PRF cria manual de abordagem "serena" para pessoa em crise

PRF cria manual de abordagem "serena" para pessoa em crise

Recomendações de aproximação surgem após morte de homem trancado em porta-malas de viatura no Sergipe

AE

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A Polícia Rodoviária Federal (PRF) editou orientações internas para abordagem de pessoas em crise de saúde mental. O documento, criado após Genivaldo de Jesus Santos ser morto dentro do porta-malas de uma viatura, em Sergipe, recomenda que a aproximação seja "serena" e que a contenção física de alguém em surto seja encarada como exceção, um "último recurso".

"Os policiais rodoviários federais devem estar cientes de que a aplicação ou uso de restrições físicas pode agravar qualquer agressão que esteja sendo exibida pelo indivíduo em crise", diz a orientação, assinada em 14 de junho pelo diretor de operações da PRF, Djairlon Henrique Moura. No dia 25 de maio, policiais imobilizaram Genivaldo, em Umbaúba, no sul de Sergipe, o colocaram no porta-malas de uma viatura e lançaram gás lacrimogêneo dentro do carro. O laudo da morte apontou asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda. A vítima tinha diagnóstico de esquizofrenia e não estava armada. Genivaldo deixou mulher e um filho de 7 anos.

Na época, ao comentar o caso, durante entrevista à Rádio Eldorado, o tenente-coronel aposentado da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Adilson Paes de Souza, afirmou que a morte de Genivaldo seguia lógica de atuação das forças de segurança, orientadas pelo combate ao "inimigo". "Eu não falo em operação policial, falo em ato de extermínio", disse o mestre em Direitos Humanos e doutor em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP.

O novo manual da PRF destaca que o diagnóstico de doenças psíquicas é complexo mesmo para profissionais da saúde. Contudo, salienta que os policiais devem ser "capazes de reconhecer pessoas com perturbação mental, especialmente àquelas potencialmente violentas e/ou perigosas". O documento foi apresentado em resposta a pedido de informações feito pelo deputado Alexandre Padilha (PT-SP).

A diretoria da PRF também orienta que os policiais acionem o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) ou o Corpo de Bombeiros para auxiliar na abordagem de pessoas em crise de saúde mental. O documento pede ainda para que os policiais criem "empatia", evitem "agitar o indivíduo" e "sejam sinceros" nos diálogos com os abordados. Além disso, será necessário avaliar a "trajetória pessoal" de cada um para detectar se a pessoa em crise representa perigo potencial.


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