Rede de mercados suspeita de vender produtos roubados por facção é alvo de operação em Porto Alegre

Rede de mercados suspeita de vender produtos roubados por facção é alvo de operação em Porto Alegre

Operação Black Market mira 21 suspeitos de lavagem de dinheiro, receptação de cargas roubadas e estelionato

Marcel Horowitz

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Um esquema onde comerciantes adquiriam cargas roubadas por uma facção é o alvo da Operação Black Market, deflagrada pela Polícia Civil, nesta quinta-feira, em Porto Alegre. Ao todo, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) cumprem 22 mandados de busca e apreensão, 21 bloqueios de contas bancárias, 16 sequestros de veículos e nove, de imóveis. As diligências, além da Capital, também ocorrem em Viamão, Canoas, Capão da Canoa e no município catarinense de Itapema. Segundo a corporação, os valores dos bens, móveis e imóveis, bloqueados chega a quase R$ 5 milhões.

De acordo com o delegado Cassiano Cabral, diretor da Divisão de Combate à Corrupção do Deic,  o grupo investigado é composto por 21 pessoas, todas ligadas ao quadro societário de uma rede de mercados da Capital. Ainda conforme o policial, os suspeitos teriam envolvimento em crimes de lavagem de dinheiro, furto e receptação de cargas roubadas e estelionato, esse último delito praticado contra fornecedores de produtos.

Também segundo o delegado, empresas foram criadas ou estruturadas para aplicar fraudes, sobretudo em prejuízo de fornecedores de produtos comercializados no varejo. Esses empreendimentos, explica ele, eram abertos com o uso de documentos falsos e em nomes de laranjas. O lucro obtido pelo grupo através de estelionatos, apontam as investigações, ultrapassa R$ 3,4 milhões. 
 
"Tais empresas, geralmente eram registradas ou adquiridas através de documentos falsos, sendo que muitas vezes os investigados também usavam laranjas, que normalmente eram pessoas humildes. Em contrapartida, elas recebiam alguma vantagem econômica", explica Cabral. "Esses laranja' passavam a integrar o quadro da empresa e, logo após a realização dos crimes, assumiam a responsabilidade civil e criminal pelas dívidas, além das consequências jurídicas dos danos causados aos fornecedores."

As investigações revelaram ainda que, em um primeiro momento, os suspeitos compravam uma determinada quantidade de produtos, que eram pagos. No entanto, essa era apenas uma maneira de conquistarem a confiança dos fornecedores e, assim, ganharem créditos.

Uma vez que essa suposta credibilidade era solidificada, em uma segunda etapa, os criminosos faziam um pedido maior e, então, o golpe era colocado em prática. "A intenção dos criminosos, desde o momento da compra dos produtos, era a de não pagar. O dolo, portanto, está presente desde o início da negociação. Em essência, tratam-se de estelionatários que faturam ilicitamente na comercialização desses produtos, que eram obtidos em prejuízo dos fornecedores", destaca o delegado.
 
Além das práticas de estelionato, foi descoberto também que produtos furtados ou roubados eram receptados e vendidos pela rede de mercados investigada. De acordo com o apurado pela Polícia Civil, essas mercadorias eram compostas, principalmente, por bebidas e cigarros.

Cabral relata que as pessoas que forneciam esses produtos aos investigados são integrantes de uma quadrilha especializada em roubo de cargas, que seria ligada a uma facção. O delegado conta que um dos assaltantes foi preso em flagrante, durante outra ação, no momento em que ele descarregava as mercadorias de um caminhão.

A partir dessa prisão, os investigadores pretendem identificar qual é a organização criminosa que está envolvida no esquema, além de localizar os outros integrantes da quadrilha. "Por fim, as suspeitas são de que o lucro ilícito era investido na compra de bens, que eram registrados em nome de terceiros ou mesclando capital com o faturamento dos próprios mercados. Isso fazia com que o saldo total dos valores, inseridos nas contas bancárias dos investigados, aparentasse ser fruto da receita legítima da rede de mercados", disse Cabral, adicionando que os valores obtidos pelo grupo com a venda das mercadorias roubadas ultrapassa R$ 1,5 milhão. 

Até o momento, as diligências da Operação Black Market resultaram na prisão de um homem, por posse ilegal de arma de fogo, e na apreensão de R$ 20 mil em dinheiro. Também foram apreendidos 12 veículos de luxo, incluindo uma Range Rover SUV e um BMW 320. 


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