"Poucos fomos ouvidos", diz coronel da BM

Especial: 20 anos de motim no Presídio Central

Correio do Povo

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Principal negociador da Brigada Militar em 1994, o coronel da reserva Rodolfo Pacheco, na época, comandava a Companhia de Operações Especiais do Batalhão de Choque (atualmente 1º Batalhão de Operações Especiais), tendo assumido a função de negociador em 1993. “A notícia veio para o Batalhão de Choque de uma rebelião no Presídio Central na quinta-feira às 15h30min”, diz. “Desloquei junto com todo o efetivo, onde ficamos até as 21h de sexta-feira, quando as autoridades resolveram liberar para a fuga dez amotinados com nove reféns”, conta. Depois, o oficial foi com o Grupo de Ações Táticas Especiais da BM para o Hotel Plaza São Rafael, que havia sido invadido por Melara e Linn.

Entre as lições que ficaram do episódio, Pacheco destaca os erros cometidos pelas autoridades. “Houve cedência nos pedidos em troca de quase nada ou muito pouco, chegando ao extremo de entregar carros, permitindo a fuga”, afirma. Ele ressalva, porém, que a BM e a Polícia Civil tinham posição contrária a essa decisão. “Pouco fomos ouvidos na questão dos aconselhamentos técnicos. Praticamente as sugestões não foram aceitas desde o início das negociações no interior do Presídio Central”, assinala. “Tínhamos três veículos rodando em Porto Alegre, com marginais de histórico de violência lutando pela sobrevivência em razão de uma negociação dentro do Central, que foi mal conduzida, com decisões equivocadas, causando pânico em uma cidade”, avalia.

O coronel aponta ainda outras cedências que não deveriam ter ocorrido, como permitir que Bicudo, Chardozinho, Melara e Linn se juntassem aos amotinados. “Quem tem poder de decisão, não negocia”, analisa. No entanto, o oficial reconhece que, a partir da invasão de Fernandinho e Melara no Plaza, “tivemos liberdade para atuar tecnicamente”.

Pacheco acredita que a partir do episódio ocorreram modificações de conduta do Estado como um todo. De acordo com ele, as autoridades políticas passaram a admitir que ocorrências policiais são com a Polícia. “Foi o último e o mais violento motim do RS”, ressalta. Pacheco lança um livro sobre o assunto nesta segunda-feira no QG da BM.


Uma vida de assaltos e confontos

Natural de São José do Ouro, Dilonei Francisco Melara deixou a vida de agricultor para virar um dos criminosos mais ousados da história do Rio Grande do Sul. Na década de 1970, mudou-se para Caxias do Sul, onde começou a assaltar táxis e ônibus. Mas foi com uma quadrilha de ataques a bancos que ganhou fama, foi preso e participou de fugas cinematográficas. Comandou a facção Falange Gaúcha, a qual passou, mais tarde, a se chamar Os Manos. Condenado a 70 anos de prisão por latrocínios, roubo, motim, cárcere privado e invasão, Melara progrediu para o semiaberto por decisão judicial e fugiu, aparecendo morto com 15 tiros, aos 46 anos, em Dois Irmãos, em 2005.

A família faz questão de esquecer tudo o que aconteceu. “Gostaríamos que nem falassem mais nele. Tem milhões na situação em que ele estava. Se as pessoas fossem ver as cadeias. Ele foi uma pessoa que sempre falou que errou”, desabafa uma das irmãs.


 * Textos de Álvaro Grohmann e Karina Reif

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